Investing.com – O declínio da população economicamente ativa, antes considerado um problema restrito ao Oriente, onde Japão e Coreia do Sul lutam há décadas com os impactos de uma força de trabalho em declínio na atividade, agora atinge a Europa, gerando grandes preocupações. Mas quão grave é o problema da redução da força de trabalho em idade para trabalhar no Velho Continente?
"A população economicamente ativa da zona do euro deverá diminuir 6,4% até 2040", segundo o relatório Future of Europe Bluepaper do Morgan Stanley (BVMF:MSBR34) (NYSE:MS), publicado em 9 de outubro, estimando um impacto negativo de 4% no PIB da zona do euro até 2040.
A diminuição do número de pessoas em idade para trabalhar em um país ou região provoca uma queda na contribuição para a produção econômica e a produtividade, prejudicando o PIB, especialmente quando combinado com o envelhecimento populacional.
Alguns países da zona do euro, entretanto, serão mais afetados do que outros: a Itália, com uma expectativa de redução de até 10% da população economicamente ativa entre 2025 e 2040, enfrentará os maiores desafios. Enquanto isso, a França, com uma perspectiva demográfica relativamente mais forte, seria a menos impactada entre as principais economias.
Lições da Ásia: Japão e Coreia do Sul
A crise demográfica na Europa não é um fenômeno novo. Japão e Coreia do Sul têm lidado com esses desafios há décadas. Essas economias asiáticas, que enfrentam o envelhecimento da população e baixas taxas de natalidade, oferecem uma janela para o problema e insights valiosos sobre a eficácia das soluções adotadas ao longo do tempo.
O Japão implementou várias políticas para lidar com seus desafios demográficos, como aumentar a participação da mão de obra feminina, elevar a idade de aposentadoria e abrir-se, cautelosamente, à imigração. No entanto, essas medidas obtiveram resultados limitados, já que as normas culturais e as pressões econômicas continuam a desestimular taxas de natalidade mais altas.
Nos últimos 30 anos, a taxa de fertilidade do Japão permaneceu abaixo de 1,5, com o nível mais baixo registrado em 2022, de 1,26, de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
Ainda assim, a Europa pode buscar uma combinação de políticas semelhantes às adotadas no Oriente para enfrentar esses ventos contrários demográficos, segundo o Morgan Stanley.
Políticas para mitigar os efeitos da crise demográfica
Três opções políticas poderiam mitigar esses desafios na Europa: aumentar a imigração líquida, elevar a idade efetiva de aposentadoria e reduzir a disparidade de participação no mercado de trabalho entre homens e mulheres.
Essas políticas poderiam adicionar entre 1,3% e 2,5% ao PIB da zona do euro até 2040, de acordo com a modelagem de cenários do Morgan Stanley. Contudo, o sucesso dessas medidas variará entre os países, uma vez que alguns já implementaram políticas semelhantes com antecedência.
Alemanha, Reino Unido e Espanha veriam os maiores ganhos com o aumento da imigração líquida, enquanto a Itália se beneficiaria mais com a redução da diferença de participação entre homens e mulheres no mercado de trabalho, de acordo com o Morgan Stanley.
Aumentar a imigração líquida em um desvio padrão em relação aos níveis históricos de cada país poderia elevar o PIB da zona do euro em 1,8% até 2040. Fechar a lacuna de participação entre homens e mulheres poderia aumentar o PIB em até 2,5%. A Itália, que tem uma diferença de 8% abaixo da média da zona do euro, veria aumentos significativos em sua força de trabalho se conseguisse reduzir essa lacuna.
Elevar a idade efetiva de aposentadoria em um ano poderia aumentar o PIB da zona do euro em 1,3% até 2040. França e Espanha, onde a idade de aposentadoria permanece de 2 a 3 anos abaixo da média europeia, seriam os países que mais se beneficiariam dessa política.
Impacto nas perspectivas de crescimento dos lucros
Esse desafio demográfico já está afetando as perspectivas das empresas europeias. Se não for enfrentado por meio de políticas eficazes, o Morgan Stanley estima que o crescimento de lucros de longo prazo das empresas poderia cair de 5,1% para 4,2% até 2030.
O tema já emergiu como um ponto de discussão importante entre executivos europeus, com um aumento notável nas menções à "população envelhecida" em comparação com empresas americanas, de acordo com o relatório.
IA e automação como soluções?
As previsões de queda nos lucros corporativos na Europa, no entanto, assumem que não haverá aumento nas margens ou ganhos de produtividade com a IA ou automação, que "poderiam compensar alguns dos impactos negativos", segundo o Morgan Stanley.
O aumento da produtividade resultante da adoção em larga escala de ferramentas de IA e automação provavelmente se tornará mais evidente à medida que as empresas começarem a colher os frutos desses investimentos, já em 2024.
"Acreditamos que 2024 será o ano do investimento e da adoção da IA; em 2025, os ganhos corporativos deverão se tornar mais evidentes", disse o Morgan Stanley.
A automação também desempenhará um papel crescente para compensar o declínio da produtividade causado pela redução da força de trabalho na Europa, que ainda tem baixa penetração de tecnologias de automação em comparação com outras regiões.
A densidade de robôs industriais na Coreia do Sul, por exemplo, era de pouco mais de 1.000 por 10.000 empregados no setor manufatureiro em 2022, enquanto na Alemanha esse número era menos da metade.
Ação necessária para proteger o futuro econômico da Europa
Enquanto a Europa enfrenta essa mudança demográfica, a busca por soluções que possam mitigar seus efeitos econômicos e garantir um crescimento sustentável nas próximas décadas se intensifica. As experiências de Japão e Coreia do Sul oferecem lições valiosas, mas a Europa precisará adaptar sua abordagem às suas características sociais, políticas e econômicas únicas.
O desafio é claro: a Europa deve implementar políticas eficazes para lidar com o declínio de sua população economicamente ativa. Enquanto o aumento da imigração, o aumento da idade de aposentadoria e a ampliação da participação feminina no mercado de trabalho ajudarão a amenizar o impacto, a Europa também precisa abraçar os avanços tecnológicos, incluindo IA e automação, para preencher a lacuna de produtividade.
A chave para enfrentar os impactos no crescimento e proteger o futuro econômico da Europa reside na implementação eficaz dessas estratégias, garantindo que elas estejam alinhadas aos valores sociais e metas econômicas da região.