Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O governo do Estado de São Paulo afirmou nesta quarta-feira que recebeu somente a metade do lote previsto de vacinas da Pfizer (NYSE:PFE) contra a Covid-19 do Programa Nacional de Imunização (PNI) e cobrou que o Ministério da Saúde encaminhe ao Estado imediatamente as 228 mil doses que afirma faltarem na remessa destinada a São Paulo.
Em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, o governador João Doria (PSDB) classificou de "maldade" a redução no envio de doses ao Estado e disse que ela pode afetar os planos de iniciar a vacinação de adolescentes em 18 de agosto, já que a vacina que será utilizada para este grupo é a da Pfizer.
"A decisão, que como governador qualifico de uma decisão arbitrária do Ministério da Saúde, representa a quebra do pacto federativo, e o governo federal, mantida essa decisão, decidiu punir quem fez o certo, quem foi eficiente na vacinação", disse Doria, acrescentando que o governo paulista enviou ofício ao ministério nesta manhã cobrando o envio das doses.
"Com menos vacinas para São Paulo, vacinas da Pfizer, o Ministério da Saúde compromete o calendário de vacinação de crianças e adolescentes no Estado de São Paulo, previsto para começar no dia 18 de agosto."
Autoridades de saúde do Estado afirmaram que foram surpreendidas com a redução no envio de doses nesta madrugada e que não havia sido dada até o momento nenhuma explicação por parte do ministério.
Mais tarde, em entrevista coletiva concedida em resposta às declarações do governo paulista, autoridades do Ministério da Saúde afirmaram que o corte de doses foi uma "compensação" por retiradas a mais de vacinas do Butantan realizadas por São Paulo.
"Como o Butantan é em São Paulo, eles podem fazer a retirada direta da Coronavac. São Paulo deveria receber 620 mil doses, mas retiraram 678 mil. Em outra pauta, foram retiradas 271 mil doses, mas deveriam receber 178 mil", disse a secretária extraordinária de enfrentamento à Covid-19 da pasta, Rosana Leite de Melo.
"Fizemos agora uma compensação."
O secretário-executivo do ministério, Rodrigo Cruz, acrescentou que São Paulo já estava ciente do movimento da pasta --que, segundo ele, busca diminuir a disparidade da vacinação em Estados e municípios sem que qualquer ente seja prejudicado.
Na sequência, o governo de São Paulo publicou nota afirmando que a fala de Melo sobre uma compensação é "mentirosa", negando ter retirado mais doses do que o previsto de Coronavac.
"Com esta decisão arbitrária, o Ministério da Saúde quebra o pacto federativo e coloca em risco a vida de milhares de cidadãos brasileiros que vivem em São Paulo", disse o governo paulista.
O movimento representa mais um embate entre os governos estadual e federal. Doria é inimigo político do presidente Jair Bolsonaro, com quem constantemente trava bate-bocas públicos e também é um dos principais críticos à gestão federal na pandemia.
Além disso, é pré-candidato à Presidência na eleição do ano que vem, quando Bolsonaro deverá buscar a reeleição.
O governador paulista, principal incentivador do acordo entre o Instituto Butantan, vinculado ao governo de São Paulo, e o laboratório chinês Sinovac (NASDAQ:SVA), que permitiu o início da vacinação contra Covid-19 no Brasil em janeiro deste ano com a vacina CoronaVac, tem no tema da vacina sua principal bandeira para a disputa de 2022.
O Butantan entregou até o momento 64,8 milhões de doses da CoronaVac ao PNI e promete totalizar até o final deste mês 100 milhões de doses do imunizante entregues ao ministério.
"O governo federal já fez maldades demais com o Brasil, com os brasileiros, e agora quer direcionar uma dose adicional de maldade a São Paulo. Espero que isso não se sustente e que o ministro da Saúde reveja imediatamente essa sua posição, ou a posição do seu ministério, e delibere a entrega imediata das 228 mil outras doses da vacina da Pfizer que não foram entregues a São Paulo", disse Doria.