Por Ana Ionova e Marcelo Teixeira
LONDRES/SÃO PAULO (Reuters) - A comercialização de café arábica no Brasil diminuiu consideravelmente, com os estoques atingindo níveis mínimos no pico da entressafra e os comerciantes ainda lidando com os entraves no transporte após os protestos de caminhoneiros em todo o país.
O ritmo reduzido da comercialização diminuiu a já escassa oferta de arábica do maior produtor de café do mundo em outros mercados, também efeito de uma safra passada que foi 20 por cento menor que a anterior.
Enquanto uma safra recorde é esperada para este ano, há lentidão na chegada de café ao mercado em meio a atrasos na colheita. A greve dos caminhoneiros aprofundou as preocupações sobre a disponibilidade de café brasileiro no mercado global, uma vez que reduziu as exportações de café em maio em cerca de 900 mil sacas.
"No momento, há apenas negócios limitados", disse um operador do mercado de café na Europa. "Não estamos vendo os volumes normais negociados."
O fluxo reduzido no Brasil não evitou a venda persistente de investidores nos futuros do café em Nova York, possivelmente devido ao esperado superávit de oferta projetado para 2018/19. Mas os produtores no Brasil ainda podem fazer lucro devido à forte desvalorização do real frente ao dólar.
"Se isso continuar, aumentará os preços (em termos locais) até o ponto em que o agricultor será incentivado a vender mais", disse Steve Wateridge, sócio-gerente da Tropical Research Services.
Um real brasileiro mais fraco melhora os retornos em moeda local sobre commodities negociadas em dólar, como o café. O recente enfraquecimento da moeda já melhorou a receita em reais nas vendas feitas pelos produtores em cerca de 10 por cento, segundo a cooperativa de café Coocapec, na região cafeeira da Mogiana, em São Paulo.
Existem vozes discordantes no mercado em relação ao nível de estoques no Brasil e ideias de que alguns produtores estariam segurando as vendas mesmo em um momento de fim de safra e às vésperas da entrada de uma grande produção.
No Brasil, onde grande parte da produção de café acontece em grandes propriedades, os produtores muitas vezes têm acesso a instalações de armazenamento e não precisam vender imediatamente no mercado, disse Ricardo Santos, diretor-gerente da Riccoffee.
"As grandes propriedades não estão sob pressão alguma --elas têm acesso a alternativas de financiamento", disse Santos.
"O Brasil é a única origem em que os grandes agricultores têm uma força financeira muito forte e a infraestrutura está lá para manter o café", disse Carlos Mera, analista sênior de commodities do Rabobank.
Lúcio Dias, superintendente comercial da Cooxupé, a maior cooperativa de café do mundo e o maior exportador de arábica do Brasil, discorda.
"Basicamente não há café sobrando (da safra antiga). Os agricultores venderam tudo o que tinham", disse ele.
Dias comentou que a Cooxupé atrasou os embarques de 60 mil sacas devido à greve dos caminhoneiros. Ele estima que a cooperativa levará 20 dias para normalizar os despachos.
Jandir Castro Filho, gerente comercial da Coocapec, destacou que a colheita foi adiada por cerca de 15 dias na região da Mogiana, uma vez que os agricultores não conseguiram preparar máquinas e comprar combustível sob impacto da greve. Chuvas recentes também adiaram os trabalhos.
Ele disse que alguns importadores podem precisar comprar café de outras origens devido a atrasos e redução do fluxo de arábica vindo do Brasil.
"Perdemos nosso navio devido à greve. Estou tentando encontrar outro navio para carregar um container que temos pronto aqui", disse ele.
"É uma situação de estoque apertado", disse uma fonte da indústria europeia. "Se o café está preso na cadeia de fornecimento, você pode acabar em uma situação em que os torrefadores precisam encontrar alternativas."