Por Geoffrey Smith
Investing.com -- Depois de resistir por mais de dois anos, o yuan finalmente pegou Covid.
A moeda da China se enfraqueceu com mais rapidez na última semana do que em qualquer momento desde 2015, perdendo quase 3% contra um dólar em modo turbo com as expectativas de aumentos nas taxas de juros do Federal Reserve.
Às 13:00h da terça-feira, o dólar era cotado a 6,5893 em relação ao de encontro ao yuan offshore, no que parece ser o começo de uma de suas correções periódicas e abruptas. Episódios anteriores semelhantes - em 2015, quando o país flertou com uma deflação de preços ao produtor, e em 2018, quando Donald Trump declarou uma guerra comercial contra a China - sugerem que o yuan pode perder 10% ou mais contra o dólar antes de alcançar o seu fundo.
Assim como nesses dois períodos, a atual crise de fraqueza reflete um risco muito real para a saúde econômica do país. O coronavírus, identificado pela primeira vez em Wuhan, completou a sua viagem ao redor do mundo, retornando de uma forma menos letal, porém muito mais difícil de se controlar. O uso intensivo de lockdowns por parte das autoridades a fim de eliminar qualquer vestígio da doença pode ter funcionado contra a estirpe inicial de Wuhan, mas parece inadequada para combater a insidiosa cepa ômicron e suas subvariantes.
O efeito é duplo: os lockdowns extremos devastaram a demanda dos consumidores em cidades como Xangai e regiões como a de Jilin, no nordeste do país, e parecem prontas para fazer o mesmo na capital Pequim, que impôs três rodadas de testagens em massa aos 21 milhões de habitantes da cidade esta semana. Xangai tem estado sob diferentes graus de lockdown desde março, mas não chegou mais perto de erradicar a doença. Na verdade, imagens de grades de aço sendo erguidas ao redor de casas e distritos na cidade durante n fim de semana sugerem o oposto.
O choque sobre a demanda se tornou evidente na queda de 3,5% na comparação ano a ano das vendas do varejo em março, enquanto o índice Caixin de Gerentes de Compras de Serviços despencou para 40,2 no mesmo mês, um nível que, normalmente, representaria uma contração acentuada (como aconteceu no início da pandemia, a última vez em que atingiu um nível semelhante).
Ao mesmo tempo, os lockdowns estão travando números cada vez maiores do setor industrial da China, considerado a oficina do mundo no século 21. O PMI de manufatura de Caixin também recuou abaixo de 50 em março, à medida que fabricantes como a Tesla (SA:TSLA34)(NASDAQ:TSLA) e a Volkswagen (ETR:VOWG_p) foram forçados a suspender a produção por, no mínimo, três semanas, às vezes até mais. A Foxconn (TW:2354), a maior fabricante subcontratada do iPhone da Apple (SA:AAPL34)(NASDAQ:AAPL), evitou uma sina semelhante em Zhengzhou ao forçar os seus funcionários a trabalharem numa bolha, mas a Pegatron, uma fornecedora de iPhones de menor porte, foi obrigada a fechar as suas fábricas em Xangai e Kunshan.
Ao mesmo tempo, o congestionamento no porto de Xangai - provavelmente a instalação de exportação mais importante do mundo - está ameaçando causar novas interrupções na cadeia de fornecimento a varejistas e fábricas dos EUA e da Europa. De acordo com a consultoria FourKites, os volumes que saem de Xangai diminuíram, em média, cerca de 23% desde o início dos lockdowns, enquanto o "tempo de espera" para os navios que chegam mais do que dobrou.
Shelley Simpson, diretora comercial de logística da firma JB Hunt (NASDAQ:JBHT) JBHT, disse a analistas durante uma teleconferência na semana passada que a situação parece precária e que, provavelmente, irá "piorar muito nos meses de verão [do hemisfério norte]", apenas algumas semanas após parecer que a economia mundial estava começando a deixar as luxações causadas pela pandemia para atrás.
"Neste tipo de ambiente, basta um pouco de perturbação para que o contexto realmente mude por completo novamente", disse Simpson.
Parece haver pouca chance de uma mudança nos ânimos das autoridades no curto prazo. O Presidente Xi Jinping renovou o seu compromisso com a atitude num discurso observado com atenção esta semana, apesar de ter se comprometido a amenizar a abordagem a fim de amortecer os seus impactos sobre a economia dois meses atrás.
O que simplesmente deixa aos outros que recolham os cacos. Na terça-feira, o banco central interrompeu a queda do yuan e a sequência de vendas nas bolsas locais com a promessa de novas medidas em apoio à economia, mas um rali semelhante após a rodada anterior de medidas de apoio monetário e econômico esfriou rapidamente. Os índices de referência dos mercados de capitais da China estão sendo negociados nos menores níveis em dois anos, ou próximo a eles, com quedas de até 33% desde o início do ano.
Nos últimos anos, qualquer desaceleração na China normalmente significa problemas para os exportadores de commodities que alimentam o seu apetite insaciável por matérias-primas, produtos alimentícios e energia. Desta vez, isso pode ser mais um alívio do que um problema, levando-se em conta o superaquecimento de vários mercados de commodities.
No entanto, a importância da China para a economia mundial significa que qualquer dificuldade na capacidade das autoridades de conduzirem um pouso suave se fará sentir em todas as partes do globo. O mundo pode ser perdoado por achar que a Covid ficou para trás, mas a realidade é que – de uma forma ou de outra – a Covid ainda não deixou o mundo.