Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central decidiu nesta quarta-feira fazer um novo corte de 0,50 ponto percentual na Selic, a 12,75% ao ano, e afirmou que sua diretoria antevê reduções equivalentes nas próximas reuniões, em comunicado que voltou a incorporar alerta sobre a questão fiscal e apresentou projeções piores da autoridade monetária para a inflação.
Apesar de não ter havido surpresa em relação à magnitude do corte, com todos os 48 economistas consultados em pesquisa da Reuters esperando redução de 0,50 ponto na Selic neste mês, analistas observaram viés mais duro no tom do comunicado.
"Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário", informou o Comitê de Política Monetária (Copom) em comunicado em que anunciou o corte de 0,50 ponto percentual.
A redução na taxa básica de juros anunciada nesta quarta-feira foi a segunda consecutiva, depois que o BC iniciou seu ciclo de afrouxamento monetário com um corte de 0,50 ponto na Selic em agosto, indicando que manteria esse ritmo de flexibilização nas reuniões à frente a menos que surpresas substanciais fossem observadas.
Após uma decisão dividida na reunião de agosto, os diretores do BC votaram por unanimidade pelo corte de 0,50 ponto nos juros básicos na reunião deste mês.
Depois de retirar a questão fiscal da lista de fatores que geravam risco de alta da inflação na decisão de agosto, o BC voltou a incluir esse componente em seu comunicado, mas ainda fora do balanço de riscos.
"Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas", afirmou o documento.
TOM MAIS DURO
Para o head de pesquisa macroeconomica da Kínitro Capital, João Savignon, o comunicado veio em linha com as expectativas, mas chamou atenção para o debate sobre a importância da execução das metas fiscais.
"Isso tornou o comunicado ligeiramente mais hawkish (duro), pois, mesmo não sendo explícito, pode ser interpretado como mais um condicionante para o Copom acelerar o ritmo de cortes de juros à frente", disse.
Citando a volta de ruídos fiscais e os riscos externos, o analista da Empiricus Research Matheus Spiess afirmou que o comunicado "mais duro faz todo sentido".
"A gente vê certas curvaturas mais conservadoras e cautelosas por parte da autoridade monetária", disse. "Ele colocou explicitamente uma unanimidade para cortes de 0,50 ponto nas próximas reuniões, devemos encerrar o ano em 11,75%. Isso esvazia bem aquela chance, ainda que marginal, de um eventual corte de 0,75 ponto em dezembro."
O analista de investimentos da Aware Investments Leandro Ormond destacou a importância de a decisão ter sido unânime, afirmando ainda que "outro ponto crucial é a importância de execução das metas fiscais" estabelecidas pelo governo para que haja a ancoragem de expectativas da inflação.
A decisão desta quarta-feira leva a taxa básica de juros ao nível mais baixo desde junho de 2022, quando também estava em 12,75% ao ano. Após o corte, o patamar ainda está 10,75 pontos acima da mínima histórica de 2% ao ano, atingida durante a pandemia de Covid-19 e que vigorou até março de 2021.
Nesta quarta, o BC ainda piorou suas projeções para o comportamento dos preços em relação à reunião de agosto. A autoridade monetária informou que, em seu cenário de referência, a estimativa para a inflação subiu de 4,9% para 5,0% em 2023, de 3,4% para 3,5% em 2024 e de 3,0% para 3,1% em 2025.
A meta de inflação de 2023 é de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA. Nos anos seguintes, o alvo é de 3%, também com a mesma margem.
O comunicado apontou que o BC viu maior resiliência da atividade econômica no Brasil do que o esperado anteriormente, ponderando que o Copom segue prevendo uma desaceleração da economia nos próximos trimestres.
Na reunião de agosto, a autarquia havia afirmado que uma intensificação nos cortes de juros era “pouco provável”, algo que exigiria reancoragem bem mais sólida das expectativas de inflação, abertura contundente do hiato do produto ou dinâmica substancialmente mais benigna do que a esperada nos preços de serviços. O comunicado desta quarta não detalhou esses fatores.
Em falas públicas após a decisão do mês passado, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, vinha afirmando que a barra estabelecida pela autarquia para fazer algo diferente de cortes de 0,50 ponto percentual na taxa Selic à frente era alta. Ele também tem destacado a importância da ancoragem das expectativas para os resultados das contas públicas como elemento relevante para o comportamento da inflação.
Dados divulgados desde a última reunião do Copom mostram que a inflação subiu menos que o esperado em agosto, enquanto as expectativas para o comportamento dos preços no futuro não registraram grande variação, ficando acima do teto da meta para este ano e se aproximando do alvo nos anos seguintes, ainda sem alcançar o centro do objetivo.
Em relação ao cenário externo, o BC afirmou no comunicado que o ambiente ficou "mais incerto", destacando que países emergentes precisam ter maior atenção com a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos e a perspectiva de menor crescimento na China.