EUA compraram pesos argentinos e acertaram linha de swap de US$20 bi, diz Bessent
Por Marc Jones
LONDRES (Reuters) - O boom das stablecoins lastreadas em dólares, ajudado pelas políticas voltadas para criptomoedas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode sugar US$1 trilhão em depósitos de bancos de economias emergentes nos próximos anos, estima um relatório do Standard Chartered.
Stablecoins são criptomoedas atreladas a um ativo de referência.
Cerca de 99% de todas as stablecoins são atreladas ao dólar, o que, segundo economistas, torna essas criptomoedas espécies de contas bancárias baseadas na moeda norte-americana e cada vez mais atraentes em partes do mundo propensas a crises cambiais.
O Standard Chartered , um banco conhecido por operar em economias em desenvolvimento, disse que o desejo de evitar que suas poupanças sejam perdidas levará indivíduos e empresas a colocarem seu dinheiro em carteiras de stablecoins, em vez de deixá-lo nos bancos.
"Vemos o potencial de US$1 trilhão sair dos bancos de mercados emergentes e migrar para stablecoins nos próximos três anos ou mais", disse o relatório do banco publicado na segunda-feira.
Embora as novas leis norte-americanas de criptomoedas visem mitigar a fuga de depósitos, ao proibir emissores de stablecoins em conformidade com os EUA de pagar rendimentos diretos -- o equivalente a uma taxa de juros em uma conta bancária --, o Standard Chartered disse que as populações do mundo em desenvolvimento ainda assim desejarão esses ativos digitais.
"O retorno do capital é mais importante do que o retorno sobre o capital", disse o banco, estimando que as tendências atuais apontam para o uso de stablecoins como poupança nas economias em desenvolvimento, saltando para US$1,22 trilhão até o final de 2028, ante cerca de US$173 bilhões atualmente.
Embora seja um número grande em termos absolutos, os analistas enfatizaram que ainda representaria apenas 2% dos depósitos bancários nos 16 países que eles consideram de "alto risco" para esse tipo de fuga de depósitos.
Os países incluem Egito, Paquistão, Bangladesh, Sri Lanka, Marrocos e Quênia, que sofreram quedas cambiais nos últimos anos, mas também economias de peso, como Turquia, Índia, China, Brasil e África do Sul.
"Muitos deles, com a principal exceção da China, têm déficits gêmeos que os deixam relativamente vulneráveis à aversão ao risco global e à desvalorização repentina e acentuada da moeda", diz o relatório. Os déficits gêmeos se referem aos rombos fiscal e em conta corrente.
Formuladores de políticas em vários países já expressaram preocupações sobre as stablecoins, incluindo o risco de que elas possam facilitar a fuga de capitais caso ocorra uma crise, além de dificultar sua interrupção.
Há poucos dados sobre quem detém as stablecoins, mas o presidente-executivo da Tether, maior emissora de stablecoins do mundo, disse no ano passado que os mercados emergentes foram a fonte de grande parte de seu crescimento recente, devido à percepção de sua moeda USDT como um ativo semelhante ao dólar.
Enquanto isso, a maioria dos bancos centrais de mercados emergentes está de olho em versões digitais de suas moedas fiduciárias, embora economistas apontem que eles também provavelmente atrairão dinheiro dos bancos comerciais, já que são efetivamente apoiados pelo governo.
(Reportagem de Marc Jones)