SÃO PAULO (Reuters) - A incidência do greening no cinturão de produção de laranja de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro aumentou para 44,35% dos pomares em 2024, no sétimo ano consecutivo de avanço da pior doença da citricultura, segundo levantamento anual do Fundecitrus divulgado nesta sexta-feira.
Em 2023, a incidência da doença havia atingido 38,06%.
O greening e o tempo seco têm sido dois fatores por trás das seguidas baixas colheitas no Brasil, maior produtor e exportador global de suco de laranja, que colaboraram para impulsionar os preços do suco na bolsa de Nova York para máximas históricas em 2024.
A nova safra de laranja do cinturão produtor de São Paulo e Minas Gerais foi estimada em maio em 232,38 milhões de caixas de 40,8 kg, queda de 24,36% na comparação com o ciclo anterior.
Segundo o Fundecitrus, a incidência da doença -- que não tem cura e reduz a produtividade dos pomares em cerca de 60% em relação a uma árvore sadia -- correspondeu a aproximadamente 90,36 milhões de pés afetados em 2024, de um total de 203,74 milhões de laranjeiras em todo o parque citrícola.
"O avanço da doença é reflexo do maior registro histórico populacional do inseto que transmite a doença ocorrido ainda em 2023, quando a média de captura por armadilha aumentou 54% em relação a 2022", disse o Fundecitrus.
Por outro lado, mesmo com a alta, o incremento de 6,29 pontos percentuais na incidência neste ano foi menor do que o aumento de 13,66 pontos de 2022 para 2023, segundo o Fundecitrus.
Para o fundo de pesquisa, isso é um bom indicativo de desaceleração da velocidade de evolução da doença, mas o cenário ainda é de preocupação e continua exigindo dos citricultores a adoção de medidas eficazes para a mitigação da doença nos pomares, principalmente com o controle adequado do psilídeo e eliminação de plantas doentes.
"O avanço do greening é uma realidade no nosso parque citrícola há sete anos. Isso não mudou! Os citricultores e profissionais do setor, que estão no dia a dia do pomar, precisam dar sequência ao trabalho que vem sendo feito para a mitigação da doença e o controle eficaz do psilídeo", disse o gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres, em nota.
Um dos possíveis fatores relacionados à desaceleração da velocidade de evolução da doença, de um ano para outro, é que em boa parte do segundo semestre de 2023 e início de 2024, as temperaturas foram mais altas do que o normal em todo o cinturão citrícola.
"Embora essas ondas de calor não tenham sido suficientes para baixar a população de psilídeos, elas podem ter acelerado o crescimento dos brotos e afetado a multiplicação da bactéria neles, interferindo negativamente na aquisição e transmissão da bactéria pelo psilídeo", explicou o pesquisador do Fundecitrus Renato Bassanezi.
Das 12 regiões do cinturão citrícola, cinco estão com incidência acima de 60%, duas com incidência entre 40 e 50%, três com incidência entre 15 e 25% e apenas duas com incidência abaixo de 5%.
As regiões com maiores incidências em 2024 continuam sendo Limeira (79,38%), Brotas (77,06%), Porto Ferreira (71,77%), Duartina (63,93%) e Avaré (63,41%).
Segundo os pesquisadores, é "imprescindível" reforçar as aplicações de inseticidas para controlar o psilídeo, para que as plantas doentes não sirvam de fonte de inóculo e acelerem a propagação e a severidade da doença dentro do pomar e nos pomares vizinhos.
Como a doença não tem cura, as recomendações também incluem a eliminação de plantas doentes dentro do pomar, uma medida que muitos produtores hesitam em tomar, considerando a disparada dos preços do suco e da laranja.
Para fugir do greening, grande empresas estão avaliando migrar para outras áreas menos tradicionais da citricultura, onde há menor pressão da doença.
O grupo Cutrale, um dos líderes globais na produção e exportação de suco de laranja, investirá 500 milhões de reais no plantio de 5 mil hectares da fruta na divisa de Campo Grande com Sidrolândia, em Mato Grosso do Sul, conforme informações do governo local divulgadas em março.
A Citrosuco também está buscando regiões com menor pressão de greening, cultivando em novas fazendas de Minas Gerais.
(Por Roberto Samora)