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Lívio Ribeiro: China estaria enxugando gelo com políticas mal desenhadas

Publicado 19.02.2024, 14:43
© Reuters.
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Investing.com – Com uma vitória agridoce da China da conquista de atingir a meta de crescimento da economia no ano passado, nesse ano tende a ser ainda mais difícil chegar a um patamar parecido, o que demandaria maior nível de estímulos. Essa é a visão de Lívio Ribeiro, pesquisador especializado em China da Fundação Getulio Vargas (FGV) e sócio da BRCG, que falou sobre o tema em entrevista exclusiva ao Investing.com Brasil.

As políticas, em sua visão, estariam mal desenhadas, pois priorizariam melhorar a oferta, enquanto a demanda, com a crise de confiança no mercado imobiliário, mereceria um olhar mais atento. “As famílias que compravam imóvel não compram mais porque o preço está caindo e ele vai continuar caindo enquanto não houver demanda suficiente, e não compram porque há dúvida se imóvel vai ser entregue. A incorporadora da qual ela comprou hoje, ela pode não estar funcionando daqui a seis meses, oito meses quando o imóvel for entregue. Esses fatores, em específico, não foram tratados pelo governo”.

Para Ribeiro, a China está enxugando gelo. “O governo está enfrentando uma realidade nova para os padrões chineses, que é um profundo choque negativo de demanda, e ele continua tratando isso com um receituário tradicional da oferta. Não adianta, não funciona”, completa Ribeiro, que considera as medidas “mal desenhadas para lidar com o choque em curso”.

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Confira a entrevista na íntegra:

Investing.com – A expectativa é de que a economia chinesa deve continuar ainda um pouco menos aquecida do que era esperado anteriormente no ano passado?

Lívio Ribeiro – O cumprimento da meta de crescimento em 2023 foi uma vitória um pouco agridoce do governo porque foi possível conquistar um crescimento de 5,2%, mas ele não veio puxado pelo que as pessoas mais otimistas imaginavam. As famílias contribuíram, mas não contribuíram tanto quanto os mais otimistas supunham, o cenário foi de que o governo teve que fazer muito estímulo a fim de colocar a economia nessa taxa de crescimento.

Todas as questões que são desafios mais conjunturais ou estruturais ao crescimento econômico chinês, elas continuam presentes em 2024. O ajuste do mercado imobiliário está longe do fim. As famílias seguem muito temerosas, muito preocupadas com o futuro. A gente tem ventos externos que não são favoráveis à economia chinesa, especialmente na contraposição que a gente tem no mundo desenvolvido frente à China. Ainda há um processo que é um processo estrutural de decaimento da taxa de crescimento motivado por demografia, desinvestimento e insuficiente aumento de produtividade. Tudo isso valia em 2023 e tudo isso vale em 2024.

O governo vai ter dificuldade de chegar num crescimento no entorno de 5%. O mercado no ano passado apostava que o crescimento a meta ia ser em torno de 6%, a gente apostava que ia ser em torno de 5%. Nesse ano, o mercado aposta que a meta será em torno de 5%. O correto seria em torno de 4,5% e o razoável seria uma meta entre 4,5% e 5%.

O ponto é que crescer 5% neste ano é mais difícil do que foi no ano passado, por carregamento estatístico, por herança mais baixa para 2024, por desafios que estão se avolumando. Nossa projeção hoje é de crescimento e 4,4%. Evidentemente que, se o governo fizer mais impulso fiscal ou monetário, pode aumentar isso, mas o fato é que crescer em torno de 5% demandará um nível de impulso que vai além do que a gente já tem contratado para esse ano.

Inv.com – Com a repercussão da falência decretada da Evergrande (OTC:EGRNY), como você enxergou esse momento de transição do mercado? O governo realizou medidas para amenizar a situação para o mercado imobiliário, elas acabaram sendo suficientes, e como foi possível deixar que isso acontecesse?

Ribeiro – A falência da Evergrande, como foi decretada na Justiça de Hong Kong, ainda restam dúvidas se ela será decretada é na justiça na China Continental. É um debate que está em aberto lá também. Não é exatamente uma surpresa que a Evergrande tenha sido liquidada. A questão é que o mercado todo está com um problema muito sério, que é um problema de falta de confiança em tijolo, vamos chamar assim, é um problema eminentemente pelo lado da demanda.

E o governo continua fazendo políticas que são pelo lado da oferta, dando o crédito, dando fonte para as incorporadoras. Fica uma coisa até meio disfuncional, porque desenha políticas públicas que diminui a alavancagem das incorporadoras e agora está dando dinheiro para incorporadores. O fato é que não ataca o problema central.

As famílias que compravam imóvel não compram mais porque o preço está caindo e ele vai continuar caindo enquanto não houver demanda suficiente, e não compram porque há dúvida se imóvel vai ser entregue. A incorporadora da qual ela comprou hoje pode não estar funcionando daqui a seis meses, oito meses, quando o imóvel for entregue. Esses fatores, em específico, não foram tratados pelo governo.

Então o que está sendo feito, na verdade, é enxugar gelo. Eu colocaria esse argumento de maneira até mais ampla: o governo está enfrentando uma realidade nova para os padrões chineses, que é um profundo choque negativo de demanda, e ele continua tratando isso com um receituário tradicional da oferta. Não adianta, não funciona. Então esse é o grande desconforto que eu tenho atualmente, que são muitas políticas, mas elas parecem mal desenhadas para lidar com o choque em curso.

Inv.com – Você enxerga riscos para relações com o Brasil e para o comércio entre os países?

Ribeiro – Nossa grande questão, não é nem um problema, é que a China tem uma pauta muito concentrada. Cinco produtos respondem por 85% ou 90% das vendas. Então qualquer choque em algum desses mercados tem o impacto de afetar nossas vendas para a China.

O que mais saiu do trilho de fato no ano passado foi a discussão do minério de ferro, porque a gente teve mais desaceleração no mercado imobiliário e as vendas de minérios subiram em decorrência do aumento da produção de aço na China. Essa produção de aço vai continuar forte em 2024, mas é um cenário que não tem muita sustentação a médio prazo, na medida em que não vai ter todo o aço no mundo sendo produzido na China, em algum momento até pela diminuição da demanda interna, tende a diminuir. Não é para algo para 2024.

A não ser que exista um 'capotamento' da economia, que eu acho muito pouco provável, a gente continua com um ritmo de vendas relevante. Pode ter uma queda, um pouquinho, nada fora do normal, alguma consolidação, mas nada que surgira um colapso das vendas para a China nos cenários mais prováveis. Lembrando que o desempenho comercial do ano passado foi muito forte e a gente espera que seja um pouquinho pior nesse ano, mas não é nada que vai mudar drasticamente o nosso cenário para a balança comercial do ano.

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