Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O setor de varejo no Brasil encerrou o primeiro trimestre com estabilidade das vendas em março em relação ao mês anterior, em resultado que contrariou as expectativas de leve retração depois de dois meses de altas.
O dado informado nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi melhor do que a expectativa em pesquisa da Reuters de queda de 0,1% no mês, e mantém o setor no maior patamar da série histórica.
Após avanços de 2,7% em janeiro e 1,0% em fevereiro na comparação mensal, o primeiro trimestre apresentou aumento de 2,5% das vendas em relação aos três meses anteriores, ganhando ritmo frente à queda de 0,2% no quarto trimestre de 2023.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve aumento de 5,7%, contra projeção de alta 5,05% nessa base de comparação..
"Em janeiro e fevereiro houve maior compra de bens de valor agregado por conta da melhora do ambiente econômico. (A estabilidade em março) é uma manutenção do consumo e não mostra uma mudança de rumo ou trajetória. Foi uma acomodação em um trimestre bastante positivo", explicou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
De forma geral, o varejo tende a apresentar resultado positivo neste ano, favorecido por um mercado de trabalho aquecido, aumento da massa salarial, inflação controlada e redução dos juros, o que beneficia principalmente atividades ligadas ao crédito.
"A tendência é que esse ano o consumo das famílias fique mais diversificado entre os diferentes segmentos que compõem o varejo, em especial aqueles mais dependentes do crédito", disse Rafael Perez, economista da Suno Research.
CÂMBIO
Em março, entre as oito atividades pesquisadas, sete apresentaram resultado negativo. A maior queda foi em Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação, de 8,7%, em resultado influenciado pela valorização do dólar.
"É algo muito influente nesse setor por conta das importações. Sempre que o dólar sobe em relação ao real, naturalmente há um aumento de preços que acaba afugentando a demanda neste grupo", disse Santos.
A segunda maior queda no mês foi registrado pelo setor de Móveis e eletrodomésticos, cujas vendas recuaram 2,4%. Já as vendas de Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo apresentaram recuo de 0,3%.
“O setor de super e hipermercados, mais importante da pesquisa, tem operado perto da estabilidade este ano. A melhora macro, como renda, emprego e crédito acabam direcionando o consumo para bens de maior valor“, disse Santos.
A única atividade a apresentar aumento das vendas foi Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, de 1,4%. De acordo com o IBGE, essa foi a terceira atividade com mais peso na pesquisa de março, e seu crescimento explica a estabilidade no resultado geral.
No comércio varejista ampliado, que inclui as atividades de veículos, motos, partes e peças; material de construção e atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo, o volume de vendas recuou 0,3% em março sobre fevereiro.
As vendas de veículos caíram 1,4%, enquanto as de materiais de construção recuaram 0,4%.
Santos enfatizou ainda que o impacto econômico das inundações no Rio Grande do Sul provocadas pelas fortes chuvas deve aparecer mais à frente e que o IBGE faz a coleta dos dados de forma eletrônica.
"O impacto econômico efetivamente vai acontecer, Porto Alegre tem um peso grande e uma pujança, e isso deve aparecer", disse ele, explicando que no começo de cada mês o fluxo de coleta é baixo e que até agora em maio só receberam de 5% a 10%.
"A metodologia prevê que, se houver uma perda de cobertura e informações, a gente pode coletar depois, corrigir e atualizar", completou.