Por Jessica Bahia Melo
Investing.com - Enquanto espera a manutenção da taxa de juros da economia brasileira na decisão de hoje do Comitê de Política Monetária (Copom), o economista Álvaro Frasson, do Banco BTG (BVMF:BPAC11), avalia que o Banco Central deveria rever as métricas utilizadas de hiato do produto e juros neutros. A Selic está atualmente no patamar de 13,75% e o consenso dos economistas é de que fique neste mesmo patamar.
Copom: Economistas esperam manutenção da taxa de juros em 13,75%
Em entrevista ao Investing.com Brasil, o economista do banco conta que, em questionário ao mercado, o Banco Central perguntou às instituições financeiras sobre quais as considerações sobre a taxa de juros real neutra para a economia brasileira. “No primeiro semestre, o Banco Central trabalhava com 4% de juro real neutro. Eu, particularmente, trabalho com taxa de 5%. Acho que nossa taxa já é maior. Com as mais diversas métricas e passando filtros estatísticos de longo prazo das NTN-Bs ou relatório Focus três anos a frente, avaliando juro real americano e o risco fiscal aqui, fica difícil defender que 4% ainda é o juro real neutro do Brasil”, avalia Frasson.
“Sobre o hiato do produto, o Banco Central chegou a comentar, recentemente, que olhou alguns cenários alternativos, mas quando conversamos com diversos economistas, é quase consensual que o hiato do produto está em um nível positivo, estamos rodando a atividade acima do potencial. O Banco Central não tem entendido desta forma”, destaca.
Segundo Frasson, nem os economistas nem a curva de juros indicam precificação diferente da manutenção. No entanto, desde a última decisão, houve uma clara deterioração do balanço de riscos na parte fiscal, avalia o economista. “Isso precisa, de alguma forma, ser vocalizada nesta comunicação. Isso tende a trazer uma necessidade de um endurecimento do discurso do Banco Central. Ele já vem sendo bastante claro sobre a possibilidade de que não vai hesitar em retomar o ciclo de alta de juros para controlar a expectativa de inflação. Mas dar maior peso à deterioração, acho que é um fator que o mercado vai olhar com bastante atenção”.
Perspectivas para 2023 – Higher for longer?
O BTG avalia que, diante de pressões fiscais e a possibilidade da retomada de impostos sobre os combustíveis , o cenário do que ano que vem pode ser de juros elevados por maior período de tempo do que era esperado, em consonância com indicações nos Estados Unidos.
Frasson aponta também uma preocupação nas últimas falas de dirigentes do BC sobre o retorno do uso de crédito subsidiado via bancos públicos. “Foi uma prática bem comum do governo do PT, sobretudo a partir de 2008. Se isso voltar ao jogo, pode atrapalhar a transmissão da política monetária, o que, somado à elevação dos gastos, sem um arcabouço fiscal definido, pode criar um ambiente em que, no ano que vem, o Banco Central tenha bastantes subsídios para uma decisão mais dura de juros”, completa.