Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que cortou a taxa básica Selic em 0,50 ponto percentual na noite desta quarta-feira, para 12,75% ao ano, tende a gerar ajustes apenas marginais na curva de juros brasileira e no mercado de câmbio na quinta-feira, segundo economistas ouvidos pela Reuters.
Conforme o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano, o comunicado do Copom foi quase um “não evento”, pois não trouxe grandes novidades em relação ao cenário já traçado pelo BC desde o encontro anterior.
“O BC reforçou a mensagem de que o ritmo de corte de juros é de 50 pontos-base, colocando isso para as próximas reuniões. Então, teria que haver uma mudança muito grande de cenário para um corte de 75 pontos-base este ano ainda”, comentou Serrano. “Muito provavelmente, teremos 50 pontos-base em novembro e 50 pontos-base em dezembro.”
No comunicado, o BC reforçou esta perspectiva ao afirmar que os integrantes do Copom, “unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.
Na visão de Serrano, as taxas futuras de juros tendem a não passar por ajustes mais relevantes em função do comunicado. Isso também vale para o mercado de câmbio.
“Nossa leitura inicial é que não deveria ser um Copom que tivesse grande impacto no mercado, porque a decisão foi em linha com um comunicado muito parecido com nossas expectativas”, afirmou Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica (B3:SULA11) Investimentos, em comentário enviado a clientes.
Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, o comunicado também não trouxe muitas novidades.
“O Copom destacou os riscos, e talvez o mais relevante seja o cenário externo, com uma inflação mais resiliente. Do lado positivo, acho que houve a queda da inflação de serviços, que talvez tenha recebido um destaque pequeno do Copom”, avaliou Vitória.
De acordo com a economista, a indicação do Copom parece ser a de que há pouco espaço para aceleração de cortes da Selic nas reuniões até o fim do ano.
“Na curva a termo, existia uma pequena aposta de aceleração (do corte da Selic) para dezembro. Então, é possível que haja uma redução dessas apostas (nesta quinta-feira), mas pequena”, afirma. “O mercado já estava um pouco mais conservador em relação isso.”
IMPACTOS DO FED
Se por um lado o Copom deve estimular poucos ajustes de preços, por outro a decisão de política monetária do Federal Reserve, ocorrida na tarde de quarta-feira, pode continuar a repercutir nos mercados brasileiros nesta quinta.
A leitura de que o Fed foi mais duro em sua avaliação de cenário, ao continuar projetando novo aumento de juros até o fim de 2023 e estimar agora uma redução menor do aperto monetário durante 2024, fez o dólar virar para o positivo no Brasil no fim da tarde desta quarta-feira, em sintonia com o exterior.
Na curva a termo brasileira, porém, as taxas futuras encerraram em baixa, a despeito de os rendimentos dos Treasuries terem virado para o positivo no exterior, refletindo o Fed mais hawkish (duro com a inflação). Assim, pode haver ajustes na curva a termo brasileira em relação ao Fed, mas não necessariamente em função do Copom.