Por Leandro Manzoni e Jessica Melo
Investing.com - A fala do presidente Jair Bolsonaro (PL) da possibilidade de importação de diesel russo confirma a boa relação comercial entre Brasil e Rússia, cujos números apresentam uma tendência de forte crescimento em 2022.
Entre janeiro e maio deste ano, as importações totais brasileiras da Rússia somaram US$ 3,4 bilhões, alta de 102,78% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Ministério da Economia. A Rússia foi a quinta maior origem das compras brasileiras em valor.
O crescimento da compra de produtos russos foi maior do que a dos principais parceiros comerciais no período. As importações da China subiram 29,8% (US$ 23,62 bilhões), dos EUA tiveram alta de 51,9% (US$ 20,68 bilhões), da União Europeia avançaram 12,9% (US$ 17,11 bilhões) e da Argentina cresceram 11,8% (US$ 4,81 bilhões),
A confirmação do Kremlin de ininterrupção da venda de fertilizantes ao Brasil, somado com a promessa de venda de diesel no terceiro trimestre – período de maior demanda no Brasil devido à safra de grãos – pode impulsionar esses números.
"Então, há chance de comprarmos diesel de lá. Fica, com toda certeza, um preço mais em conta.", comentou Bolsonaro sobre o conteúdo da conversa por telefone com o presidente da Rússia Vladimir Putin nesta terça-feira. O presidente brasileiro disse que segurança alimentar e segurança energética, assim como comércio bilateral, foram tratados.
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Vale ressaltar que Bolsonaro realizou uma visita de Estado à Rússia em fevereiro, antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, mas a guerra já estava iminente. O encontro do presidente brasileiro com Putin foi criticado na época no Brasil e no exterior.
Petróleo impulsionou alta de compras brasileiras da Rússia, diz economista
De acordo com dados apresentados por Robin Brooks, economista-chefe do Instituto Internacional de Finanças (IIF), em um tweet de 22 de junho, a forte alta das importações brasileiras da Rússia seria um sinal de que o petróleo russo já esteja vindo para o Brasil, devido à commodity ser a principal pauta exportadora russa, apesar das sanções aplicadas pelos países ocidentais ao setor petrolífero do país.
"A recessão está chegando de qualquer maneira, enquanto o petróleo russo flui em quantidades recordes para a China e Brasil", destaca o também estrategista do Goldman Sachs (NYSE:GS) no Twitter.
Não há dados do Ministério da Economia que discriminam quais tipos de produtos são comprados da Rússia. No entanto, a importação total de petróleo e outros minerais betuminosos crus pelo Brasil (ou seja, a soma das compras de petróleo de todos os países que venderam ao Brasil) foram uma das maiores altas do ano até maio, com crescimento de 109,12% (US$ 3,1 bilhões).
Somente dos EUA, foram comprados US$ 1,3 bilhão de petróleo cru pelo Brasil, alta de 202%.
Como a Rússia exporta petróleo em meio a sanções?
Brooks recorrentemente cita que a falta de sanções no tráfego de entrada e saída de navios petroleiros da Rússia impede a eficácia das sanções adotadas pelos países ocidentais, que direcionaram o embargo diretamente ao petróleo produzido no país.
Em um tweet, Brooks apresenta que, em 2021, quase US$ 100 bilhões da exportação russa de petróleo foram para países de fora da União Europeia.
"A UE está pensando em embargar o petróleo russo. Dado o quão global é o mercado de petróleo, é fundamental prender o petróleo na Rússia, em vez de fazê-lo fluir para outro lugar. A melhor maneira de fazer isso: sancionar o tráfego de petroleiros dentro e fora da Rússia, não embargar diretamente o petróleo."
Uma forma efetiva de impedir que o governo de Putin lucre com o maior preço do petróleo seria impor sanções que crie uma armadilha ao petróleo russo, ou seja, que impossibilitasse a exportação da commodity.
Brooks sugere a aplicação de embargo para seguro marítimo em petroleiros que entram e saem da Rússia. Dessa forma, aumentaria o custo do risco em caso de vazamento de óleo bruto nos mares e oceanos e inviabilizar o deslocamento da commodity de origem russa.
As exportações de petróleo (azul) são o principal motor do superávit c/a da Rússia (preto). A UE está agora a debater um embargo petrolífero. O foco principal deve ser prender o petróleo russo na Rússia, já que o transbordamento de cabeças de poços será um grande problema para Putin. Sancionar o tráfego de petroleiros é fundamental para isso...
Mesmo embarques para países asiáticos, como Índia e China, ficariam impossibilitados com embargo ao seguro marítimo, porque em média quase 25 milhões de barris por dia de petróleo russo exportado são de navios petroleiros com bandeira da Grécia, país membro da União Europeia, segundo o economista.
Há receios com essa medida. Para Brooks, os países ocidentais temem um maior disparo dos preços internacionais do petróleo, levando à economia mundial para a estagflação (recessão com inflação) – que inevitavelmente virá, na sua avaliação.
O custo das sanções atuais à Rússias é baixo na prática, o que impede a redução dos recursos via superávits comerciais que financiam o governo russo. Diminui, nesse caso, a possibilidade de terminar a invasão à Ucrânia em breve.
Mas o economista acredita que o teto de preço do G7 para o petróleo russo pode ser altamente eficaz para diminuir os fluxos de recursos para o país, mas que precisa ser feito de forma ágil.
Ótimo fio de @CraigKennedy77. O fio também sinaliza que o petróleo russo indo para a Ásia é - na prática - apenas mais um "Nebelkerze". Isso exigiria uma enorme capacidade de petroleiros, que a UE pode impedir totalmente, parando os petroleiros gregos ou sancionando o seguro marítimo.
Diesel acima da gasolina, segundo ANP
O preço do barril do petróleo WTI passou de U$ 48,52 no dia 31 de dezembro de 2020 para U$75,21 ao final do ano de 2021, uma valorização de 55,08%. No pregão desta terça-feira (28), terminou cotado em US$ 111,76, alta de 2%.
Enquanto isso, o valor do barril do petróleo Brent subiu de U$ 51,80 no fechamento no dia 31 de dezembro de 2020 para U$ 77,78 um ano depois, uma alta de 50,15%. Nesta terça-feira, o petróleo Brent avançou subiu 2,54% a US$ 113,80.
Já o preço nominal do diesel no Brasil, pela primeira vez após o reajuste de 10 dias atrás, está maior que a da gasolina - sendo que ambos bateram recorde. De acordo com o último boletim da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) sobre preço de combustíveis no país, o litro da gasolina custou, em média, R$ 7,39 e o do diesel R$7,68, entre os dias 19 e 25 de junho. Os reajustes da Petrobras (SA:PETR4) para os combustíveis nas refinarias foram realizados em 17 de junho.
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