Investing.com - O assunto de um possível colapso cataclísmico do dólar americano e a perda de seu status como moeda de reserva mundial está preocupando muitos economistas, mas o consenso é que esse cenário continua improvável.
Entretanto, não se deve esquecer que as preocupações com o dólar são baseadas em um fato muito real: os Estados Unidos são, de longe, o país mais endividado do mundo.
Com uma dívida total que agora ultrapassa 33.500 bilhões de dólares, os Estados Unidos são mais endividados do que a China, o Japão e a Alemanha (em segundo, terceiro e quarto lugares entre os países mais endividados do mundo) juntos.
No entanto, apesar de algumas manchetes alarmistas, os investidores parecem acreditar que essa situação não é um problema e que o governo dos EUA pode tomar emprestado e gastar indefinidamente, partindo do pressuposto de que o que não causou um problema até agora não causará um no futuro.
A reação dos mercados ao recente episódio que resultou no fato de o governo dos EUA ter evitado uma paralisação in-extremis é um bom exemplo. Os investidores se contentaram com um acordo temporário sobre os gastos para se tranquilizarem, sem saber, no momento, que se o Congresso não conseguir encontrar uma solução até 17 de novembro, o governo enfrentará novamente o risco de uma paralisação, dessa vez sem saída possível.
Daniel Lacalle, em um artigo recente publicado pelo Mises Wire, referiu-se a essa situação, dizendo que "a retórica parece ser a de que os governos e o setor público nunca deveriam ter de tomar decisões orçamentárias responsáveis, e que os gastos devem continuar indefinidamente".
Entretanto, não há como negar que a situação fiscal do governo dos EUA é insustentável, com o governo Biden acrescentando mais de US$ 500 bilhões à dívida do país somente em agosto.
O país está enfrentando uma avalanche de fatores adversos, como uma dívida galopante, déficits maciços e queda nas receitas federais.
Lacalle resumiu a situação da seguinte forma:
"O problema nos Estados Unidos não é a paralisação do governo, mas os gastos irresponsáveis e imprudentes com o déficit que os governos continuam a impor independentemente das condições econômicas."
E, no entanto, parece não haver vontade política para reduzir substancialmente os gastos, enquanto o país, além de seus gastos domésticos, está participando do esforço de guerra na Ucrânia e, sem dúvida, participará do esforço de guerra em Israel.
Lacalle também destacou que "de acordo com as projeções do próprio governo Biden, o déficit acumulado entre 2023 e 2032 seria de mais de 14.000 bilhões de dólares, sem recessão ou queda no emprego".
Ele também apontou que, somente em agosto de 2023, "a manutenção da dívida custará US$ 808 bilhões, ou 15% do total de gastos federais, de acordo com o Tesouro dos EUA", diante de "taxas de juros (que) estão subindo ao mesmo tempo em que o governo está rejeitando qualquer restrição orçamentária", o que ele descreveu como uma "bomba-relógio monetária".
E seja qual for o contexto econômico, é provável que a situação continue a piorar, já que quando a economia está crescendo e há quase pleno emprego, os governos anunciam mais gastos porque é "hora de tomar emprestado", como escreveu Krugman, enquanto gastam ainda mais para salvar a economia quando o contexto é negativo.
Entretanto, não importa o quão alto alguns economistas façam o alerta, a corrente dominante continua a ignorar a dívida crescente e os déficits cada vez maiores.
Lacalle ressaltou que o motivo pelo qual esse castelo de cartas ainda está de pé é o fato de o status do dólar como moeda de reserva mundial permitir que o governo dos EUA se safe, dando aos americanos uma falsa sensação de segurança.
No entanto, os últimos meses mostraram que muitos países, inclusive a China, estão se desfazendo de seus títulos em dólar, inclusive títulos do Tesouro, em uma escala mais ou menos maciça. Além disso, ao longo do ano, vimos um aumento acentuado no desejo dos BRICS de se libertarem do domínio do dólar.
Em outras palavras, a confiança que dá ao dólar seu status superior agora parece estar por um fio. Mas quando a confiança em uma moeda entra em colapso, o impacto é repentino e intransponível, como vários casos na história demonstraram...