Investing.com - Após a agência de classificação de risco Fitch decidir rebaixar os ratings de longo prazo dos Estados Unidos para 'AA+' de 'AAA', com manutenção da perspectiva estável, especialistas acreditam que a medida tem impacto limitado, pois os fatores considerados já eram amplamente conhecidos pelo mercado.
O rebaixamento teve como base a deterioração da posição fiscal, erosão da governança e aumento da ocorrência de disputas de limite de dívida.
Dario Messi, especialista de pesquisa renda fixa do banco suíço Julius Baer, destaca que a Moody's é agora a única agência remanescente entre as três principais mantendo o status AAA para os EUA. A S&P a removeu a classificação no ano de 2011, também devido ao debate sobre o teto da dívida.
Messi lembra que os impasses no limite da dívida demonstram dificuldades de governança e pressionam a confiança. “De fato, os acordos de última hora para suspender ou aumentar os tetos da dívida certamente não são construtivos, especialmente considerando que a regra do limite da dívida é instrumentalizada por políticos nas negociações orçamentárias, enquanto a trajetória do nível da dívida é meramente o resultado do passado – e, portanto, acordado – legislação”, explica.
Para Messi, a implicação dessa mudança é limitada. “As notas do Tesouro dos EUA continuam sendo um dos ativos mais líquidos e seguros, pelo menos em termos de risco de contraparte”, pondera.
O estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves, afirma que a notícia tende a pesar nos mercados no curtíssimo prazo. No entanto, a “decisão reflete não um evento isolado, mas uma sucessão de fatores que não são novos ao mercado e que já eram considerados nos preços”.
“A Fitch baseia sua decisão em projeções acerca do gasto e crescimento americano, a dificuldade na redução estrutural do mesmo, e pontua o risco de recessão ao final de 2024. Mais uma vez, todos os fatores já percebidos pelo mercado. No principal ponto, a questão fiscal, o entendimento atual é que sim, esse é um tema crucial, mas que deve ser endereçado pelo novo governo em 2025, pós eleição de 2024”, pontua o estrategista.
Alves lembra que, quando algo semelhante ocorreu em 2011, o aumento da aversão ao risco global que favoreceu a valorização do dólar no mundo. O estrategista aponta que ainda a decisão foi questionada por uma série de economistas, entre eles, o ex-secretário do Tesouro dos EUA, Larry Summers, e o conselheiro-chefe econômico da Allianz (ETR:ALVG), Mohamed El-Erian.
O economista André Perfeito concorda que o dólar pode ser favorecido no curto prazo e avalia que “provavelmente o Federal Reserve vai moderar eventuais ajustes na sua taxa básica frente os riscos que o sistema financeiro e de crédito nos EUA podem enfrentar por um duplo aperto (piora de nota pela Fitch e alta de juros”.
Efeitos para o mercado brasileiro
A mudança resulta em um cenário é de maior risco. Assim, Perfeito acredita que as condições financeiras mais apertadas fariam o “trabalho sujo” para a Selic, o que corrobora o sentimento do economista de uma atitude mais expansionista do Banco Central brasileiro.
“Tudo mais constante o sinal é positivo para os mercados de capital brasileiros, na margem o Brasil está melhor e pode com isso atrair capitais de curto e médio prazos”, conclui.