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Brasil chega a 200 mil mortes por Covid com recorde de casos e medo de novo estado crítico

Publicado 07.01.2021, 19:33
Atualizado 07.01.2021, 19:35
© Reuters

Por Pedro Fonseca

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Brasil atingiu a trágica marca de 200 mil vidas perdidas pelo novo coronavírus e, apesar da expectativa pela chegada da vacina ao país, epidemiologistas e médicos na linha de frente temem uma explosão de casos após as festas do final do ano, com o registro nesta quinta-feira de um novo recorde diário de infecções e o segundo maior número de mortes em um dia desde o início da pandemia.

Mais 1.524 vítimas fatais da doença foram registradas nesta quinta no país, elevando o total para 200.498, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Também foram registrados quase 88 mil novos casos de Covid-19 no país.

O Brasil voltou a registrar índices de transmissibilidade da doença similares a períodos críticos, e o sistema de saúde tem novamente se aproximado de um possível colapso, sem que tenham sido impostas medidas rígidas de isolamento social como aquelas adotadas no início da pandemia para conter o vírus.

Depois que os casos e óbitos tiveram uma queda em setembro e outubro, os números voltaram a subir novamente em novembro e dezembro, e começaram este ano ainda mais elevados.

"Infelizmente estamos vivendo o período de transmissibilidade igual ao pior momento da pandemia, julho e agosto do ano passado", disse Alexandre Naime, chefe do departamento de Infectologia da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

"Era fundamental que fossem impostas restrições em diversos setores, mas na verdade cada um tem que se cuidar, porque aparentemente não teremos mais nenhuma medida nesse sentido por parte dos governos", acrescentou.

Sem o controle mais rígido da movimentação das pessoas e do funcionamentos dos estabelecimentos, diversas cenas de festas e aglomerações se espalharam pelo país, frequentadas principalmente por jovens de classes sociais mais abastadas, que passaram a concentrar grande parte dos casos de Covid-19 no país.

"Foi uma sacanagem o que aconteceu agora no verão. O que a gente espera é que depois do dia 15 de janeiro vamos, infelizmente, voltar a enfrentar esse estado crítico novamente nos hospitais", disse o médico Rafael Deucher, presidente da Sociedade de Terapia Intensiva do Paraná (Sotipa), cujo Estado enfrenta um surto grave da doença, com 80% de leitos de UTI ocupados na rede pública.

"Agora o pessoal ainda está na praia, infelizmente lá pelo dia 15 a 20 de janeiro vai aumentar muito o número", acrescentou.

A primeira morte por Covid-19 no Brasil foi anunciado por autoridades de saúde no dia 17 de março. Foram praticamente três meses para chegar em 50 mil mortes, e mais 50 dias para se chegar a 100 mil, em 8 de agosto. Desde então, foram mais 5 meses para somar mais 100 mil óbitos.

O número de casos desta quinta-feira --87.843-- ficou bem acima do recorde anterior, de 70.574 em 16 de dezembro, e o registro diário de óbitos só é superado pelas 1.595 mortes registradas em 29 de julho.

O Brasil é o segundo país do mundo com mais mortes por Covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos, e o terceiro na contagem de casos, depois de EUA e Índia.

"BASTANTE PREOCUPANTE"

Depois de atingir um pico no final de julho, com quase 70.000 casos novos e mais de 1.500 óbitos em um único dia, a Covid-19 parecia estar sendo controlada ao cair para o patamar de 20 mil casos e 425 mortes por dia em outubro.

No entanto, a antepenúltima semana do ano passado foi a que registrou o maior número de casos semanais desde o início da pandemia, com 70.574 casos registrados em um único dia.

No último dia do ano também foram identificados no Brasil os dois primeiros casos de uma nova variante do coronavírus identificada inicialmente no Reino Unido que é mais contagiosa do que as outras, o que pode ampliar ainda mais a disseminação no país.

"O cenário mais provável é bastante preocupante", disse Naime, na Unesp.

"Temos o cansaço e o abandono da população em relação às medidas de prevenção por conta da extenuação psicológica, mas também por falta de uma unidade do discurso político. Tem muitas pessoas que estão trabalhando contra a ciência e a saúde pública, contra a máscara, favorecendo aglomeração. Irresponsabilidade tremenda."

Segundo o Índice de Isolamento Social brasileiro, que utiliza dados de localização de aplicativos instalados em telefones celulares, menos de 40% da população tem permanecido em quarentena, bem abaixo dos 60% vistos no início da pandemia.

Esse cenário pode ficar ainda pior com o fim do auxílio emergencial pago pelo governo federal aos vulneráveis, o que pode levar muitas pessoas de volta às ruas em busca de renda.

A cidade de Manaus, que foi uma das primeiras do país a sofrer um colapso do sistema de saúde devido à Covid-19 no ano passado, decretou nesta semana estado de emergência por 180 dias para tentar conter uma segunda onda da doença na cidade.

Com medo de viver a mesma situação, Belo Horizonte decidiu reforçar a quarentena a partir da próxima semana, permitindo o funcionamento apenas dos serviços essenciais, à medida que a ocupação dos leitos de UTI se aproxima dos 90%.

"A realidade é dura", disse o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em pronunciamento à imprensa nesta quinta-feira, reconhecendo que o Brasil atravessa um "segundo ciclo" da pandemia.

Em nota, o Ministério da Saúde prestou solidariedade às vítimas em nome do presidente Jair Bolsonaro e do governo federal.

VACINAS

Além do preocupante quadro epidemiológico, o Brasil ainda não conseguiu iniciar sua campanha de vacinação contra a Covid-19, ao contrário do que já acontece em mais de 40 países do mundo, incluindo Argentina, Chile e México.

O país não conta sequer, até o momento, com um pedido formal de uso emergencial de um imunizante, mediante atrasos e problemas de planejamento.

Nesta quinta-feira o Instituto Butantan anunciou que a CoronaVac teve eficácia de 78% em ensaio clínico realizado no país, e espera-se ainda para esta semana que apresente à Anvisa pedido de uso emergencial. Também está previsto para esta semana pedido à Anvisa da Fundação Oswaldo Cruz.

Mesmo quando a vacinação começar, no entanto, será necessário um longo período até se alcançar a chamada imunidade de rebanho, de acordo com especialistas.

"Talvez no meio do ano os grupos prioritários estejam vacinados, se tudo der certo", disse Naime, ressaltando que a população terá que se proteger ainda por um bom tempo.

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