Por Howard Schneider
JACKSON HOLE, Estados Unidos (Reuters) - Em 2022, quando o foco do Federal Reserve mudou para o combate à inflação, a instituição teve que elevar rapidamente sua taxa de juros para que a política monetária acompanhasse o acelerado aumento dos preços.
Dois anos depois, o foco mudou novamente -- desta vez para proteger o mercado de trabalho, conforme descrito no discurso do chair do Fed, Jerome Powell, na sexta-feira durante o simpósio de Jackson Hole. Parece ser necessária novamente uma atualização da política, embora em uma velocidade provavelmente menos frenética.
O sinal de Powell sobre os próximos cortes nos juros completou uma mudança do Fed que começou em janeiro, quando o banco central passou a reconhecer os riscos emergentes do mercado de trabalho, e agora fez do combate a esses riscos sua principal tarefa.
A questão em aberto: o enfraquecimento do mercado de trabalho e o aumento da taxa de desemprego são evidências de uma economia que está se estabelecendo em um local saudável de crescimento estável ou parte de uma queda que ganhará velocidade?
A resposta aparecerá nos próximos relatórios de emprego e determinará até que ponto e com que rapidez o Fed terá de reduzir os juros para evitar o que Powell chamou de "enfraquecimento indesejado das condições do mercado de trabalho".
"Não buscamos nem aceitamos um esfriamento adicional nas condições do mercado de trabalho", disse Powell, em comentários que pareciam definir a atual taxa de desemprego de 4,3% como um nível que ele gostaria de defender, ao admitir que "as condições agora estão menos apertadas do que aquelas que prevaleciam antes da pandemia".
A taxa de desemprego era de 4,1% e estava caindo quando Powell assumiu o comando do Fed 2018, chegando a 3,5 em 2019 sem levantar preocupações com a inflação -- condições que Powell disse que esperava poder recriar depois que a Covid-19 jogou a economia em uma crise.
A taxa de juros atual do Fed, de 5,25% a 5,50%, é vista como restritiva e coloca empregos em risco, além de estar bem acima da estimativa mediana das autoridades de 2,8% para a taxa "neutra" de longo prazo.
CONFIRA: Curva de juros dos EUA
Supondo-se que a inflação continue se aproximando da meta de 2%, as mudanças no mercado de trabalho determinarão a velocidade com que as autoridades se aproximarão desse nível neutro e se precisarão baixar ainda mais para restaurar o pleno emprego.
"Definitivamente, estamos esfriando, mas será que estamos esfriando a um ponto em que vamos nos estabilizar... ou isso é apenas uma parada para um esfriamento mais forte?", disse Nela Richardson, economista-chefe do ADP Research Institute, nos bastidores do simpósio.
Richardson, junto de muitas autoridades do Fed e outros presentes, argumenta que a economia continua forte e provavelmente está apenas voltando às suas tendências subjacentes -- "normalizando" os extremos da pandemia. Mas o senso de urgência em relação ao emprego tem se intensificado.
As autoridades do Fed se reunirão nos dias 17 e 18 de setembro em uma situação muito diferente daquela de apenas algumas semanas atrás, enquanto se preparam para cortar os juros e debater se o mercado de trabalho está apenas desacelerando ou se está em um precipício.
Em setembro, as autoridades atualizarão suas projeções de juros, mostrando sua percepção do ritmo dos cortes que estão por vir. Recentemente, em junho, eles ainda estavam preocupados com a inflação instável, viam a taxa de desemprego estável em 4% e previam apenas um único corte de 0,25 ponto percentual este ano.
O economista-chefe da Pantheon Macroeconomics, Ian Shepherdson, que tem previsto uma queda no mercado de trabalho, classificou o tom de Powell como "surpreendente" em relação às perspectivas de junho, considerando-o como prova de que o Fed "esperou muito" para mudar.
Enquanto isso, o economista-chefe da Apollo Global Management, Torsten Slok, teme que, com as taxas de demissões permanecendo baixas, o Fed ainda possa cortejar o risco de inflação se cortar os juros muito rapidamente.