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Por Howard Schneider
WASHINGTON (Reuters) - O presidente norte-americano, Donald Trump, pediu nesta quarta-feira que a diretora do Federal Reserve Lisa Cook renuncie, com base em alegações feitas por um de seus aliados políticos sobre hipotecas que ela possui em Michigan e na Geórgia, intensificando seus esforços para ganhar influência sobre o banco central dos Estados Unidos.
Cook disse que "não tinha intenção de ser intimidada a deixar o cargo" no banco central depois que o diretor da Agência Federal de Financiamento da Habitação (FHFA, na sigla em inglês, William Pulte, levantou as alegações em um tuíte.
"Pretendo levar a sério qualquer pergunta sobre meu histórico financeiro como membro do Federal Reserve e, portanto, estou reunindo informações precisas para responder a qualquer pergunta legítima e fornecer os fatos", disse ela em um comunicado.
Trump também disse a assessores que está considerando a possibilidade de demitir Cook, a primeira mulher negra a fazer parte da diretoria do Fed, informou o Wall Street Journal nesta quarta-feira, citando uma autoridade sênior da Casa Branca e outra pessoa familiarizada com o assunto. A Reuters não pôde verificar imediatamente a reportagem.
A Casa Branca se recusou a comentar a reportagem do WSJ.
Pulte alegou em uma postagem no X mais cedo nesta quarta que Cook designou um condomínio em Atlanta como sua residência principal depois de haver tomado um empréstimo para sua casa em Michigan, que ela também declarou como residência principal. Pulte disse à CNBC que também está investigando a propriedade de Cook em Massachusetts.
Os empréstimos para uma residência principal podem ter condições mais favoráveis do que para segundas residências ou para propriedades adquiridas como investimento. Pulte disse que os empréstimos datam de meados de 2021, antes de Cook ser nomeada para o Fed pelo ex-presidente Joe Biden e confirmada pelo Senado no ano seguinte. Ela é natural da Geórgia e, na época, era professora de economia na Michigan State University.
Pulte pediu à procuradora-geral Pam Bondi que investigue, e Trump rapidamente ampliou a alegação. O Departamento de Justiça está levando o assunto muito a sério, disse um funcionário do departamento à Reuters.
Os democratas do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados dos EUA criticaram o ataque de Trump a Cook e prometeram combatê-lo.
A senadora Elizabeth Warren, a principal democrata do Comitê Bancário do Senado, fez eco a essas preocupações, dizendo em um comunicado: "O presidente e seu governo não devem usar o governo federal como arma para demitir ilegalmente membros independentes da Diretoria do Fed".
Os documentos de divulgação financeira arquivados pelo governo federal de Cook mostram três hipotecas contraídas em 2021, incluindo um empréstimo de 15 anos com taxa de 2,5% em uma propriedade de investimento e dois empréstimos para residências pessoais, incluindo uma hipoteca de 30 anos com taxa de 3,25% e uma hipoteca de 15 anos com taxa de 2,875%. A taxa média para empréstimos de 30 anos durante 2021 variou entre 2,9% e 3,3%, mostram os dados da Mortgage Bankers Association. Cook começou no Fed em 2022 e foi renomeada para um mandato de 14 anos em 2023.
"Cook precisa renunciar, agora!!!" Trump escreveu em postagem na sua plataforma de mídia social, seus mais recentes comentários visando remodelar a composição do banco central dos EUA, um órgão projetado para estabelecer a taxa de juros básica de forma independente da influência da Casa Branca.
O governo Trump tem usado as investigações de fraude hipotecária para perseguir vários outros inimigos políticos, incluindo a procuradora-geral democrata do Estado de Nova York, Letitia James, que abriu um processo de fraude civil contra Trump por mentir sobre seu patrimônio líquido para obter seus próprios empréstimos bancários favoráveis enquanto construía seu império imobiliário. Esse caso resultou em uma sentença de US$355 milhões contra Trump no ano passado, da qual o presidente está recorrendo.
Cook é uma das três pessoas nomeadas por Biden para o Fed cujos mandatos se estendem além do período de mandato de Trump, o que complica os esforços do presidente para obter mais controle nomeando a maioria dos sete membros da diretoria. Atualmente, dois dos seis membros restantes da diretoria do Fed foram nomeados por Trump: o diretor Christopher Waller e a vice-presidente de supervisão Michelle Bowman.
Trump tem criticado repetidamente o chair do Fed, Jerome Powell, por causa dos juros, que ele quer que sejam reduzidos drasticamente, pedindo sua demissão enquanto reconhece que as regras de governança do banco central o impedem de demitir membros da diretoria por causa de disputas em torno da política monetária.
Trump pode nomear um novo chair quando o mandato de Powell terminar em maio, mas assegurar uma maioria na diretoria pode levar mais tempo. Powell pode, em tese, continuar atuando como diretor até 2028, ainda que esse não seja o protocolo normalmente seguido por ex-chairs.
Até a saída de Powell, Trump tem por ora apenas uma outra cadeira a ser preenchida, desocupada recentemente pela renúncia surpresa da ex-diretora Adriana Kugler. No início deste mês, Trump nomeou o presidente do Conselho de Assessores Econômicos, Stephen Miran, para cumprir o restante do mandato dela.
(Reportagem de Susan Heavey e Howard Schneider; reportagem adicional de Dan Burns, Sarah N. Lynch, Andrea Shalal e Michael S. Derby)