O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira, 22, que o problema dos juros altos nos Estados Unidos não está no país, e sim nas implicações para o resto do mundo. O cenário, disse, implica dólar forte e dificuldade para os países endividados rolarem suas dívidas.
"Os Estados Unidos não tem um problema", frisou Campos Neto, que disse que embora o país esteja com um crescimento forte, há geração de emprego e o crédito voltou a subir, enquanto a inflação está somente desacelerando de forma mais lenta. "Não é um grande problema, é um problema razoável de se ter", salientou o banqueiro central, que acrescentou que o que não poderia acontecer seria um cenário de crescimento para baixo e inflação para cima.
O presidente do Banco Central repetiu que a dívida global cresceu durante a pandemia. Isso, combinado ao maior custo de rolagem decorrente dos juros altos, deve desencadear um debate sobre o endividamento mundial.
"O que eu vejo é que isso em algum momento vai virar um tema, a sustentabilidade da dívida, e que o fiscal vai ficar no foco", disse Campos Neto, em um evento da Legend Capital. "Nessa reuniões que tivemos no FMI, pela primeira vez eu vejo as pessoas falando muito mais do fiscal, não teve nenhum grupo de reunião grande em que isso não foi mencionado."
Ele lembrou que a dívida dos EUA, Japão e Europa - que representa cerca de dois terços do endividamento mundial e cresceu expressivamente durante a pandemia - era antes rolada a juros de 1% e, agora, custa cerca de 3,2%.
O presidente do BC acrescentou que os governos têm interferido muito nos mercados e que, com a dívida alta, o espaço para isso será limitado. "O mercado, hoje, tem uma percepção de que, a qualquer problema, os governos vão vir e resgatar os mercados, mas o problema é que esses resgates são feitos com dívida e estamos cada vez mais, globalmente falando, com menos espaço para isso", disse, acrescentando que é necessário encontrar soluções privadas para o problema.