WASHINGTON (Reuters) - O Federal Reserve manteve nesta quarta-feira as taxas de juros e, em uma mudança formal de política, prometeu ser paciente em aumentar mais os custos dos empréstimos, o sinal mais claro de que o ciclo de aperto iniciado em 2015 pode ter terminado.
Citando a crescente incerteza sobre a perspectiva econômica dos Estados Unidos, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que a argumentação para um aumento dos juros se "enfraqueceu" e, em comunicado, o banco central norte-americano abandonou a expectativa anterior de algum aperto adicional.
O Fed também adotou uma postura mais dovish sobre em relação à oferta de ativos, dizendo que está preparado para ajustar seus planos com base em desdobramentos econômicos e financeiros.
Powell, falando a jornalistas após o fim da reunião de política monetária de dois dias do Fed, disse que o órgão deve parar de reduzir seu balanço de 4,1 trilhões de dólares logo, deixando-o com mais ativos do que o esperado anteriormente.
"A situação agora pede paciência", disse ele, referindo-se à perspectiva de novos aumentos de juros. "Eu acho que é a coisa certa. Eu sinto fortemente que é."
Considerados em conjunto, o anúncio do balanço e a mudança sobre os aumentos de juros visaram transmitir a máxima flexibilidade de um banco central que sofreu nas últimas semanas a volatilidade do mercado financeiro, sinais de desaceleração econômica global e uma paralisação parcial do governo dos EUA que turvou a economia.
"Isso é uma mudança de 180 graus do que o Fed sinalizava apenas alguns meses atrás", disse Mohamed El-Erian, assessor econômico chefe da Allianz (DE:ALVG), em Newport Beach, Califórnia.
Após o comunicado, as bolsas de Wall Street ampliaram ganhos, enquanto o dólar e os rendimentos de curto prazo caíram, à medida que os investidores avaliaram uma probabilidade ainda menor de alta dos juros em breve.
As expectativas de mercado das taxas futuras caíram ainda mais. Contratos atrelados à taxa básica de juros do Fed apontaram uma chance em quatro de um aumento em 2019, e os contratos com vencimento em 2020 sinalizavam uma chance pequena, porém crescente, de corte de juros.
O comunicado do Fed deixou a taxa básica de juros em um intervalo de 2,25 a 2,50 por cento ao ano.
O banco central dos EUA disse que o crescimento continuado da economia e do emprego ainda é o resultado "mais provável". Mas removeu a linguagem do comunicado de dezembro de que os riscos para as perspectivas eram "mais ou menos equilibrados".
O Fed elevou a taxa de juros quatro vezes no ano passado, a última delas em dezembro, quando sinalizou que aumentaria mais duas vezes este ano.
A perspectiva econômica, no entanto, tornou-se mais nebulosa como resultado da recente volatilidade nos mercados financeiros e sinais de que o crescimento está desacelerando no exterior, inclusive na China e na zona do euro. Também há temores de que a paralisação parcial de 35 dias do governo dos EUA possa reduzir os gastos do consumidor.
"Tendo em vista a evolução econômica e financeira global e as pressões inflacionárias moderadas, o comitê será paciente" na determinação dos aumentos futuros das taxas, afirmou o comitê do Fed que define as taxas de juros, no comunicado.
O Fed não alterou a rolagem mensal de 50 bilhões de dólares em títulos dos Treasuries e títulos hipotecários de seu balanço. Alguns operadores instaram o banco a desacelerar ou interromper sua saída do mercado de títulos, ao menos por enquanto.