BRASÍLIA (Reuters) -Empossado para seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste domingo que a democracia se mostrou a grande vitoriosa nas eleições deste ano, prometendo punição a quem tentou "subjugar a nação" e aos responsáveis pelo que chamou de "genocídio" durante a pandemia de Covid-19.
"Foi a democracia a grande vitoriosa nesta eleição, superando a maior mobilização de recursos públicos e privados que já se viu; as mais violentas ameaças à liberdade do voto, a mais abjeta campanha de mentiras e de ódio tramada para manipular e constranger o eleitorado", discursou na cerimônia de posse no plenário da Câmara dos Deputados.
"Sob os ventos da redemocratização, dizíamos: ditadura nunca mais! Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer: democracia para sempre!", bradou.
Lula venceu por uma pequena margem o então candidato à reeleição Jair Bolsonaro(PL), que jamais reconheceu a derrota e deixou o Brasil rumo à Flórida na sexta-feira, não passando a faixa ao petista.
Na esteira de uma das eleições mais acirradas da história, o Brasil ainda vive sob tensão, realizando uma posse com esquema de segurança inédito enquanto pequenos grupos bolsonaristas pedem uma ilegal intervenção das Forças Armadas diante de instalações militares em várias cidades.
Em seu discurso, o petista negou qualquer intenção revanchista, mas frisou que o diagnóstico levantado pela equipe de transição sobre a situação da máquina pública é "estarrecedor" e prometeu que os envolvidos em irregularidades, omissões e desvirtuamento do Estado em nome de "um projeto autoritário de poder" responderão por seus atos.
"Não carregamos nenhum ânimo de revanche contra os que tentaram subjugar a nação a seus desígnios pessoais e ideológicos, mas vamos garantir o primado da lei", alertou.
"Quem errou responderá por seus erros, com direito amplo de defesa, dentro do devido processo legal. O mandato que recebemos, frente a adversários inspirados no fascismo, será defendido com os poderes que a Constituição confere à democracia", disse.
COVID-19
No discurso da posse, Lula comentou ainda o elevado número de mortes em decorrência da Covid-19 no Brasil, apesar da conhecida estrutura do sistema público de saúde.
"Este paradoxo só se explica pela atitude criminosa de um governo negacionista e insensível à vida. As responsabilidades por este genocídio hão de ser apuradas e não devem ficar impunes. O que nos cabe, no momento, é prestar solidariedade aos familiares de quase 700 mil vítimas."
Lula não mencionou o nome de Bolsonaro, que responde a quatro investigações no Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo uma relacionada à gestão da pandemia, minimizada pelo então presidente, que se opôs a medidas de isolamento social.
No início de dezembro, a área jurídica da chapa de Lula entrou na Justiça eleitoral com duas ações para investigar Bolsonaro por ataques ao sistema eleitoral --ele questionou sem provas as urnas eletrônicas-- e abuso de poder, por causa de uma série de medidas e benefícios aprovados em período eleitoral.
(Texto de Maria Carolina Marcello. Edição de Flávia Marreiro)