Trump diz que só reduzirá tarifas se países concordarem em abrir mercados aos EUA
Investing.com – Os índices futuros de ações nos Estados Unidos operam em alta nesta quarta-feira, apoiados na sinalização positiva trazida pelo novo acordo comercial firmado entre Washington e Tóquio.
A Casa Branca descreveu o pacto como robusto, com destaque para a imposição de uma tarifa mais branda do que o inicialmente anunciado pelo presidente Donald Trump.
No radar corporativo, investidores aguardam os balanços da Alphabet (NASDAQ:GOOGL) e da Tesla (NASDAQ:TSLA), ambos programados para após o fechamento. Já os papéis da Texas Instruments (NASDAQ:TXN) recuam, após projeções trimestrais aquém do esperado.
No Brasil, o agronegócio calcula prejuízos da ordem de US$ 6 bilhões, caso entre em vigor a nova tarifa de 50% dos EUA sobre as nossas exportações.
1. Futuros avançam em Wall Street
Os contratos futuros dos principais índices acionários dos EUA operam em território positivo nesta manhã, impulsionados pelo anúncio de um novo pacto comercial entre os Estados Unidos e o Japão, que prevê tarifas mais moderadas do que as previamente propostas pela administração Trump.
Às 7h38 de Brasília, o futuro do Dow Jones subia 137 pontos, ou 0,3%, o S&P 500 futuro avançava 17 pontos, também 0,3%, enquanto o Nasdaq 100 ganhava 26 pontos, alta de 0,1%.
Na véspera, o mercado encerrou o dia sem direção única, refletindo a avaliação de uma nova leva de balanços corporativos. As ações da General Motors (NYSE:GM) sofreram forte desvalorização após a montadora reportar queda de mais de 30% na receita do segundo trimestre, impactada por um encargo de US$ 1 bilhão relacionado a tarifas comerciais.
Apesar disso, o otimismo com investimentos em inteligência artificial sustentou parte das ações de tecnologia de maior valor de mercado. Esse sentimento será testado hoje, com a divulgação dos números trimestrais da Alphabet e da Tesla.
Os investidores também monitoram os desdobramentos do cenário comercial, em especial com a aproximação do dia 1º de agosto, data marcada para o início da aplicação de tarifas recíprocas mais elevadas por parte dos EUA.
2. Acordo comercial entre EUA e Japão
O presidente Donald Trump confirmou a conclusão de um novo acordo comercial com o Japão, que prevê uma tarifa de 15% sobre produtos japoneses, percentual inferior ao inicialmente sugerido.
Trump declarou que o Japão investirá US$ 550 bilhões na economia americana, e que os Estados Unidos “reterão 90% dos lucros” gerados.
“O Japão abrirá seu mercado a produtos americanos, incluindo automóveis, caminhões, arroz, bens agrícolas e outros itens. Pagará tarifas recíprocas de 15%”, escreveu o presidente em uma rede social.
O pacto, considerado o mais relevante desde o anúncio da nova política tarifária em abril, foi firmado após reunião entre Trump e o principal negociador japonês, Ryosei Akazawa, na Casa Branca.
Embora inferior à tarifa de 25% inicialmente cogitada, a alíquota acordada não atende às exigências de isenção total solicitadas por Tóquio.
“O acordo elimina um fator de risco relevante para a economia japonesa”, afirmaram analistas da Capital Economics em relatório. Segundo as estimativas da consultoria, a medida reduzirá em aproximadamente um ponto percentual a tarifa média enfrentada pelos exportadores japoneses nos EUA.
3. Alphabet e Tesla divulgam balanços
Com o ambiente comercial ainda indefinido, os mercados voltam suas atenções para os balanços da Alphabet e da Tesla, os primeiros das chamadas “7 Magníficas” a reportarem seus números neste segundo trimestre.
As expectativas em torno da Alphabet se concentram nas atualizações sobre seus projetos de inteligência artificial, após o recente anúncio de investimentos robustos no setor. Investidores querem sinais de que os recursos estão sendo aplicados estrategicamente para proteger o núcleo de buscas e publicidade da empresa diante da ascensão de novos concorrentes em IA.
“Em relação ao Google, o sentimento está dividido: há preocupações com o futuro da busca diante da expansão dos chatbots de IA e de pressões regulatórias, mas também há confiança nos fundamentos sólidos em mercados estratégicos e na avaliação atrativa da ação”, destacaram analistas da Vital Knowledge.
A Tesla, por sua vez, permanece sob avaliação mais crítica, diante da queda nas entregas de veículos e do avanço de concorrentes no segmento automotivo. A situação se agravou com o fim dos créditos fiscais para energia solar e veículos elétricos, conforme previsto no projeto sancionado por Trump no último dia 4 de julho.
Ainda assim, a expectativa de novas fontes de receita por meio dos projetos de robótica e direção autônoma sustenta parte da valorização das ações da empresa. Para os analistas da Vital Knowledge, essa antecipação segue sustentando a cotação da Tesla “acima do que seria justificado apenas pelos fundamentos da divisão automotiva”. No acumulado do ano, os papéis recuam mais de 12%.
4. Ouro recua com maior apetite por risco
Os preços do ouro operam em leve baixa nesta quarta-feira, após os ganhos expressivos da semana, em meio ao aumento da tolerância ao risco observado após o acordo comercial entre EUA e Japão.
Apesar da correção, o metal precioso permanece a menos de US$ 100 do recorde histórico registrado em abril, refletindo a persistente incerteza em relação à política tarifária americana.
A proximidade da próxima reunião do Federal Reserve também eleva a cautela nos mercados, favorecendo certa demanda por proteção, ainda que o dólar tenha devolvido parte dos ganhos recentes.
O ouro à vista cedia 0,2%, a US$ 3.426,80 por onça, enquanto o contrato futuro recuava 0,1%, negociado a US$ 3.440,70/oz no momento da redação.
5. Agronegócio brasileiro calcula prejuízo com tarifa de Trump
A imposição de uma tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros ameaça comprometer as receitas do agronegócio e desorganizar cadeias de abastecimento em segmentos como café, carne bovina, suco de laranja e frutas frescas.
Um estudo conduzido por representantes do setor projeta perdas de até US$ 5,8 bilhões caso entre em vigor, a partir de 1º de agosto, a sobretaxa do governo americano.
O Cepea alerta que o impacto será mais severo no suco de laranja, cuja competitividade já era limitada por tarifas fixas, e que o café, essencial à indústria americana, enfrenta riscos sistêmicos caso não seja excluído da medida.
A carne bovina, que teve forte alta nas exportações aos EUA no primeiro semestre, já registra queda nos embarques de 80% entre abril e julho, enquanto frutas como manga e uva têm suas vendas postergadas diante da incerteza tarifária.
O Brasil, maior fornecedor de carne bovina ao mercado americano, havia registrado crescimento recorde de vendas no início de 2025, mas a elevação tarifária e o consequente aumento de preços para o importador já comprometem a competitividade do produto nacional.
Embora o setor ainda conte com alternativas de redirecionamento para outros mercados, o agronegócio brasileiro sente os impactos imediatos da perda de acesso preferencial a um de seus principais parceiros comerciais.