Por Christian Plumb
WASHINGTON (Reuters) - O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse nesta sexta-feira que a evolução dos preços indica um processo de desinflação em curso, mas com velocidade "ainda incerta", e destacou que, do lado fiscal, as ações para o controle das despesas têm impacto imediato na confiança dos agentes econômicos.
Os comentários, nos bastidores da reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial em Washington, nos Estados Unidos, foram feitos após a inflação medida pelo IPCA em setembro ter subido 0,08 por cento em setembro, menor nível em pouco mais de dois anos, e patamar mais baixo para o mês desde 1998, favorecida pelo alívio no preço dos alimentos. Em 12 meses, o IPCA desacelerou a 8,48 por cento.
Ilan reiterou que o BC está comprometido com o controle da inflação em todo o horizonte de política monetária, que abrange os anos com metas já definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), inclusive o ano de 2017, para o qual persegue a convergência para o alvo de 4,5 por cento.
"A flexibilização das condições monetárias dependerá de fatores que permitam aos membros do Copom (Comitê de Política Monetária) maior confiança no alcance das metas de inflação. O Copom avaliará a evolução de todos fatores como um todo, pois nenhum deles é, por si só, suficiente para as decisões de política monetária", afirmou.
Na próxima reunião do Copom, marcada para os dias 18 e 19 de outubro, a expectativa majoritária do mercado é de um corte de 0,25 ponto percentual na Selic, que está em 14,25 por cento ao ano atualmente.
O presidente do BC repetiu avaliação feita mais cedo nesta semana, em apresentação no Senado, sobre a evolução das condições em relação às quais deve ver melhoria antes de cortar os juros.
Sobre os preços de alimentos, apontou que evidências recentes indicam que a queda dos preços ao produtor tem se transmitido para o varejo, com projeções para subitens de alimentos parecendo mostrar mais segurança no processo de reversão do choque de preços nesse setor.
Já sobre os preços de serviços, ponderou que os sinais ainda são inconclusivos quanto à velocidade da desinflação em direção à meta.
Finalmente em relação aos ajustes fiscais na economia, Ilan repetiu que há sinais positivos quanto ao encaminhamento e apreciação de reformas fiscais, mas que esse processo de tramitação ainda está no início. Portanto, permanecem incertezas quanto à sua aprovação.
Ele destacou, contudo, que as investidas nesse sentido têm rápido efeito sobre a confiança, um dia após comissão especial na Câmara dos Deputados ter aprovado a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o crescimento dos gastos públicos.
"Medidas que racionalizam as despesas permitem aos investidores esperar a estabilização e em seguida o declínio da dívida em relação ao PIB nos próximos anos, com impacto imediato sobre sua confiança", afirmou.
Ilan disse ainda que a nova administração do presidente Michel Temer irá avançar para além do fronte fiscal em uma ampla agenda de reformas estruturais para impulsionar a produtividade e o crescimento no longo prazo.
"A agenda inclui iniciativas para promover o investimento em infraestrutura, privatização e reforma trabalhista", afirmou.
"Todas essas iniciativas são importantes para recuperar um crescimento sustentável e entregar inflação baixa e estável", completou.
Também nos Estados Unidos, o diretor de Assuntos Internacionais do BC, Tiago Berriel, disse em seminário do JP Morgan que há um firme comprometimento do governo com sua agenda de política e que, apesar de riscos de transição, o país pode exibir um progresso gradual, mas firme no endereçamento dos desafios domésticos.
(Com reportagem adicional de Marcela Ayres em Brasília)