BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Central elevou a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, para 2,75%, nesta quarta-feira, no primeiro aperto monetário em quase seis anos e veio mais forte do que o esperado pelo mercado.
Veja comentários de profissionais do mercado:
FERNANDO FENOLIO, ECONOMISTA-CHEFE, WHG
"A decisão do BC foi correta. Acho que precisava de uma ação mais incisiva contra a inflação, cuja situação é preocupante, principalmente depois da aceleração das projeções da Focus. O sinal do BC hoje vai ajudar a taxa de câmbio amanhã e talvez nas próximas semanas. Acho que a comunicação foi clara, muito tranquila, serena. O mercado vai reagir bem. O dia será de câmbio apreciando e curva de juros desinclinando, com a parte longa devendo cair, e até a bolsa deve se beneficiar. Surpreendeu a visão do BC sobre atividade. Ele tomou a decisão pela alta de juros e justificou dizendo que a atividade vinha em ritmo forte antes da segunda onda (de Covid-19)."
SÉRGIO ZANINI, SÓCIO-GESTOR, GALAPAGOS CAPITAL
"O BC está atuando para corrigir excesso (de estímulo monetário), por isso falaram em normalização parcial. Tendência é que juros sigam subindo, com 0,75 p.p. de alta em maio e depois talvez num passo mais moderado do que o atual. Dado que eles se mostraram mais dispostos a começar num ritmo mais acelerado, a Selic deve ficar neste ano entre 4,5% e 5%. Ano que vem, com a retomada da economia, reabertura, acho que tem espaço para algo entre 6% e 7%. A sinalização (desta quarta) foi muito positiva para o mercado de maneira geral, e amanhã deverá ser um dia positivo no geral, até para a bolsa. O ajuste na curva curta deverá ser de talvez 10 pontos-base ou 15 pontos-base, com espaço até para queda no juro longo. Dólar pode cair abaixo de 5,40 reais, ainda mais em um ambiente em que o banco central dos EUA sinalizou que altas de juros por lá só vão vir daqui a muito tempo."
MAURO OREFICE, DIRETOR DE INVESTIMENTOS, BS2 ASSET
"Primeiro, o aumento de 75 pontos-base foi contra a expectativa da maioria dos analistas. (...) O BC dá como certo um (outro) aumento de 75 pontos-base na próxima reunião, e a leitura que dá para fazer disso é que o Copom, talvez, seja mais rápido. Inclusive ele menciona isso, que teria algum benefício para fazer um ajuste nas taxas de juros de uma maneira mais célere. Provavelmente o Copom vai ser rápido, porque assim consegue convergir as expectativas de inflação deste ano e do ano que vem para números se não o centro da meta, pelo menos dentro da banda de oscilação. Claramente, o Banco Central mostra uma preocupação com inflação e com projeções de inflação que estão sendo revistas para cima já há algum tempo."
ROBERTO PADOVANI, ECONOMISTA-CHEFE, BV
"BC decidiu antecipar o ciclo o máximo que ele pode. Tinha espaço para subir e optou por uma alta de 0,75 ponto percentual. BC deve aumentar 0,75 ponto na próxima reunião (maio) e também na mesma magnitude em junho para depois encerrar com 0,50 ponto em agosto. O BC quer fazer o máximo de juros para enfrentar a inflação ainda neste ano. É um primeiro esforço para ancorar as expectativas de inflação e também os ativos financeiros. Mas o BC também está preocupado com o crescimento econômico, por isso a ideia da normalização parcial, para depois esperar para ver os resultados agora e aí retomar (alta de juros) no ano que vem. Amanhã teremos dia de dólar em baixa e curva de juros desinclinando."
CIRO ALIPERTI NETO, GESTOR E SÓCIO FUNDADOR, SFA INVESTIMENTOS
"O Banco Central tem sido mais agressivo na venda de câmbio nos últimos dias e semanas, e acho que faz todo sentido ele ser um pouco mais agressivo agora (...) Acho que o mercado vai receber bem, o dólar deve cair amanhã, e acho que até para a bolsa é positivo. (...) Me chamou atenção esse ponto, já condicionando o próximo aumento. Para mudar o que ele está falando (de elevação de 75 pontos-base na próxima reunião, em maio) tem que acontecer uma coisa muito grande, então ele já está vindo com um comunicado bem duro. Foi uma decisão forte e um comunicado duro. A expectativa é que a gente vai ver uma Selic voltando pelo menos para 4,5%-5% rapidamente."
JOSÉ MÁRCIO CAMARGO, ECONOMISTA-CHEFE, GENIAL INVESTIMENTOS
"Uma boa parte da normalização da política monetária estará ocorrendo caso o Banco Central, efetivamente, dê esse aumento (de 0,75 p.p.) de taxa de juros na próxima reunião. De qualquer forma, acho que a decisão é importante, deve ter um efeito importante sobre a curva de juros. A curva de juros deve desinclinar muito provavelmente. Você pode ter até algum efeito sobre a taxa de câmbio."
VITOR PÉRICLES, SÓCIO E ESTRATEGISTA, LAIC
"O BC deu os 75 pontos-base que parcela do mercado pediu e já contratou mais 75 pontos-base para a próxima reunião... A visão dele, pelo comunicado, é que o cenário para 2022 permanece completamente tranquilo em relação à meta de IPCA. Foco no 'normalização parcial'."
RAFAELA VITORIA, ECONOMISTA-CHEFE, BANCO INTER
"Copom subiu a Selic em 0,75 (p.p.), para 2,75%, acima da nossa expectativa de alta de 0,50 (p.p.). Para os próximos passos, o BC espera um novo aumento de mesma magnitude, ou seja, a Selic em maio pode ir para 3,5%, mas ainda a depender da evolução do cenário."
(Por Gabriel Ponte e José de Castro)