IPCA: Energia, loterias e passagens aéreas contribuíram para aceleração em julho
Investing.com – Os índices futuros das bolsas norte-americanas operavam perto da estabilidade, sem direção única, nesta quarta-feira, em meio à repercussão dos dados mistos de inflação ao consumidor e à expectativa por novos indicadores de preços.
Investidores também monitoram a divulgação de resultados corporativos, enquanto a fabricante europeia de equipamentos para semicondutores ASML (AS:ASML) alerta que pode não crescer em 2026, citando os possíveis entraves decorrentes das tarifas norte-americanas.
No campo geopolítico, o presidente Donald Trump revelou um novo acordo comercial com a Indonésia, a poucos dias da entrada em vigor das tarifas "recíprocas", programadas para 1º de agosto.
Já no cenário político local, o governo federal pede à justiça medida cautelar para retomar o decreto que aumenta o imposto sobre operações financeiras (IOF), após falta de acordo com o Congresso em audiência de conciliação ontem.
1. Futuros estáveis em Nova York
Os principais índices futuros de Wall Street operam estáveis, sem direção única, nesta manhã, diante da expectativa pela divulgação de indicadores inflacionários e de uma nova leva de balanços corporativos.
Às 7h45 de Brasília, o Dow Jones subia 0,05%, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq recuavam 0,04% e 0,18%. respectivamente, no mercado futuro.
Na sessão anterior, o Dow Jones Industrial Average e o S&P 500 encerraram em território negativo, com os investidores avaliando os dados de inflação de junho. Embora os números tenham vindo em linha com o esperado, houve aceleração no custo de itens diretamente afetados pelas tarifas comerciais.
Com isso, aumentou a percepção de que o Federal Reserve manterá os juros inalterados na próxima reunião, prevista para este mês, cenário que pode acirrar o embate político entre Trump e o presidente do Fed, Jerome Powell. O mandatário voltou a criticar Powell publicamente e chegou a mencionar a possibilidade de sua destituição, frustrado com a ausência de cortes na taxa básica.
No setor bancário, os primeiros balanços da temporada trouxeram resultados acima do consenso, embora a reação do mercado tenha sido heterogênea. As ações do JPMorgan (NYSE:JPM) recuaram levemente, o Citigroup (NYSE:C) subiu 3,7%, e o Wells Fargo (NYSE:WFC) teve queda de 5,5% após revisar para baixo sua estimativa de receita líquida de juros para o ano.
2. Trump sela pacto tarifário com a Indonésia
Na terça-feira, o presidente Trump anunciou que os Estados Unidos aplicarão uma tarifa de 19% sobre produtos importados da Indonésia, como parte de um novo acordo comercial com o país asiático.
Atualmente, as mercadorias indonésias estão sujeitas a uma alíquota de 10%, enquanto o governo local não impõe tributos sobre bens norte-americanos. O novo pacto também prevê penalidades adicionais para práticas de "transbordo", quando produtos oriundos da China são desviados para os EUA por meio da Indonésia.
O acordo sucede tratativas semelhantes recentemente divulgadas pela Casa Branca com o Reino Unido, a China e o Vietnã.
Segundo Trump, outros acordos estão em estágio avançado de negociação. O prazo final para a entrada em vigor das chamadas tarifas “recíprocas” permanece 1º de agosto, conforme reiterou a Casa Branca, após o adiamento anterior causado por forte volatilidade nos mercados em abril.
De acordo com projeções do Yale Budget Lab, considerando os anúncios tarifários feitos por Trump até o último domingo, a alíquota média efetiva passará a 20,6%, ante um patamar entre 2% e 3% vigente antes de seu retorno ao poder em janeiro.
3. Temporada de balanços ganha tração
Nesta quarta-feira, diversos balanços de grandes empresas dos EUA devem ser divulgados, dando sequência à temporada trimestral de resultados.
Entre os destaques do dia estão os relatórios de instituições financeiras como Bank of America (NYSE:BAC), Morgan Stanley (NYSE:MS) e Goldman Sachs (NYSE:GS), que poderão lançar luz sobre as perspectivas para o setor nos próximos trimestres.
No segmento farmacêutico, o mercado aguarda os números da Johnson & Johnson (NYSE:JNJ), que podem oferecer um retrato preliminar da indústria neste início de segundo semestre.
Já no setor aéreo, a United Airlines (NASDAQ:UAL) divulgará seus resultados após o fechamento do pregão. Na semana passada, a Delta Air Lines (NYSE:DAL) restabeleceu sua projeção para o ano, antes suspensa, amparada por sinais de estabilização da demanda e pela redução da capacidade operacional no setor, fatores que podem favorecer a recuperação da receita por milha de assento disponível.
4. IPP de junho e Livro Bege do Fed no radar
Além dos balanços, o mercado acompanhará nesta quarta-feira a divulgação do Índice de Preços ao Produtor (IPP) referente a junho, que deve oferecer mais pistas sobre a trajetória da inflação.
A expectativa é de que o IPP acumule alta de 2,5% em doze meses, levemente abaixo dos 2,6% registrados em maio. Na comparação mensal, estima-se uma variação de 0,2%, superando o avanço de 0,1% observado no mês anterior.
Também será publicado o Livro Bege, relatório elaborado pelo Federal Reserve com base em informações qualitativas sobre a atividade econômica dos EUA. O documento reúne dados de campo obtidos por meio de entrevistas com empresários, analistas de mercado e representantes do setor produtivo.
Para os analistas da Vital Knowledge, o relatório ganhou relevância adicional no cenário atual, marcado por múltiplos vetores que afetam os indicadores macroeconômicos. “O Livro Bege deve refletir uma combinação de pressões inflacionárias persistentes e obstáculos ao crescimento, características típicas de um ambiente estagflacionário agravado por disputas comerciais”, escreveram em nota enviada a clientes.
5. Governo Lula quer volta do IOF
O governo federal recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para restabelecer o decreto que elevou o IOF, após sua derrubada pelo Congresso, argumentando que a medida é constitucional e necessária para preservar a separação entre os Poderes.
Em audiência de conciliação conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, a Advocacia-Geral da União (AGU) rejeitou negociações com o Legislativo e pediu decisão urgente, enquanto Senado e Câmara pedem mais tempo para discutir alternativas durante o recesso.
A judicialização do tema pressiona o Supremo a se posicionar rapidamente, reacendendo tensões entre os Poderes e potencialmente ampliando o desgaste político de Moraes, caso decida contra o Parlamento.
Também ontem, a Câmara dos Deputados aprovou, em primeiro turno, o texto-base da PEC que muda a forma de contabilização dos precatórios a partir de 2027, permitindo que esses pagamentos, que hoje ultrapassam R$ 120 bilhões, sejam gradualmente incorporados à meta fiscal ao longo de dez anos, começando com pelo menos 10% no primeiro ano.
A medida, articulada com o Ministério do Planejamento, visa viabilizar o cumprimento das metas fiscais dentro do novo arcabouço aprovado em 2023, diante da pressão crescente das despesas obrigatórias.
A proposta ainda precisa passar por nova votação na Câmara e retornar ao Senado, mas já é vista como uma tentativa de criar fôlego fiscal para o próximo governo, embora especialistas alertem que ajustes estruturais seguirão sendo necessários.
Por fim, o governo dos Estados Unidos decidiu iniciar uma investigação comercial contra o Brasil, alegando que medidas adotadas pelo governo estariam prejudicando empresas norte-americanas de tecnologia.
A apuração, conduzida pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA por ordem do presidente Donald Trump, se baseia na Seção 301 da lei comercial dos EUA e pode resultar na aplicação de sanções econômicas, como tarifas adicionais, além da já anunciada taxa de 50% sobre produtos brasileiros.
Segundo Washington, o Brasil estaria retaliando “big techs” por questões de moderação de conteúdo, favorecendo parceiros comerciais com tarifas reduzidas e descumprindo normas internacionais de transparência, anticorrupção e proteção à propriedade intelectual.