(Reuters) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo que seria uma enorme surpresa para ele os juros subirem e que está sendo "uma experiência extremamente complexa conviver com um presidente do Banco Central que você não escolheu".
Ao ser perguntado sobre fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que a âncora fiscal menos transparente aumenta o custo da política monetária, sinalizando que os juros podem subir, Haddad respondeu que o governo de Jair Bolsonaro furou teto de gastos o tempo inteiro e, no pior momento, durante a pandemia de Covid, a Selic chegou a 2%.
"Eu não sou diretor do Banco Central. Mas, para mim, seria uma enorme surpresa, com a inflação de março em 0,16% (os juros subirem). Estão pedindo o quê da economia brasileira?", afirmou Haddad na entrevista concedida na última quinta-feira e publicada neste sábado.
"Estamos eliminando gastos tributários absolutamente ineficazes. Já conseguimos fazer muita coisa. A arrecadação, neste ano, está aumentando 8,5% acima da inflação", acrescentou.
Em março, o Banco Central decidiu fazer uma nova redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, chegando a 10,75% ao ano. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ocorre em 7 e 8 de maio.
Haddad disse que acredita que os juros não vão subir nos Estados Unidos e que o Federal Reserve, o banco central norte-americano, errou em suas próprias previsões.
"Muita gente falava que os juros americanos cairiam em março. Tinha aposta em dinheiro. E quando isso acontece é para valer, né? Não é palpite de economista-chefe. O FED fez uma barbeiragem, errou em suas próprias previsões. Comunicou errado. Levou o mundo a errar. Muita gente perdeu dinheiro, inclusive no Brasil, apostando na valorização do real", disse o ministro.
"Eu acredito que os juros não vão subir (nos EUA). Mas também acredito que eles vão empurrar o ciclo de cortes para a frente."