Por Patricia Zengerle e Jonathan Landay
WASHINGTON (Reuters) - Centenas de manifestantes favoráveis ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, invadiram o Capitólio, nesta quarta-feira, em uma tentativa de reverter a derrota eleitoral do republicano, forçando o Congresso a adiar por várias horas uma sessão para certificar a vitória eleitoral do democrata Joe Biden.
O Senado retomou a sessão à noite, depois que a polícia conseguiu retirar os manifestantes do local.
Com armas apontadas e gás lacrimogêneo, a polícia expulsou os apoiadores de Trump que desfilaram pelos salões do Congresso em cenas chocantes transmitidas para todo o mundo. Parlamentares precisaram ser escoltados para fora do plenário.
Um manifestante ocupou o plenário do Senado e gritou: "Trump ganhou a eleição". Manifestantes reviraram barricadas e entraram em conflito com a polícia, no momento em que milhares entravam na área do Capitólio.
A polícia declarou o prédio do Capitólio seguro pouco depois das 19h30 (horário de Brasília), mais de três horas depois da invasão.
Vídeos mostraram manifestantes quebrando janelas e policiais utilizando gás lacrimogêneo dentro do prédio. O chefe da Polícia Metropolitana de Washington, Robert Contee, disse que pessoas na multidão utilizaram químicos irritantes para atacar a polícia e que vários agentes ficaram feridos.
Uma pessoa morreu após ser baleada durante o caos, informou a polícia. O FBI disse ter desarmado dois dispositivos supostamente explosivos.
Foi o ataque mais grave ao icônico prédio desde que o Exército britânico o queimou em 1814, de acordo com a Sociedade Histórica do Capitólio dos EUA.
As cenas caóticas aconteceram após Trump, que antes das eleições se recusou a se comprometer com a transferência pacífica de poder caso perdesse, discursar diante de milhares de manifestantes, repetindo afirmações infundadas de que a eleição foi roubada por conta de fraudes generalizadas e irregularidades.
Biden, que derrotou Trump nas eleições de 3 de novembro e deve tomar posse no dia 20 de janeiro, disse que a atividade dos manifestantes "beira a sedição".
O ex-vice-presidente disse que os manifestantes que invadiram o Capitólio, quebraram janelas, ocuparam gabinetes, invadiram os salões do Congresso e ameaçaram a segurança de autoridades eleitas não realizaram um protesto, mas uma "insurreição".
"Eu peço que essa turba retroceda e permita que o trabalho da democracia continue avançando", acrescentou Biden, pedindo que Trump entrasse no ar em rede nacional para exigir "um final para este cerco".
Em um vídeo publicado no Twitter, Trump repetiu a alegação não comprovada de que o resultado da eleição foi fraudado, mas disse: "Vocês precisam ir para casa agora. Nós temos que ter paz. Nós temos que ter lei e ordem."
O Twitter depois restringiu o conteúdo, impedindo o compartilhamento do vídeo de Trump, e o Facebook e o YouTube retiraram completamente a publicação do ar, citando o risco de violência. O Twitter posteriormente suspendeu Trump por 12 horas.
ÚLTIMO RECURSO
O vice-presidente Mike Pence, que presidia a sessão conjunta do Congresso no momento da invasão, foi escoltado para fora do Senado.
O Congresso debatia um último recurso, liderado por parlamentares favoráveis a Trump, para desafiar os resultados da eleição, em um esforço que provavelmente deve também fracassar.
Críticos classificam a iniciativa de parlamentares republicanos como um ataque à democracia norte-americana, ao Estado de Direito e como uma tentativa de golpe legislativo.
A Polícia do Capitólio orientou parlamentares no plenário da Câmara a utilizarem as máscaras de gás instaladas embaixo de seus assentos e ordenou que eles se abaixassem ao chão para ficarem em segurança. Alguns agentes sacaram e apontaram suas armas enquanto alguém tentava adentrar o salão.
A polícia empilhou móveis contra as portas do recinto enquanto manifestantes tentavam arrombá-las, afirmou o deputado democrata Jason Crown na MSNBC.
Centenas de parlamentares da Câmara, funcionários e jornalistas foram evacuados para um local não revelado.
Autoridades eleitorais de ambos os partidos e observadores independentes disseram que não houve fraude significativa na eleição do dia 3 de novembro, vencida por Biden por mais de 7 milhões de votos populares.
Semanas se passaram desde que os Estados completaram a certificação da vitória de Biden por 306 votos do Colégio eleitoral, contra 232 de Trump. As inúmeras tentativas de Trump de reverter a vitória de Biden foram rejeitadas em tribunais por todo o país.
Trump havia pressionado Pence a descartar resultados eleitorais em Estados nos quais o atual presidente perdeu por uma margem estreita, embora Pence não tenha autoridade para fazê-lo.
"Nosso país já teve o bastante, e não vamos mais aguentar", disse Trump no comício.
A certificação no Congresso, que normalmente era uma formalidade, era esperada para durar várias horas, já que alguns parlamentares republicanos armaram uma tentativa de rejeitar algumas contagens de votos em Estados, incluindo o Arizona.
(Reportagem adicional de Daphne Psaledakis, Mark Hosenball, Doina Chiacu, Jonathan Allen, Susan Cornwell, Susan Heavey, Richard Cowan e Tim (SA:TIMS3) Ahmann)