Por Balazs Koranyi e Francesco Canepa
FRANKFURT (Reuters) - O Banco Central Europeu (BCE) manteve nesta quinta-feira planos de encerrar seu programa de estímulo no terceiro trimestre, mas não deu mais pistas sobre seu cronograma, destacando as incertezas relacionadas à guerra na Ucrânia.
O tom do comunicado de política monetária, que evitou se comprometer, pressionava para baixo a moeda e os rendimentos dos títulos da zona do euro, com os mercados reduzindo expectativas para a extensão das altas de juros neste ano.
"Vamos manter as opções, o gradualismo e a flexibilidade na condução de nossa política monetária", disse a presidente do BCE, Christine Lagarde, em entrevista online de sua casa, onde se recupera da infecção pelo coronavírus.
Lagarde disse que a conclusão das compras de ativos pode acontecer a qualquer momento no terceiro trimestre e insistiu que não há um cronograma claro para quando os juros começarão então a subir, acrescentando que pode levar semanas ou mesmo meses após o fim do estímulo.
"Vamos lidar com as taxas de juros quando chegarmos lá", insistiu ela.
Entre os bancos centrais mais cautelosos do mundo, o BCE está bem atrás da maioria de seus pares, muitos dos quais já começaram a elevar os juros no ano passado.
Somente nos últimos dois dias, os bancos centrais de Canadá, Coreia do Sul e Nova Zelândia aumentaram os custos dos empréstimos. O Federal Reserve, dos Estados Unidos, deve aumentar os juros oito vezes ou mais nos próximos dois anos.
Lagarde enfatizou como as 19 economias da zona do euro estão expostas ao conflito na Ucrânia, dizendo que a guerra já prejudica a confiança e causa ainda mais problemas às cadeias de abastecimento globais já afetadas pela pandemia.
"A maneira como a economia vai se desenvolver dependerá de forma crucial da evolução do conflito, do impacto das sanções e de possíveis novas medidas", disse ela.
Em particular, qualquer movimento da União Europeia (UE) para adotar um embargo sobre as importações de gás da Rússia deve jogar a Alemanha e o restante da região em uma recessão.
Os mercados monetários reduziram apostas para altas de juros e precificam cerca de 60 pontos básicos de aperto até o fim do ano, contra 70 pontos básicos antes.
O BCE comprou quase 5 trilhões de euros em dívida pública e privada desde 2015, com o objetivo de reaquecer a inflação, que ficou abaixo da meta de 2% do banco por anos após a crise de dívida do bloco.
Mas a inflação disparou inesperadamente nos últimos meses, deixando as autoridades num dilema de conciliar duas forças econômicas opostas.
Por um lado, a inflação já está na máxima recorde de 7,5%, com mais altas esperadas. Por outro, a economia da zona do euro está estagnando, na melhor das hipóteses, com o impacto da guerra na Ucrânia afetando famílias e empresas nos 19 países do bloco.