Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Decepcionados com a performance de José Serra à frente do Itamaraty, diplomatas brasileiros viram com alguma desconfiança a nomeação de Aloysio Nunes Ferreira como novo chanceler, mas admitem que, entre as opções aventadas, o nome do senador era o menos ruim, disseram à Reuters fontes diplomáticas.
Com um dos menores orçamentos da Esplanada e enormes dificuldades de encontrar um espaço político nos governos de Dilma Rousseff, o Itamaraty viu a nomeação de um político para comandar o ministério como uma chance de voltar a ter importância na Esplanada dos Ministérios. No entanto, o resultado dos nove meses de José Serra no Itamaraty foi, de acordo com uma das fontes, "decepcionante".
A avaliação é que o senador desistiu do Itamaraty com pouco mais de dois meses no cargo. "Serra prometeu muito e não entregou nada. Então o pessoal está com pé atrás. 'Será que Aloysio vai ser diferente?' é o que mais se ouve", disse uma das fontes.
Ainda assim, as expectativas são boas, diz outra fonte, considerando as opções que estavam sendo aventadas. Apesar de ser diplomata de carreira aposentado, Sérgio Amaral, hoje embaixador do Brasil em Washington, não era bem visto como uma alternativa.
O nome de Amaral foi um dos apresentados pelo PSDB para substituir Serra, mas a preferência era por Aloysio --o embaixador seria uma alternativa caso o senador, que a princípio resistiu, não aceitasse o cargo.
Para uma boa parte dos diplomatas, Amaral seria a pior escolha, já que nos poucos meses desde o início do governo o embaixador se indispôs com muita gente no ministério.
Ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores, autor da nova Lei de Migração que tramita no Congresso, Aloysio é visto como mais dinâmico e mais interessado em política externa, o que pode tirar o Itamaraty do marasmo recente.
De acordo com uma das fontes, áreas inteiras do Itamaraty estavam paradas, sem orientação, por falta de interesse do ex-chanceler.
Além disso, segundo um diplomata de alto escalão, Serra deixa o ministério com problemas criados com uma parte considerável dos vizinhos sul-americanos --em especial Bolívia, Equador e Uruguai, sem contar a Venezuela, considerada quase um caso perdido.
Caberá ao novo chanceler tentar aparar arestas e recuperar a liderança do Brasil na região.
A tarefa, no entanto, pode não ser simples. Aloysio Nunes é famoso por não medir palavras, especialmente aos vizinhos considerados bolivarianos. Já fez duras críticas à Venezuela e chegou a chamar o novo presidente norte-americano, Donald Trump, de "o que há de pior entre os republicanos".