Por Leandro Manzoni
Investing.com - Os dados de inflação ao consumidor de setembro dos EUA a serem divulgados na quinta-feira (13) vão provocar uma mistura de sentimentos caso se confirmem as estimativas de mercado. A divergência de trajetória para o índice "cheio" e o núcleo da inflação, assim como entre as bases mensal e anual, explica a expectativa de uma visão "turva" a investidores.
De acordo com as projeções de economistas compiladas pelo Investing.com, o nível de preços na base mensal do índice "cheio" em setembro deve ter subido em 0,2%. O valor seria uma aceleração em relação ao avanço de 0,1% no mês anterior, mas ainda longe do pico de 1,3% em junho. Já a inflação ao consumidor em base anual deve ter desacelerado de 8,3% em agosto para 8,1%, segundo a mediana das estimativas para setembro.
Por outro lado, o núcleo de inflação deve ter tido um avanço anual de 6,3% para 6,5%, segundo as projeções. Enquanto na base mensal, teria uma desaceleração de 0,6% para 0,5%.
O núcleo da inflação é mensurado excluindo-se a variação de preço de energia e alimentos, pois são voláteis, e é a medida vista pelo Federal Reserve Fed para medir a difusão da inflação na economia dos EUA e calibrar sua política monetária.
“O destaque, de novo, vai ser a pequena baixa do preço de energia (combustíveis), que vai contribuir para uma queda [do índice 'cheio']”, avalia o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves. “Por outro lado, a provável nova alta do núcleo é em parte à aceleração do preço de serviços”, completa o especialista, que também destaca o preço dos bens em alta.
“Inflação já fez pico, já houve arrefecimento no último mês, e continua em setembro”, afirma William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, que aponta a queda do preço das commodities agrícolas, dos fertilizantes, da energia e do custo do frete para a desaceleração do nível de preços. “É um arrefecimento brando, não grande, falta ver os preços de aluguéis e acomodações, que ainda estão fortes”, completa.
Mas, o aumento do preço do petróleo em outubro pode diminuir ou acabar com o arrefecimento da inflação. “Inflação de outubro deve subir, só não ocorre se a Opep+ mude de ideia [em relação ao corte de produção]”, diz Lima Gonçalves, do Fator. “Dados do mercado imobiliário já mostra queda da demanda por casas e financiamento imobiliário, o que tende a impactar o preço dos aluguéis”, afirma Castro Alves, da Avenue, sobre a possibilidade de continuação de arrefecimento inflacionário em outubro.
UBS prevê queda do núcleo da inflação nos próximos meses
A forte queda do preço dos veículos usados deve contribuir para um início da queda mensal do núcleo da inflação em setembro, na avaliação de economistas do UBS em relatório distribuído em 6 de outubro. O banco suíço projeta uma desaceleração mensal de 0,33% no núcleo de inflação, menor do que o projetado pelo mercado. E essa trajetória deve continuar nos próximos meses.
“Seguros-saúde devem começar a cair substancialmente [em outubro e novembro], e a alta dos preços de veículos novos e de outras mercadorias vai arrefecer em meio à alta da produção de veículos desde março”, dizem os economistas.
No índice "cheio", a projeção do UBS também é, entretanto, de alta na base mensal (0,21%, em linha com a estimativa do mercado), devido a uma menor baixa do preço da energia em setembro. Além disso, os preços no supermercado, de serviços, refeição fora de casa e de serviços de energia devem ter contribuído para essa aceleração de preços em setembro.
E o Fed?
Independentemente do resultado da inflação quinta-feira, o Fed vai aumentar em 75 pontos-base a taxa de juros, de 3%-3,25% para 3,75%-4%. Essa é a avaliação de Lima Gonçalves, do Fator.
A dúvida do mercado é se a taxa de juros pode ir para 4,5% ou 5% e quando ela vai começar a cair. “Acho que a taxa de juros vai para esse patamar e não vai cair tão cedo”, projeta o economista.
CONFIRA: Projeção da taxa de juros do Fed nas próximas reuniões