Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A inflação oficial do Brasil atingiu o menor nível para janeiro no período de estabilização da economia com a criação do Plano Real e em 12 meses recuou com força abaixo de 6 por cento, resultados melhores que o esperado e que pavimentam o caminho para o Banco Central cortar em breve ainda mais os juros em meio ao cenário de atividade ainda fraca.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,38 por cento em janeiro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira. Em dezembro, a alta havia sido de 0,30 por cento
Para janeiro, a alta do IPCA foi a menor da série histórica, iniciada em 1979, que engloba parte do período de hiperinflação vivida pelo país. Para a economista do IBGE Eulina Nunes dos Santos, no entanto, a melhor comparação deve ser feita a partir da estabilidade da economia vinda com o Plano Real, iniciado em 1994.
Em 12 meses, a alta foi de 5,35 por cento, menor nível desde setembro de 2012 (5,28 por cento) e contra 6,29 por cento em 2016 fechado. Com isso, o índice caminha para o centro da meta oficial, de 4,5 por cento com tolerância de 1,5 ponto percentual.
Os resultados ficaram abaixo das expectativas em pesquisa da Reuters, de avanço de 0,44 por cento em janeiro, acumulando alta de 5,41 por cento em 12 meses.[nL1N1FR0Z8]
"A tendência é muito favorável. Os dados indicam números bastante negativos à frente e podemos chegar a agosto com a inflação abaixo de 3,5 por cento em 12 meses", avaliou o economista-chefe do Banco ABC (SA:ABCB4) Brasil, Luis Otávio Leal, que tem viés de baixa para sua projeção de Selic a 9,75 por cento este ano.
A Selic já foi reduzida para 13 por cento e a expectativa é de novo corte de 0,75 ponto percentual este mês, mas apostas em 1 ponto ganharam alguma força, tanto entre economistas como no mercado de juros futuros.[nL1N1FT0HH]
"(O IPCA) confirma as expectativas de que a Selic vai para um dígito em outubro, além de acelerar o corte a partir da próxima reunião para 1 ponto", afirmou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, que vê a Selic a 9,5 por cento no final do ano.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nos próximos dias 21 e 22, depois de ter reduzido a taxa básica de juros em 0,75 ponto em janeiro.
DEMANDA
O grupo Vestuário foi o que mais contribuiu para a desaceleração da inflação no mês passado, com queda nos preços de 0,36 por cento e impacto negativo de 0,02 ponto percentual no IPCA.
De acordo com o IBGE, o cenário de demanda fraca diante do desemprego alto e da recessão econômica ainda tem forte influência sobre a queda da inflação.
"O cenário para os preços ainda é de pouco dinheiro circulando. O desemprego e o endividamento ainda estão muito altos, são fatores inibidores do consumo e da inflação", disse a economista do IBGE.
Os preços do grupo Transportes também foram destaque, com desaceleração da alta a 0,77 por cento em janeiro, sobre 1,11 por cento em dezembro.
Já o grupo Alimentação e bebidas, que tem importante peso sobre a renda das famílias, viu o avanço dos preços acelerar para 0,35 por cento no início do ano, contra 0,08 por cento em dezembro.
O BC vem observando com atenção a inflação de serviços para a condução da política monetária e, em janeiro, ela desacelerou com força a 0,36 por cento, sobre 0,65 por cento em dezembro.
Com a recessão econômica no país e a queda da Selic, as projeções para a inflação este ano vêm se aproximando do centro da meta. Economistas consultados na pesquisa Focus do próprio BC passaram a ver alta de 4,64 por cento do IPCA este ano, com a Selic a 9,5 por cento.[nL1N1FR08B]
Inflação por categoria (%):
Janeiro Dezembro
Alimentação e bebidas 0,35 0,08
Habitação 0,17 -0,59
Artigos de residências -0,10 -0,31
Vestuário -0,36 0,32
Transportes 0,77 1,11
Saúde e cuidados pessoais 0,55 0,49
Despesas pessoas 0,45 1,01
Educação 0,29 0,07
Comunicação 0,63 0,02
IPCA 0,38 0,30
(Edição de)