MDNE3: Moura Dubeux bate consenso de receita e lucro no 2T25; rali continua?
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta segunda-feira, 19, que não está na agenda da autoridade monetária a discussão sobre uma eventual redução na taxa básica de juros (Selic) neste momento. Ao contrário, a percepção do BC é de que os juros devem permanecer em patamar elevado - a Selic está em 14,75% - por muito mais tempo.
"A gente não está perto dessa discussão, isso não é um tema que está passando nos debates do Comitê de Política Monetária (Copom)", disse Galípolo, em evento do Goldman Sachs (NYSE:GS), em São Paulo. "A gente realmente precisa permanecer com uma taxa de juros em patamar bastante restritivo por um período bastante prolongado." As declarações ajudaram a impulsionar os negócios ontem na Bolsa.
Galípolo sustentou que, nos últimos anos, a economia se manteve dinâmica mesmo com os juros elevados. Segundo ele, as expectativas desancoradas são um outro fator que demanda juros altos por mais tempo, reforçando que o Copom não pretende relaxar o seu compromisso com a meta.
Ainda na sua exposição, Galípolo disse que o BC tem olhado um conjunto de dados, e não um indicador pontual, para reunir confiança de que inflação tende a convergir para a meta. "A gente não devia nem se emocionar com um Caged (indicador de emprego formal) muito mais fraco, nem com um dado da indústria específico um pouco mais forte: temos de reunir dados para confirmar uma tendência."
Em entrevista em Brasília, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse que a política monetária mais restritiva já teria provocado efeitos sobre os chamados "setores cíclicos" da economia. "Acreditamos que a política monetária tem efeitos sobre a atividade e já há um arrefecimento no nível de crescimento dos setores cíclicos, aqueles que são mais impactados pela política monetária, em particular o ciclo de crédito."
Ontem, a equipe econômica anunciou nova estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2025, que passou de 4,9% para 5% - acima do teto da meta, de 4,5%.
Sem sinalização
Evitando sinalizar ações que vão além de manter os juros restritivos pelo tempo que for necessário, Galípolo afirmou que, "para a tristeza de quem esperava algum tipo de indicação", o momento é de apontar como o BC vai reagir, e não o que vai fazer nas decisões sobre juros. "Acho que o momento de incerteza demanda muito mais uma postura nesse sentido, para a gente explicar qual é a nossa função de reação e menos dizer o que nós vamos fazer."
Com relação a possíveis choques decorrentes da política comercial dos Estados Unidos, Galípolo citou a atividade global, as commodities e o câmbio entre os principais fatores que podem afetar a economia brasileira. Ele ressaltou que o BC está e seguirá atento ao cenário inflacionário.
Em sua avaliação, o aumento de 4,25 pontos porcentuais da Selic desde setembro do ano passado está justificado pela complexidade do cenário atual, e os indicadores estão respondendo como o esperado à transmissão do aperto monetário.
Galípolo afirmou ainda que, diante dos choques externos decorrentes da escalada das tarifas empreendida pelo presidente dos EUA, Donald Trump, é normal haver uma quebra de sincronia na política monetária entre os bancos centrais. Mas ressaltou que o Brasil passou a ser visto como uma economia menos impactada pela guerra comercial.
Galípolo ainda lembrou que as incertezas sobre a política fiscal tornam mais complexo o trabalho do BC. "Não é simples para o BC lidar com a incerteza sobre a função de reação fiscal", disse, referindo-se à percepção no mercado de que, com a proximidade das eleições, o governo pode lançar mão de medidas fiscais para tentar compensar eventual desaceleração da economia.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.