Balanço de risco do Copom é assimétrico, de alta; fatores de baixa não são dovish

Publicado 03.02.2025, 23:26
© Reuters

Investing.com - O Banco Central do Brasil divulga nesta terça-feira de manhã a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou, na última quarta (29), em 1 ponto percentual a taxa básica de juros da economia brasileira, de 12,25% para 13,25%. Apesar de ter mantido a orientação de mais uma alta de 100 pontos-base na taxa Selic para a reunião de março, conforme havia indicado o colegiado no encontro de dezembro, o teor do comunicado sofreu algumas críticas dos economistas.

Um dos pontos citados negativamente foi a mudança dos dois fatores de risco para baixo da inflação futura no balanço de risco. Houve a substituição de:

  1. “uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada” para "impactos sobre o cenário de inflação de uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada"; e
  2. "os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado" para “um cenário menos inflacionário para economias emergentes decorrente de choques sobre o comércio internacional e sobre as condições financeiras globais.”

“Começou-se a cogitar que talvez esses riscos revelassem uma intenção mais dovish do Banco Central”, aponta Adriana Dupita, vice economista-chefe da Bloomberg para mercados emergentes em entrevista ao Investing.com realizada na última sexta-feira (31). “Eu não compro essa interpretação, pois acho que os riscos que foram apontados fazem perfeito sentido”, completa Dupita, que classifica a última decisão do Copom como “sem surpresa” em relação a:

  • Magnitude da alta;
  • Manutenção da orientação futura de alta de 1 ponto percentual da taxa Selic na reunião de março;
  • Ausência de orientação futura para maio;
  • Decisão ter sido unânime.

A economista apresenta uma interpretação em relação à classificação de dovish (brando com a inflação) de alguns agentes do mercado. “Não foi dovish em termos absolutos, mas é mais dovish do que o mercado esperava”, avalia.

Tarifas de Trump: inflacionárias ou desinflacionárias?

Apesar de a maioria dos bancos centrais e economistas do mundo projetam que as tarifas a serem impostas pelo novo governo do presidente Donald Trump nos EUA sejam inflacionárias, o Copom adotou uma postura de espera no comunicado da última decisão da taxa de juros, com uma perspectiva de que não há sinais claros da direção inflacionária ou desinflacionária do nível de preços globais, especialmente entre países emergentes, com a nova política comercial dos EUA sob Trump.

Dupita relembra a estratégia de Trump, a imprevisibilidade, para justificar a cautela do Copom em relação ao risco desinflacionário da política comercial, econômica e geopolítica do republicano. “Seria muito prematuro amarrar a política monetária em relação ao que está vendo agora e, por isso, é preciso observar”, afirma, apontando que a realidade pode se tornar pior em relação à atual expectativa, como também pode não ter implicações sobre o crescimento econômico e a precificação dos ativos financeiros.

O vai-e-vem da adoção de tarifas de 25% sobre as importações de mercadorias mexicanas e canadenses nos últimos dias corrobora esse cenário de imprevisibilidade. Se de sexta-feira, quando as tarifas foram anunciadas, até a segunda-feira de manhã, choveu análises das consequências das tarifas sobre a inflação americana, até que Trump fez um recuo tático e suspendeu a adoção da medida por 30 dias para negociar com os governos do México e do Canadá questões relacionadas ao tráfico de drogas e imigração ilegal.

Mas, vale lembrar que a promessa de tarifas de 10% sobre produtos importados da China está ainda mantida durante a escrita do texto, sem sinal de recuo do governo americano. Além das ameaças de adoção tarifária contra produtos importados da União Europeia.

Novo Copom e forward guidance

A mudança de comando do Bacen, com Gabriel Galípolo substituindo Roberto Campos Neto na presidência da autoridade monetária, além da entrada de três novos diretores indicados pelo atual governo, não alterou, segundo a avaliação de Dupita, a postura do Copom em relação à condução da política monetária e o combate à inflação.

“Se realizar uma leitura técnica do comunicado, é um Copom que fala que sabe que vai ter que subir juros, que está disposto a subir juros, que não está arrumando desculpas para não subir juros, só que vai ver um dia de cada vez”, diz Dupita, apontando que a projeção de inflação no horizonte relevante é de 4% para o terceiro trimestre de 2026, um ponto percentual acima do centro da meta. A economista da Bloomberg também avalia que os membros do Copom reconhecem que os riscos são assimétricos para cima, ou seja, a pressão é maior para uma inflação mais alta no futuro.

A economista aponta que o cenário de dezembro mudou em relação ao atual para apresentar uma orientação de duas altas das taxas de juros nas duas reuniões seguintes. “É diferente de dezembro, quando o Banco Central já sabia que a taxa terminal da Selic teria que ser de pelo menos os 14,25%, logo não teria havido perdas em sinalizar que a taxa final chegaria nesse ponto. Se o Copom fosse dar na reunião de janeiro um forward guidance para maio, já teria que sinalizar para onde o colegiado está vendo a taxa terminal”, avalia Dupita, relembrando que uma sinalização para a reunião de maio teria um duplo risco que seria manifestado na curva de juros. “Se ele sinalizasse menos do que 100 pontos-base de alta, poderia gerar uma interpretação de perda de credibilidade do colegiado; se sinalizasse outro aumento de 100 pontos-base, poderia mexer com a curva [de juros] inteira. Era um perde-perde nessa altura do campeonato”, completa.

A projeção da Bloomberg é de que a taxa terminal do atual ciclo de alta da Selic fique em 14,75%, com viés de alta. Isso significa que, além da alta de 1 ponto percentual em março, teria ao menos uma alta terminal de meio ponto. “Acho que a projeção dos analistas e a minha estão sujeitas a mudanças conforme aprendermos mais sobre o que está acontecendo com a atividade econômica, a direção do governo Trump, como o governo Lula responde em termos de política fiscal e conforme os dados vão saindo”, projeta Dupita.

Durante a semana, o Investing.com traz aos seus leitores e assinantes as visões e avaliações da vice economista-chefe da Bloomberg para mercados emergentes em relação à política fiscal, taxa de câmbio, inflação, mercado de trabalho e atividade econômica.

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