Por Alexandre Caverni
SÃO PAULO (Reuters) - Presidente mais popular da história do Brasil quando deixou seu governo, Luiz Inácio Lula da Silva se torna ministro da presidente Dilma Rousseff, que ajudou a eleger duas vezes, sob uma avalanche de denúncias e com a imagem abalada como ninguém poderia imaginar há apenas cinco anos.
Com a difícil tarefa de ajudar a resgatar o governo em meio à batalha do impeachment e de uma das recessões mais graves do país, Lula terá que usar toda sua conhecida capacidade política para tentar mudar um destino que alguns já consideram selado.
Isso tudo tendo que responder o tempo todo que não entrou no governo apenas para garantir foro privilegiado e evitar a prisão por conta das investigações da operação Lava Jato e do Ministério Público do Estado de São Paulo.
A situação é muito diferente de quando passou a faixa presidencial para Dilma em 1º de janeiro de 2011.
Os dois mandatos de Lula como presidente, entre 2003 e 2010, coincidiram com um período prolongado de crescimento econômico, beneficiado pelo cenário externo favorável, em que 30 milhões de brasileiros subiram à classe média.
O Brasil elevou seu status, deixando de ser apenas um vasto país subdesenvolvido para se afirmar como uma proeminente potência regional, ímã de investidores estrangeiros.
Além de engrossar uma base eleitoral que o acompanhou desde a primeira tentativa de chegar à Presidência da República, em 1989, o progresso econômico permitiu a Lula resistir a uma série de escândalos de corrupção durante sua Presidência, o maior deles o esquema de compra de apoio parlamentar conhecido como mensalão, que ameaçou encurtar seu primeiro mandato.
Como político, Lula foi celebrado por sua habilidade incomum de mobilizar e conciliar adversários políticos díspares. Como líder, ele foi respeitado por atuar como estadista nos mais altos níveis de governo ao mesmo tempo em que mantinha uma conexão especial e proposital com os brasileiros mais pobres.
A aptidão para a negociação que apurou nos anos 1970 como líder sindical era a mesma que utilizava como presidente, costumava dizer Lula.
Favorecendo o diálogo sobre o confronto --com sua voz grave e rouca sendo compensada pelo abundante carisma--, ele persuadiu reiteradamente opositores políticos, importantes empresários, líderes estrangeiros e um eleitorado que havia negado a ele três vezes a Presidência antes de se eleger pela primeira vez em 2002.
Mas a operação Lava Jato, que investiga um bilionário esquema de corrupção, acabou abalando a imagem de Lula, o que se acentuou ainda mais depois de se tornar alvo da 24ª fase da operação e de denúncia do Ministério Público do Estado de São Paulo sobre dois imóveis, um tríplex no Guarujá e um sítio em Atibaia.
Os investigadores suspeitam de ocultação de patrimônio e de ligação com esquema de propinas, já que empreiteiras investigadas na Lava Jato estão ligadas de algum modo aos dois imóveis. No caso do tríplex, por sua construção, no caso do sítio, por obras realizadas nele. Lula nega as acusações.
O Ministério Público paulista pediu ainda a prisão preventiva do ex-presidente, um temor que já existia entre seus apoiadores com relação às investigações da Lava Jato, do juiz Sérgio Moro, em Curitiba. A juíza responsável por analisar esse pedido de prisão passou o caso para a jurisdição de Moro.
Além dessas denúncias, Lula foi o principal alvo das acusações do senador Delcídio do Amaral (MS), que se desfiliou do PT, em sua delação premiada na Lava Jato. Entre outros pontos, Delcídio acusa o ex-presidente de ter agido diretamente para comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras (SA:PETR4) Nestor Cerveró, na Lava Jato, e do publicitário Marcos Valério, no caso do mensalão.
Lula terá que usar toda a experiência adquirida em sua carreira sindical e política para buscar sobreviver a esse cenário e poder tentar alçar outros voos, como ser candidato a presidente pela sexta vez em 2018, como tem falado.