Por Patricia Vilas Boas
SÃO PAULO (Reuters) - O volume de aquisição de imóveis residenciais nos Estados Unidos por brasileiros durante o período de abril de 2022 a março de 2023 registrou uma queda de quase 40% em comparação com o período anterior, mostraram dados da National Association of Realtors (NAR).
As compras de unidades residenciais nos EUA por estrangeiros somaram 53,3 bilhões de dólares no período. Dentre essas transações, cerca de 2%, o equivalente a 1,07 bilhão de dólares, originaram-se do Brasil, afirmou o analista de sênior da NAR, Matt Christopherson, à Reuters.
Nos doze meses imediatamente anteriores, as aquisições por estrangeiros totalizaram 59 bilhões de dólares, dos quais cerca de 3%, ou 1,77 bilhão de dólares, foram provenientes de compradores brasileiros. Na base sequencial, o movimento representa uma queda de 39,5%.
O relatório "Transações Internacionais no Mercado Imobiliário Residencial dos Estados Unidos 2023", da NAR é baseado em uma pesquisa online realizada de 3 de abril a 8 de maio de 2023, enviada para 150.000 corretores de imóveis nos EUA selecionados aleatoriamente e membros de associações locais, que também conduziram pesquisas sobre compradores estrangeiros. A versão 2024 está prevista para ser divulgada em julho.
O relatório ressalta que, com a desaceleração da demanda e maiores taxas hipotecárias, a mediana dos valores de casas nos EUA começou a recuar ano a ano, mas devido a anos de subprodução o mercado imobiliário norte-americano permaneceu subabastecido, o que manteve forte os preços de moradias.
"Se diminuir o juro americano, vai, como em qualquer lugar, aumentar a demanda de imóveis. Mas antes de aumentar a demanda, tem que ter um construtor, incorporador disposto a investir", afirmou Heitor Kuser, membro da NAR e presidente do congresso internacional de mercado imobiliário Cimi360. "A questão é, os preços americanos estão crescendo há muitos anos."
Kuser acrescentou que uma legislação recente que restringe o poder de compra de imóveis por estrangeiros de sete nacionalidades - entre eles, russos e chineses -, na Flórida, destino popular entre brasileiros, pode abrir mais espaço para compradores do Brasil.
"Como esses caras saem do mercado, eles (EUA) têm que vender para alguém", disse Kuser, que também é especialista certificado em propriedades internacionais (CIPS, na sigla em inglês).
Heloisa Arazi, fundadora da AMG International Realty, imobiliária com sede em Miami, porém, não prevê grandes impactos da medida. Ela afirmou que o número de brasileiros comprando imóveis na região cresceu, mas sem relação com a legislação.
"O número de brasileiros aumentou na Flórida, na compra de imóveis, nesses últimos seis meses, mas se você olha nos EUA, em geral, os números são bem diferentes, porque, realmente, brasileiro está concentrado no sul da Flórida."
China, México e Canadá foram os três maiores compradores estrangeiros nos EUA, respondendo por fatias de 13%, 11% e 10%, respectivamente, de todo o volume no período compreendido pela pesquisa da NAR. A Colômbia ocupa a quinta posição, com 3%, atrás da Índia (7%).
O Brasil ocupa o 12º lugar no ranking de origem dos principais compradores estrangeiros de casas nos EUA, conforme dados fornecidos por Christopherson.
O volume em dólar das aquisições por compradores estrangeiros diminuiu 9,6% em relação ao período anterior. Cerca de metade dos compradores adquiriram imóvel para uso como casa de férias, propriedade para aluguel ou ambos, segundo a pesquisa.