Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) -O setor industrial brasileiro surpreendeu e registrou alta da produção em junho pelo segundo mês seguido, mas ainda assim terminou o segundo trimestre sem conseguir recuperar perdas anteriores em meio às dificuldades apresentadas pelo encarecimento do crédito e com sinal de alerta aceso.
A produção industrial do Brasil avançou 0,1% em junho em relação ao mês anterior, resultado que contrariou a expectativa em pesquisa da Reuters de recuo de 0,1%.
Em maio, a indústria registrou aumento da produção de 0,3%, mas os resultados positivos dos dois meses não revertem a queda de 0,6% vista em abril.
Ainda assim, a produção fechou o segundo trimestre com ganho de 0,4% em relação aos três meses anteriores, quando ficou estagnada.
Apesar disso, André Macedo, analista da pesquisa no IBGE, ressalta que o setor ainda está num patamar de produção equivalente ao começo de 2009 e "não consegue suplantar e sair disso há meses", levantando um sinal de alerta.
“Resumindo, foi um resultado positivo preocupante. (Foi) concentrado, com menor espalhamento desde outubro do ano passado. Fica o alerta", disse ele.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior, houve avanço de 0,3%, de acordo com os dados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em linha com a expectativa.
“Ainda que o primeiro semestre de 2023 mostre saldo positivo de 0,5% quando comparado com o patamar de dezembro de 2022, o ritmo está muito aquém do que o setor precisa para recuperar as perdas do passado recente, afinal, ainda se encontra 1,4% abaixo do patamar pré-pandemia de fevereiro de 2020”, completou Macedo.
Segundo especialistas, a indústria deve continuar enfrentando problemas à frente, pressionada pelos juros elevados, endividamento das famílias e pela estagnação global da atividade manufatureira.
A taxa básica Selic está em 13,75%, nível restritivo para a economia, mas a expectativa é de que o Banco Central inicie o afrouxamento monetário ao anunciar sua decisão de política monetária na quarta-feira, após dois dias de reuniões.
"A perspectiva para a indústria é negativa no restante do ano. Passado o impacto dos efeitos sazonais de meio de ano e com a tendência de desaceleração de crescimento global se confirmando, a ausência de vetores domésticos de crescimento deve fazer com que a indústria doméstica feche o ano com crescimento pífio, ou até mesmo recessão, mais uma vez", disse em nota o economista Matheus Pizzani, da CM Capital.
CONCENTRAÇÃO
No mês de junho, somente uma das quatro grandes categorias econômicas e sete dos 25 ramos industriais pesquisados mostraram crescimento na produção.
A maior influência positiva veio das indústrias extrativas, que avançaram 2,9% em junho depois de crescerem 1,4% em maio, influenciadas pelo avanço na extração de petróleo e minérios de ferro.
Outros setores que contribuíram para o resultado positivo de junho foram confecção de artigos do vestuário e acessórios (4,9%), de produtos de borracha e de material plástico (1,2%) e de produtos de metal (1,2%).
Já os destaques negativos ficaram para a produção de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,6%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,0%), que registram perdas apesar do programa de desconto do governo porque, segundo o IBGE, o setor automobilístico estava com estoques altos, que foram reduzidos sem aumento da produção.
Entre as categorias econômicas, os Bens de Consumo foram os únicos com aumento da produção, de 0,3%, enquanto os Bens de Capital e os Bens Intermediários tiveram respectivamente quedas de 1,2% e 0,3%.
"Este segmento (bens de capital) é sensível a crédito e sente mais fortemente o impacto dos juros elevados que inibem os investimentos em aumento de capacidade instalada como máquinas", explicou Claudia Moreno, economista do C6 Bank.
(Edição de Luana Maria Benedito e Pedro Fonseca)