Investing.com - O otimismo com os juros mais baixos no Brasil e nos EUA não resistiu ao receio de que as novas tarifas protecionistas de Donald Trump sobre a China iniciem uma guerra comercial com forte impacto na economia e empresas globais.
O Ibovespa acompanhou – em menor grau – o tombo em Wall Street e recuou 0,25% aos 84.767 pontos.
O pregão começou com o índice oscilando com leves variações para o positivo e negativo, enquanto os investidores se ajustavam aos novos cenários de juros mais baixos no Brasil, após comunicado surpreendente do Copom ontem, e com o Federal Reserve adotando tom mais dovish.
O mercado local chegou a surfar num leve otimismo ao ter a confirmação de que o Brasil estaria temporariamente isento das taxas de importação de aço e alumínio dos EUA, mas com a abertura pesada de Wall Street, o índice foi definitivamente para o negativo.
As ações nos EUA não resistiram a uma nova rodada de protecionismo após a decisão de Trump de taxar até US$ 50 bilhões em importações chinesas. O mercado acredita que as medidas retaliatórias do país asiático possam ter forte repercussão em retrair o comércio global.
O Dow 30 recuou 2,9% e fechou abaixo dos 24 mil pontos, enquanto o S&P 500 cedeu 2,5% e o Nasdaq desvalorizou 2,4%
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Veja os principais temas do calendário econômico que deverão movimentar o mercado nesta sexta-feira:
Inflação baliza expectativas de juros
O principal evento econômico no mercado brasileiro nesta sexta-feira será a publicação dos dados de IPCA-15 de março. O consenso aposta em um número de 0,12% na comparação com fevereiro, o que reduziria o valor em 12 meses para 2,82%, frente aos 2,86% do mês anterior.
O número será um importante balizador para o novo cenário de juros ainda mais baixos no Brasil, pois pode configurar a sequência da surpresa do BC – e do mercado – com a desinfalação.
Ontem, o Copom surpreendeu o mercado ao deixar claro que executará mais um corte nas taxas de juros na reunião de maio, o que levaria a Selic ao recorde de 6,25%. Os analistas aguardavam majoritariamente o corte de ontem para 6,5% e se dividiam sobre a possibilidade de o BC deixar ‘uma porta aberta’ para uma nova redução.
Em um cenário de inflação ainda mais fraca, novos ajustes na taxa de juros podem entrar no radar do mercado.
Guerra comercial: Tarifas de Trump
A guinada protecionista amplamente defendida por Donald Trump durante sua campanha presidencial de 2016 começou a tomar forma nas últimas semanas. Após a imposição de uma taxa de 25% sobre a importação de aço e de 10% sobre a de alumínio, o presidente dos EUA assinou plano para impor tarifas em até US$ 50 bilhões em compras de produtos vindas da China.
Apesar de a decisão de Trump de colocar as tarifas em vigor somente após um período de consulta pública, a China deverá começar a indicar as retaliações à medida para ter maior poder de barganha nas negociações. Esse clima negativo e de indecisão sobre uma possível guerra comercial global poderá prevalecer no mercado nas próximas semanas e ter peso nas commodities, base para a indústria chinesa.
Trump quer reduzir o déficit comercial de US$ 350 bilhões que o país possui com a China e citou práticas irregulares do país para a obtenção de propriedade intelectual.
Fed, mercado imobiliário, bens duráveis e contagem de sondas
A posição surpreendentemente dovish do FOMC em sua revisão de cenário na quarta-feira, mantendo as expectativas de três altas de juros neste ano, fez aumentar o interesse do mercado pelo posicionamento público dos diretores. Parte dos analistas acredita que o Fed acabará elevando os juros em quatro ocasiões neste ano e o banco prepara uma lenta mudança de discurso.
Amanhã, o presidente Federal Reserve de Atlanta, Raphael Bostic, fará um discurso às 9h10, enquanto o presidente do Federal Reserve de Mineápolis, Neels Kashkari, fala às 11h30 e o presidente do Federal Reserve de Boston, Eric Rosengren, discursará às 20h. Os investidores buscarão dicas de que o banco começará a se encaminhar para um aumento no ritmo de aumento de taxas de juros.
Ainda no mercado norte-americano, serão publicados os dados de vendas de residências e de bens duráveis. Os dados chamarão a atenção, pois os últimos números publicados, relativos a janeiro, vieram abaixo das projeções e indicaram uma economia menos aquecida.
A projeção do mercado é de alta de 0,5% no núcleo de bens duráveis em fevereiro, contra queda de 0,3% no mês anterior. A venda de novas casas deverá ter aumentado 4,4% para 623 mil unidades, contra 593 mil em janeiro.
Para encerrar o dia, a Baker Hughes publica o número de sondas de petróleo em atividade nos EUA. O dado é um balizador das expectativas de crescimento da produção de petróleo no país.