Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs subiram pela quarta sessão consecutiva nesta sexta-feira e se aproximaram dos 13% em vários vencimentos, com a curva refletindo novamente a desconfiança na política fiscal do governo Lula, em um ambiente de incertezas também no exterior.
Das 14 sessões de outubro até agora, as taxas avançaram em dez oportunidades.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2025 -- que reflete as apostas para a Selic no curtíssimo prazo -- estava em 11,192%, ante 11,182% do ajuste anterior.
A taxa para janeiro de 2027 estava em 12,92%, ante o ajuste de 12,849%, e o vencimento para janeiro de 2028 marcava 12,955%, ante 12,89%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2030 estava em 12,97%, ante 12,917%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,86%, ante 12,829%.
Assim como em sessões anteriores, a desconfiança na capacidade do governo de equilibrar as contas públicas impulsionou as taxas futuras no Brasil, a despeito de no exterior os rendimentos dos Treasuries estarem em baixa.
O pessimismo com as contas públicas sustentou as taxas e o dólar ante o real ainda que não tenham surgido nesta sexta-feira, na avaliação de profissionais ouvidos pela Reuters, notícias novas -- nem positivas, nem negativas -- no front fiscal.
Durante evento em São Paulo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a dizer que o Brasil precisa crescer de forma sustentável. No mesmo evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou a abertura de crédito especial para pessoas prejudicadas pelo apagão em São Paulo.
Para o head de renda fixa da Manchester Investimentos, Rafael Sueishi, além da pressão trazida pelo fiscal, o cenário externo não é necessariamente favorável para a queda das taxas no Brasil.
“Os Estados Unidos atrapalham um pouco, porque há uma incerteza sobre sua política monetária. E com o (candidato republicano à Presidência, Donald) Trump, despontando como favorito, espera-se uma política mais protecionista, o que acaba pesando no nosso câmbio”, afirmou Sueishi. “Isso combinado com o principal fator, que é o fiscal, faz as taxas subirem.”
No pior momento do dia, às 11h27, a taxa do DI para janeiro de 2030 atingiu 12,99%. Outros vencimentos, para 2028 e 2029, também colaram nos 13% durante a sessão.
“Claramente estamos no auge do pessimismo desta história recente. Me parece exagerado ter taxas em 13%, imaginar uma Selic acima de 13%, mesmo olhando para a expectativa de inflação desancorada e o fiscal deteriorando”, comentou Sueishi. “Mas o estrangeiro também perde a paciência, surgem ‘stops’ (ordens de parada de perdas), e o fluxo vendedor de Brasil é maior.”
Perto do fechamento a curva precificava 90% de probabilidade de alta de 50 pontos-base da Selic em novembro, contra 10% de chance de elevação de 75 pontos-base. Na quinta-feira os percentuais eram de 88% e 12%, respectivamente. Atualmente a Selic está em 10,75% ao ano.
Às 16h37, o rendimento do Treasury de dois anos--que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo-- tinha queda de 4 pontos-base, a 3,95%. Já o retorno do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 2 pontos-base, a 4,075%.