Por Jessica Bahia Melo e Leandro Manzoni
Investing.com - O Federal Reserve (FED) anunciou em comunicado nesta quarta-feira (15) a elevação da taxa de juros nos EUA para a faixa 1,5%-1,75%, uma alta de 0,75 ponto percentual, em linha com estimativas do mercado. A decisão não foi unânime, pois Esther George preferiu nesta reunião aumentar o alvo para a taxa de fundos federais em 0,5 ponto percentual. Essa é a maior alta desde 1994.
Além disso, o Comitê também anunciou a continuação da redução nas participações em títulos do Tesouro e dívida de agências e títulos lastreados em hipotecas de agências, de acordo com os Planos para Redução do Tamanho do Balanço do Federal Reserve, emitidos em maio.
As expectativas pioraram na última semana após a divulgação dos dados de inflação acima do esperado na sexta-feira. A inflação na base anual chegou a 8,6%, um pouco acima dos 8,3% previstos e dos 8,3% anteriores. Se antes, o mercado aguardava por um aumento de 0,5 p.p., os investidores reavaliaram as estimativas para uma meta máxima de 1,5%-1,75%, chegando ao maior aumento dos Fed Funds em 28 anos. Além disso, o núcleo do IPC acumulou alta anual de 6%, abaixo do resultado prévio revisado de 6,2%. O núcleo do IPC exclui preços voláteis, como commodities e alimentos.
Flavio Conde, analista da Levante Investimentos, acredita que a decisão foi acertada. "Meio ponto iria mostrar que o Fed não está super comprometido com o controle da inflação. O mais provável é que ocorra novamente um aumento de 0,75 p.p. e então o Fed define se precisa ir mais além ou não". Segundo ele, o Fed possui variáveis não controláveis, pois a inflação ocorre por pressão nos custos por quebra de oferta, ocasionada pela guerra. "Sem dúvida, demorou muito para agir e agora está correndo atrás do prejuízo". Os impactos na bolsa de valores, de acordo com Conde, ainda são incertos.
Para Luiz Moran, Head de Research da EQI, o comunicado reforçou o "forte compromisso" com o combate à inflação. "O comunicado da reunião desta quarta-feira indicou ainda que o Fed está pronto para múltiplas altas de 0,50 p.p., além de indicar que deve passar do ponto neutro para restritivo, detalha.
Projeções econômicas
Todos os membros apostam que a taxa de juros vai encerrar 2022 acima de 3%. A maioria vê que os juros estarão no intervalo 3,25-3,5%, sendo que 8 membros apostam nesse patamar. Já 4 diretores projetam a taxa de juros em 3,5%-3,75% e apenas 1 vê os juros em 3,75%-4%. Apenas 5 diretores veem as taxas entre 3%-3,25%.
As projeções de uma política monetária mais agressiva esse ano contaminaram as estimativas de crescimento econômico e de inflação para o ano. A mediana da projeção do PIB de 2022 foi de alta de 1,7%, bem abaixo do crescimento de 2,8% projetado em março.
Já a inflação medida pelo PCE subiu de 4,3% para 5,2%, enquanto o núcleo da inflação do PCE teve uma alta menor, de 4,1% para 4,3%. Isso significa que o Fed espera que a maior parte da alta inflacionária esse ano será pela elevação do preço dos combustíveis e dos alimentos.
A mediana da taxa de desemprego também sofreu um ajuste menos otimista. Em março, a projeção era de uma taxa de desemprego de 3,5% no fim de 2022, agora subindo para 3,7%.
Dessa forma, a mediana para o ritmo apropriado da política monetária é de uma taxa de juros de 3,4%, enquanto em março estava em 1,9%.
2023 e 2024
As projeções da taxa de juros para 2023 anteveem manutenção de uma política monetária agressiva. A maior parte dos membros do Fed veem a taxa de juros em ao menos 3,5%-3,75%, sendo que 7 diretores projetam a taxa nesse patamar. Enquanto 4 veem os juros em 3,75%-4%, outros 4 a 4%-4,25% e apenas 1 em 4,25%-4,5%, assim como há uma aposta solitária em uma taxa de juros de 3,25%-3,5% no fim de 2023. Já em 2024 iniciaria a reversão do ciclo monetário agressivo, com a maioria dos membros projetando uma taxa de juros a partir de 3,25%-3,5%, sendo que essa é a visão de 8 diretores. Enquanto isso, 6 diretores já veem a taxa de juros abaixo desse patamar, sendo que 2 membros já veem os juros a 2,25% em 2024.
Em relação ao crescimento econômico, houve uma redução da projeção de crescimento do PIB para 2023 e 2024, caindo respectivamente de 2,2% para 1,7% e de 2% para 1,9%.
Já a inflação retornaria próxima a meta de 2% de longo prazo estabelecido pelo Fed, sendo que em 2023 ficaria de 2,7% para 2,6% e de 2,3% para 2,2% em 2024. Os núcleos da inflação também estariam próximo à meta, de 2,6% para 2,7% em 2023 e manutenção de 2,3% em 2024.
A política monetária agressiva levou também a um aumento na projeção da taxa de desemprego, embora próxima à taxa de 4% considerada de pleno-emprego. As projeções subiram de 3,5% para 3,9% em 2023 e de 3,6% para 4,1% em 2024 para a taxa de desemprego.
Por fim, as projeções para o ritmo apropriado da política monetária nos dois próximos anos também subiram, de 2,8% para 3,8% em 2023 e de 2,8% para 3,4% no ano seguinte.
Jerome Powell, presidente do FED, detalha a decisão em tradicional entrevista coletiva às 15h30.