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Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - A economia brasileira deve seguir em desaceleração gradual no segundo semestre, de acordo com especialistas, em meio a um conjunto misto de fatores, com a política monetária restringindo a atividade, as tarifas dos Estados Unidos alimentando incertezas e o pagamento de precatórios e mercado de trabalho aquecido contendo o freio na economia.
Dados do IBGE mostraram nesta terça-feira que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil desacelerou a 0,4% no segundo trimestre, após alta de 1,3% nos primeiros três meses do ano, e a expectativa é de que a atividade siga girando em níveis baixos à frente.
"O resumo à frente ainda é de desaceleração. Melhor palavra hoje é de acomodação da atividade", afirmou Lucas Barbosa, economista da AZ Quest, que vê crescimento de apenas 0,1% no terceiro trimestre, com o PIB registrando no ano alta de 2% a 2,2%, após crescimento de 3,4% em 2024.
Para Barbosa, o crédito deve ser observado com atenção à frente, diante de uma taxa básica de juros Selic de 15% que o Banco Central já indicou que permanecerá em patamar restritivo por período prolongado.
"O crédito tem dado sinais de desaceleração, ao mesmo tempo em que indicadores de saúde financeira das famílias têm dado sinais de preocupação", disse ele.
Em julho, a inadimplência no Brasil ficou em 5,2%, chegando ao patamar mais elevado desde novembro de 2017, de acordo com dados do BC. Analistas citaram ainda as pesquisas da Fundação Getulio Vargas que apontaram queda da confiança em agosto entre consumidores, indústria e serviços, citando cautela em meio aos juros elevados, incertezas e endividamento.
O impacto do aperto monetário, por outro lado, é mitigado por estímulos fiscais, com destaque para o pagamento de R$60,5 bilhões em precatórios feito pelo governo em julho, e por um mercado de trabalho robusto, com renda em alta, que deve seguir assim por mais tempo.
"O impacto não está sendo maior porque tem estímulos fiscais, um exemplo é o precatório. Não fossem os estímulos fiscais, a desaceleração seria mais intensa", avaliou Claudia Moreno, economista do C6 Bank, que calcula retração de 0,3% do PIB no terceiro trimestre, mas alta de 0,6% no quarto, fechando o ano com expansão de 2%.
TARIFAS
Em outra frente, pairam as incertezas em torno das tarifas de 50% dos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros, ainda que a avaliação seja de que elas não devem desestabilizar a economia do país, graças às amplas exceções à taxação e ao fortalecimento das relações comerciais com a China.
"A questão das tarifas deve ter algum impacto, mas dadas as negociações e isenções de alguns produtos, ele deve ser bem menor. E os precatórios ajudam a amortecer parte do impacto das tarifas, ele é dinheiro na mão do consumidor", disse Leonardo Costa, economista do ASA, que projeta expansão do PIB de 0,2% no terceiro trimestre e estagnação no quarto.
Barbosa, da AZ Quest, também vê pouco impacto direto das tarifas, mas alerta que o principal risco vem da possibilidade de uma desaceleração global já que as taxas dos EUA afetam diversos países.
"O principal risco das tarifas hoje não é um impacto direto, mas sim uma desaceleração da demanda global. Isso reduziria a demanda pelos nossos produtos", disse ele, defendendo um redirecionamento das exportações, com a busca de novos destinos.
Já o plano de ações do governo para apoiar setores afetados pelo tarifaço, que incluiu crédito, prorrogações de tributos, estímulo à exportação e compras governamentais, tende a ter impactos pontuais.
"Ele é bem-vindo, deve ajudar alguns setores específicos, mas a maioria das medidas é via crédito ou isenção tributária, não tem impacto tão direto assim (sobre o PIB)", disse Costa, do ASA.