PIB do Brasil cresce 3,4% em 2024 mas perde força no 4º tri com fraqueza da demanda interna

Publicado 07.03.2025, 09:13
Atualizado 07.03.2025, 10:06
© Reuters. Fábrica da montadora GWM em Iracemópolis (SP)n27/04/2023 nREUTERS/Carla Carniel

Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A atividade econômica do Brasil cresceu 3,4% em 2024 com forte desempenho de serviços, dos gastos das famílias e dos investimentos, mas a expansão do Produto Interno Bruto perdeu mais força do que o esperado no quarto trimestre em meio a uma política monetária restritiva que se prolonga para 2025 e tende a continuar pesando sobre a demanda interna.

O desempenho da economia no ano passado, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, foi ainda assim o mais forte desde os 4,8% de 2021, ficando acima das taxas de 3,0% e 3,2% em 2022 e 2023 respectivamente. A expectativa do governo era de uma expansão de 3,5%.

Mas o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil expandiu 0,2% no quarto trimestre sobre os três meses anteriores, mostraram os dados, numa leitura que ficou abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,5% na comparação trimestral e indica perda de força do consumo, importante motor da atividade.

Sobre o quarto trimestre de 2023, o PIB teve aumento de 3,6%, também abaixo da expectativa de 4,1% nessa base de comparação.

A economia brasileira foi perdendo força ao longo da segunda metade do ano passado, com taxas de crescimento de 1,0%, 1,3% e 0,7% respectivamente nos primeiro, segundo e terceiro trimestres.

Essa desaceleração já era esperada depois de o PIB surpreender nos primeiros trimestres, e a atividade deve seguir moderada em 2025 diante do ciclo de aperto monetário realizado pelo Banco Central, com juros em patamar restritivo.

Ao longo de 2024 fatores como mercado de trabalho aquecido com ganhos de renda, condições melhores de crédito e benefícios sociais ajudaram a sustentar a atividade econômica.

Isso, no entanto, levantou riscos inflacionários, e o BC já elevou a taxa básica de juros Selic a 13,25% ao ano, com efeitos que devem ser sentidos ao longo de 2025. A autoridade monetária volta a se reunir em 18 e 19 de março, e já indicou novo aumento de 1 ponto percentual.

Embora a atividade econômica conte com a perspectiva de uma safra forte neste início de ano, outros pontos levantam preocupação, como o aumento da inflação, ameaças tarifárias dos Estados Unidos e a desvalorização do real, além das persistentes temores ficais.

"Olhando para o futuro, a combinação de inflação persistente, juros elevados e o consequente aperto das condições financeiras deve pesar sobre a atividade econômica. A partir do segundo trimestre, a desaceleração tende a se intensificar, aumentando o risco de estagnação e até mesmo de uma recessão técnica", alertou Igor Cadilhac, economista do PicPay, projetando crescimento de 1,6% para o PIB este ano.

SERVIÇOS E CONSUMO

Em 2024, o destaque no PIB no lado da produção foi o setor de serviços --setor que responde por cerca de 70% da economia do país--, com expansão de 3,7%, seguido da indústria com crescimento de 3,3%.

O IBGE ressaltou que o desempenho da atividade na ótica produtiva foi impulsionado principalmente por Outras atividades de serviços (+5,3%), Indústria de transformação (+3,8%) e Comércio (+3,8%) -- juntos, eles foram responsáveis por cerca da metade do crescimento do PIB em 2024.

Por outro lado, a Agropecuária contraiu 3,2% no ano passado, depois de expandir 16,3% em 2023, uma vez que, segundo o IBGE, efeitos climáticos adversos impactaram várias culturas importantes da lavoura, tendo como destaque a soja (-4,6%) e o milho (-12,5%).

Do lado das despesas, o Consumo das Famílias seguiu como fonte de importante suporte para a atividade, com crescimento de 4,8%. Também se destacou o aumento de 7,3% na Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimento, que apesar de ter crescido mais tem peso menor que o consumo das famílias.

“Para o consumo das famílias, tivemos uma conjunção positiva, como os programas de transferência de renda do governo, a continuação da melhoria do mercado de trabalho e os juros que foram, em média, mais baixos que em 2023”, disse Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

Já o consumo do governo avançou 1,9% em 2024. No setor externo, as exportações de bens e serviços tiveram desempenho positivo de 2,9%, enquanto as importações avançaram 14,7%.

4º TRIMESTRE

No quarto trimestre, a Indústria e os Serviços avançaram apenas 0,3% e 0,1% respectivamente, com queda de 2,3% na Agropecuária ante os três meses anteriores.

O consumo mostrou forte perda de força no final do ano passado em meio à política monetária restritiva e inflação elevada, com as despesas das famílias contraindo 1,0% depois de apresentar avanços nos três primeiros trimestres.

O consumo do governo aumentou 0,6% no período, enquanto a Formação Bruta de Capital Fixo avançou 0,4%.

"No quarto trimestre de 2024 o que chama atenção é que o PIB ficou praticamente estável, com crescimento nos investimentos, mas com queda no consumo das famílias. Isso porque no quarto trimestre tivemos um pouco de aceleração da inflação, principalmente a de alimentos", disse Palis.

"A política monetária com alta (dos juros) em setembro já começou a ter efeito no fim do ano. O PIB não cresceu mais e a economia foi puxada para baixo por conta desse comportamento do consumo das famílias em razão da inflação e da Selic. São fatores que impactam o poder de compra das pessoas”, completou.

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