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Economistas cortam projeção de crescimento para 1,5% e veem dólar em até R$ 4,20

Publicado 09.06.2018, 01:51
Atualizado 10.06.2018, 19:50
© Reuters.  Economistas cortam projeção de crescimento do Brasil para 1,5% e veem dólar em até R$ 4,20
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Arena do Pavini - A greve dos caminhoneiros desencadeou uma onda de descontentamento na sociedade que deve contaminar a economia e o cenário político, agravando ainda mais a situação já delicada do Brasil. A reação atabalhoada do governo e do Congresso e a defesa de medidas populistas como solução para a crise por candidatos à Presidência, apoiadas pela população, provocaram uma onda de pessimismo nos mercados financeiros que acentuou a alta das cotações do dólar a partir da fuga de investidores e da busca de proteção cambial. Os ativos brasileiros, a começar pelo real, foram brutalmente reavaliados para baixo.

A moeda americana, que já subia no mundo todo por conta da elevação dos juros nos Estados Unidos, disparou diante de um real com futuro incerto. Um futuro comprometido pela perspectiva de manutenção do grave desequilíbrio fiscal do país a partir das chances cada vez maiores de eleição de um presidente populista e contrário ao teto de gastos e às reformas. A alta do dólar, por sua vez, contaminou os juros ao ameaçar puxar a inflação, colocando em risco a retomada da economia ao encarecer o crédito. E tudo isso abaterá um pouco mais a confiança de consumidores e empresários, combustível da ainda cambaleante retomada econômica, derrubando também a bolsa.

Diante desse cenário, consultorias e bancos estão cortando suas estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, de 3% há alguns meses atrás para cerca de 1,5% agora. Estão também revendo para pior as principais variáveis da economia. As projeções para o dólar variam de 3,60% a R$ 4,20 e há quem aposte em uma alta da Selic nos próximos meses, o que reduziria ainda mais o crescimento.

A projeção de inflação da Rio Bravo Investimentos não mudou, mas a estimativa para o PIB está agora na faixa de 1,5%, afirma Evandro Buccini, economista-chefe da gestora. Antes, o crescimento esperado era de 2,1%. A redução ocorreu pelos efeitos da greve dos caminhoneiros, que foram fortes, como mostraram as vendas de carros e o consumo de energia elétrica. “O efeito indica um impacto de meio ponto percentual”, diz.

Impacto na confiança

“Estamos vendo uma onda de revisão para baixo do PIB, e nós baixamos a nossa de 2,80% para 2% e reconhecemos que, hoje, isso tende a ser um teto”, afirma Antonio Pena, economista-chefe da Porto Seguro (SA:PSSA3) Investimentos. O maior impacto da greve dos caminhoneiros foi na atividade econômica e nos indicadores de confiança, que ainda não captaram os efeitos da greve. “Os novos dados de confiança devem mostrar queda maior, e menor grau de confiança deve afetar consumidores e empresários, limitando o consumo de bens de maior valor agregado e o investimento das empresas”, afirma Pena. Isso reduz a demanda agregada da economia o mercado de trabalho, instalando um circulo vicioso que nem o cenário interno nem o externo parecem interromper no futuro próximo.

Bradesco (SA:BBDC4), queda de 1 ponto na projeção do PIB

O Departamento Econômico do Bradesco atualizou a projeção de PIB para 2018, de 2,5% para 1,5%. Além dos dados de curto prazo mais fracos, ainda devem aparecer nos indicadores: (i) o efeito da depreciação cambial, impactando tanto investimentos quanto o consumo das famílias; (ii) a greve dos caminhoneiros, com impacto majoritário sobre o PIB do segundo trimestre; e (iii) o aperto das condições financeiras, com elevação do risco país e da curva de juros futuros.

Do lado da inflação, o banco também revisou a projeção de IPCA em 2018, de 3,5% para 3,9%. A depreciação cambial é o principal choque afetando a inflação no curto prazo, mas parte majoritária da mudança decorre da estimativa para os preços administrados, que passou de uma alta de 5,0% para outra de 6,5%, fruto de revisões altistas para gasolina e energia elétrica.

Dólar a R$ 3,60

O Bradesco também calibrou a expectativa para a taxa de câmbio para R$ 3,60. Já o juro Selic seguirá estável em 6,5% ao final deste ano. “O cenário econômico, é verdade, segue volátil, mas acreditamos que ainda persistem fundamentos mais positivos do que negativos”, diz o banco. “Em outros episódios de choque cambial, o país possuía enorme déficit externo, inflação acima da meta e preços represados, o que constituía uma política econômica de baixa consistência.”

O banco acredita que a persistência da divergência das taxas de crescimento entre os EUA e o resto do mundo e o crescente diferencial de juro a favor dos EUA (mesmo que o Banco Central Europeu anuncie o fim de seu programa de compra de ativos) apontam para manutenção do dólar forte no mundo. Além disso, a continuidade da normalização dos juros nos Estados Unidos e o ambiente de comércio global incerto pelas disputas comerciais do presidente Donald Trump devem continuar ameaçando os fluxos para mercados emergentes com fundamentos menos robustos.

Resultado primário pior em 2018 e 2019

Também o Departamento Econômico do Itaú (SA:ITUB4) reduziu as projeções de crescimento do PIB, de 2,0% para 1,7% em 2018 e de 2,8% para 2,5% em 2019, devido ao aperto das condições financeiras e ao impacto da paralisação dos caminhoneiros.Também por conta da greve, o banco piorou as projeções de resultado primário do governo, de -1,9% do PIB para -2,1% do PIB em 2018 e de -1,2% para -1,4% do PIB em 2019, incorporando as medidas tomadas para encerrar a paralisação dos caminhoneiros e o menor crescimento econômico.

O maior banco privado do país também trabalha agora com uma taxa de câmbio de R$ 3,70 reais por dólar no fim de 2018 e 2019, maior que os R$ 3,50 previstos anteriormente. As projeções de inflação pelo IPCA subiram para 3,8% este ano e 4,1% em 2019.” As paralisações dos caminhoneiros devem provocar apenas uma pressão transitória na inflação, mas a depreciação cambial tende a exercer leve pressão altista”, acredita o banco, que aposta também que o BC deve manter a taxa Selic em 6,5% até o fim do ano. “A dinâmica cambial pode influenciar as próximas decisões apenas se impactar de forma relevante as expectativas de inflação”, diz o Itaú.

Desemprego maior

O Itaú elevou as projeções de desemprego, em linha com o crescimento menor do PIB. Com modelos que levam em conta o novo cenário de crescimento do PIB e as sensibilidades de diferentes tipos de ocupação em relação à atividade, o banco aumentou a projeção de desemprego ao fim de 2018 de 12,1% para 12,2% (ajuste sazonal, 1T18: 12,5%) e de 11,5% para 11,8% ao fim de 2019. A taxa de desemprego média projetada para 2018 segue em 12,3% e, para 2019, sobe de 11,7% para 12,0%.

Dólar a R$ 4,20 no fim deste ano

Em função do cenário de maiores riscos internos e externos, a MCM Consultores revisou para cima as projeções para a taxa de câmbio em 2018 e nos anos seguintes. Assim, a taxa de câmbio será de R$ 4,20 no fim deste ano, após provavelmente ultrapassar os R$ 4,25 no momento de maior nervosismo, e de R$ 4,00 ao fim de 2019. “Projetamos, portanto, uma relativa contenção da depreciação da moeda doméstica no final de 2018 e uma moderada apreciação da taxa de câmbio em 2019”, afirma a consultora.

A MCM também revisou para cima as projeções para o IPCA, pois a mudança de patamar da taxa de câmbio pressionará a inflação, direta e indiretamente, em 2018 e 2019. “Porém, não antecipamos risco de aceleração intensa da inflação, tendo em vista a manutenção de um largo hiato negativo do produto por mais tempo do que o previsto e os efeitos conjunturalmente benéficos da indexação”, diz a consultoria. A estabilização da inflação abaixo de 3% nos primeiros cinco meses do ano e o fato de que a inflação dos preços livres excluindo alimentos no domicílio também está abaixo de 3% e ainda em desaceleração, mostram que o IPCA possui, efetivamente, amplo espaço para absorver choques.

Inflação acima da meta em 2019

“Além disso, a provável deterioração das expectativas de inflação, ao longo do segundo semestre de 2018, em decorrência da depreciação do real, tenderá a ser estancada pelo inevitável ajuste da política monetária”, afirma a consultoria. Assim, as novas projeções para a inflação medida pelo IPCA são de 4,0% em 2018 e 4,6% em 2019, acima, portanto, da meta de 4,25% do ano que vem, mas dentro do intervalo de tolerância. “Revisamos para cima nossas projeções para os anos seguintes também, pois acreditamos que o avanço lento das reformas e eventuais pitadas de populismo, até mesmo em relação à austeridade monetária, tendem a manter elevadas as expectativas de inflação de longo prazo e a dificultar a manutenção da inflação próxima às metas”, avalia a MCM.

Selic de 9% em abril

A consultoria acredita que a reação dos juros à piora das expectativas de inflação não poderá tardar e terá continuidade sob o novo governo. “Por ora, descartamos cenários “críticos”, como o precificado pela curva de juros no momento em que este relatório está sendo escrito”, diz a MCM em relatório. “No entanto, também acreditamos que o ciclo de ajuste do juro básico terá início este ano e precisará ser curto e contundente”, alerta. A consultoria acredita que a Selic será elevada em 1 ponto percentual, para 7,5% ao ano, em dezembro, e continuará a ser ajustada, ao ritmo de 0,5 p.p. por reunião, até 9,0% a.a., em abril do próximo ano.

PIB potencial pode cair

Junto com tudo isso, a MCM rebaixou a projeção para o PIB. A recuperação este ano será muito mais lenta do que o previsto e, se os avanços das reformas estruturais forem modestos como a consultoria espera após a eleição, a continuidade da recuperação nos próximos anos terá menor vigor. “Revisamos o crescimento de 2018 e de 2019 para 1,8% e 1,3%, respectivamente”, diz a MCM. Além disso, a consultoria acredita que o crescimento potencial, já visto como modesto em versões anteriores do cenário (2,5% a.a.), ficará ainda mais prejudicado na ausência de reformas macro e microeconômicas profundas, não ultrapassando 2,0% a.a.

Por Arena do Pavini

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