Por Brad Haynes e Alberto Alerigi
SÃO PAULO (Reuters) - As montadoras no Brasil estão enfrentando a mais forte desaceleração desde 1999, e pode demorar um ano ou mais antes que a situação mude de figura.
É difícil encontrar uma projeção otimista para 2015 no Salão do Automóvel de São Paulo nesta semana, onde companhias acostumadas a um mercado com crescimento de dois dígitos estão agora se vendo diante de três anos seguidos de vendas em queda.
"Parece que o mercado passará por um período difícil até 2016", disse o presidente da Toyota para o Brasil, Koji Kondo, citando custos trabalhistas, impostos crescentes e gargalos de infraestrutura como problemas persistentes. "É difícil que as condições econômicas do Brasil se recuperem no curto prazo".
As vendas de carros e caminhões leves caíram 9 por cento no acumulado deste ano até setembro ante os primeiros nove meses de 2013, conforme a demanda diminui devido ao crédito mais escasso e à confiança fraca de consumidores. Unidades locais de montadoras globais passaram de galinhas dos ovos de ouro para sérias dores de cabeça, com novas fábricas criando um acúmulo nos estoques.
A fraqueza no Brasil combinada à economia argentina errática pode deixar até 50 por cento da capacidade da indústria na América do Sul ociosa no ano que vem, segundo o vice-presidente de assuntos institucionais da Ford para a América do Sul, Rogelio Golfarb.
A indústria automotiva, que responde por cerca de um quarto da produção industrial, se tornou emblemática para os desafios diante da presidente Dilma Rousseff em seu novo mandato.
O mercado automotivo do país ainda crescia quando Rousseff assumiu o posto em 2011, dobrando em uma década para se tornar o quarto maior mercado do mundo. No entanto, custos crescentes e importados mais competitivos representam problemas para as montadoras e outras fabricantes locais.
A reação do governo Dilma foi uma série de desonerações fiscais direcionadas, barreiras à importação e subsídios ao crédito para montadoras e outras indústrias favorecidas. As medidas impulsionaram as vendas temporariamente mas pouco ajudaram a competitividade do Brasil. Agora está sendo difícil tirar das companhias o que deveriam ser medidas emergenciais.
Executivos no salão do automóvel na terça-feira defenderam mais uma extensão da redução da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que deveria ter durado três meses em 2012 e que desde então vem sugando bilhões do apertado orçamento federal. Um plano para encerrar a redução da alíquota do IPO foi mais tarde adiada até o fim de dezembro.
"O IPI como está hoje faz parte da indústria. Consumidor já se acostumou com ele. Se mudar, não pode aumentar", disse o presidente da GM para a América do Sul, Jaime Ardila, que disse esperar uma leve retomada nas vendas em 2015.
A perda dos incentivos fiscais acabaria com um acordo de cavalheiros entre o governo e as montadoras, que têm reduzido os quadros de funcionários com férias coletivas e planos de demissões voluntárias mas que prometeram não realizar demissões em massa por enquanto.
Sem o incentivo fiscal no ano que vem, montadoras desde a Ford até a Nissan projetam as vendas em linha com 2014, o que provavelmente será considerado o menor volume em quatro anos.
Outros são apenas ligeiramente mais otimistas, como o presidente da Volkswagen para o Brasil, Thomas Schmall, que disse que o mercado pode crescer até 4 por cento no ano que vem.
Outras empresas, como marcas de luxo ou montadoras individuais lançando novos modelos, visam um crescimento mais saudável, mas, por enquanto, aparentemente se trata de um jogo sem vencedores.
"Mais provavelmente, 2016 é quando esperamos que o mercado volte a crescer", disse o presidente da Honda para América do Sul, Issao Mizoguchi. "2015 é o ano de tomar alguns remédios amargos ... se as coisas ficarem estáveis, será bom".