Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Após sustentarem ganhos firmes pela manhã, em meio a novos ruídos provocados por comentários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as taxas dos DIs perderam força à tarde e migraram para o território negativo, interrompendo uma sequência de cinco sessões consecutivas de alta.
O movimento no Brasil foi favorecido pela queda dos rendimentos dos Treasuries no exterior, após divulgação de dados do mercado de trabalho e falas do chair do Federal Reserve, Jerome Powell. Além disso, circularam nas mesas de operação rumores de que o Banco Central estaria consultando Tesourarias de bancos sobre eventual intervenção no mercado de câmbio.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 -- que reflete a política monetária no curtíssimo prazo – estava em 10,775%, ante 10,835% do ajuste anterior. Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,685%, ante 11,769% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,995%, ante 12,075%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,44%, ante 12,457%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,44%, ante 12,441%.
Pela manhã, antes mesmo da abertura do mercado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista à rádio Sociedade, de Salvador, que fará "alguma coisa" em relação à alta do dólar ante o real, mas evitou detalhar qual medida será tomada "porque senão estarei alertando meus adversários".
Lula também voltou a criticar o BC, dizendo que a autarquia não pode estar a serviço do sistema financeiro e do mercado.
Os comentários em relação ao BC somaram-se às falas do presidente nos últimos dias, apontadas por profissionais do mercado como um dos principais motivos para que o dólar tenha disparado ante o real e a curva de juros tenha subido no Brasil.
“O primeiro ponto é a ancoragem de expectativas. O governo fracassou em apresentar um plano crível de corte de gastos”, disse durante a tarde Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, ao avaliar mais um dia de pressão sobre a curva de juros.
“Outro ponto diz respeito à atuação do próprio Lula, que não sei se está em um ‘módulo eleitoral’ ou apenas mais agressivo. Não entendo o motivo de tantas falas sem que ele perceba que os efeitos estão sendo muito ruins”, acrescentou.
No pico do dia, às 13h52, a taxa do DI para janeiro de 2027 -- um dos mais líquidos – atingiu 12,185%, em alta de 11 pontos-base ante o ajuste anterior.
Alvo de Lula em suas declarações, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou durante a manhã que a autarquia tem que ficar fora da “arena política” e argumentou que o tempo mostrará que o trabalho da autoridade monetária é técnico.
Campos Neto lembrou ainda que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu de forma unânime em junho pela manutenção da taxa básica Selic em 10,50% ao ano, incluindo os quatro dirigentes indicados por Lula.
"Há um prêmio de risco na curva (de juros), e ele tem sido elevado nas últimas semanas com a incerteza sobre o que acontecerá quando a próxima liderança, o próximo time (do BC) assumir", acrescentou Campos Neto, que deixará o comando da instituição no fim de dezembro. Ele participou de evento do Banco Central Europeu (BCE) em Sintra, Portugal.
No fim da tarde, porém, as taxas futuras perderam força e passaram a cair, em sintonia com a baixa dos rendimentos dos Treasuries. Profissionais do mercado também citavam rumores de que o BC estaria consultando Tesourarias de bancos para avaliar uma possível operação no câmbio.
Consultas deste tipo são comuns em momentos de maior estresse, como o atual, para que o BC possa medir o apetite do mercado por dólares à vista ou por contratos de swap. A instituição vem repetindo que somente vai intervir no câmbio, promovendo novos leilões de moeda, se perceber disfuncionalidades.
Às 16h58, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 5 pontos-base, a 4,432%.