Por David Lawder e Hannah Lang
WASHINGTON (Reuters) - O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou nesta terça-feira que vulnerabilidades ocultas do sistema financeiro podem eclodir em uma nova crise e prejudicar o crescimento global neste ano, mas pediu aos países membros que continuem a apertar a política monetária para combater a inflação que permanece alta.
Os alertas deram um tom ameaçador para as reuniões do FMI e do Banco Mundial em Washington nesta semana, com forças econômicas e de mercado conflitantes obscurecendo o caminho das políticas, à medida que o crescimento desacelera em resposta aos rápidos aumentos nas taxas de juros do banco central.
O FMI reduziu nesta terça-feira suas previsões de crescimento global para 2023, com suas suposições básicas excluindo, por enquanto, as novas ocorrências importantes de turbulência no sistema financeiro após os colapsos dos bancos norte-americanos Silicon Valley Bank e Signature Bank (OTC:SBNY) em março, e com a venda forçada do Credit Suisse (SIX:CSGN) pela Suíça.
A previsão do fundo indica um crescimento real do PIB de 2,8% em 2023 e 3,0% em 2024 --um décimo de ponto percentual abaixo do previsto em janeiro para cada ano. A economia global cresceu 3,4% em 2022.
Os rebaixamentos refletiram desempenhos mais fracos em algumas economias maiores, como Japão, Alemanha, Índia e Brasil, compensando um desempenho mais forte nos Estados Unidos e uma contração mais branda no Reino Unido. O FMI também citou expectativas de condições financeiras mais rígidas neste ano.
Mas sua previsão foi dominada por riscos negativos, incluindo inflação ainda mais alta, uma escalada da guerra na Ucrânia e um cenário adverso severo de uma nova crise financeira que poderia levar a fortes retrações nos empréstimos e gastos das famílias e a uma corrida para ativos mais seguros. Este último fator poderia reduzir o crescimento global para cerca de 1% este ano, o que efetivamente representa uma recessão com base no PIB per capita.
O Relatório de Estabilidade Financeira Global do FMI alertou para uma "combinação perigosa de vulnerabilidades" nos mercados financeiros, dizendo que alguns participantes não se prepararam adequadamente para o impacto dos aumentos das taxas de juros.
Esses riscos aumentaram rapidamente após a turbulência do mês passado no sistema financeiro global, com os investidores permanecendo no limite e alguns procurando o próximo elo mais fraco que poderia espalhar o contágio, disseram autoridades do FMI.
"Mesmo se você pensar que, em média, os bancos têm muito capital e liquidez, podem haver essas instituições fracas que se espalham para o sistema como um todo", disse Tobias Adrian, diretor do Departamento de Mercados Monetários e de Capitais do FMI, disse à Reuters.
Apesar dos alertas, o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, disse que a inflação ainda é o maior problema e que a estabilidade de preços deve prevalecer sobre os riscos de estabilidade financeira para a política monetária dos bancos centrais. Somente no caso de uma crise financeira muito grave essas prioridades devem ser revertidas, disse ele em entrevista coletiva.
A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, rebateu as perspectivas do FMI, dizendo em uma coletiva de imprensa separada que as perspectivas eram "razoavelmente boas", embora ela tenha dito que está "vigilante" aos riscos negativos, incluindo pressões bancárias e a guerra na Ucrânia.
"Eu não exageraria no negativismo sobre a economia global", disse Yellen, acrescentando que várias economias, incluindo os Estados Unidos, estão se mostrando resilientes com mercados de trabalho fortes, facilitando os problemas da cadeia de suprimentos e reduzindo os custos de energia.
(Reportagem de David Lawder, Andrea Shalal e Hannah Lang)