Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil confirmou nesta quarta-feira o primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus, surgido no final do ano passado na China, em um paciente de São Paulo que esteve na Itália, país europeu mais afetado pelo surto, responsável também por acentuadas perdas nos mercados financeiros.
Apesar da chegada ao Brasil do coronavírus --que já infectou cerca de 80 mil pessoas e matou mais de 2.700, a maioria na China-- o governo federal descartou a adoção de medidas restritivas, como a interrupção de voos, alegando que a medida tem pouca eficácia.
Em entrevista coletiva em Brasília, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que o paciente, um homem de 61 anos, está em boas condições clínicas e atualmente em isolamento domiciliar. Pessoas que tiveram contato com ele estão sendo monitoradas, acrescentou o ministro. Ele chegou ao Brasil na sexta-feira, depois de passar um período na Itália, país que já registrou 12 mortes por causa da doença
O Brasil é o primeiro país latino-americano a confirmar um caso do novo coronavírus.
"É mais um tipo de gripe que a humanidade vai ter que atravessar. Das gripes históricas com letalidade maior, o coronavírus se comporta a menor (letalidade) e tem transmissibilidade similar a determinadas gripes que a humanidade já superou", disse Mandetta.
"Nosso sistema já passou por epidemias respiratórias graves. Iremos atravessar mais esta, analisando com os pesquisadores e epidemiologistas brasileiros, qual é o comportamento desse vírus em um país tropical."
Segundo o ministro, o caso foi identificado no hospital Albert Einstein e confirmado em menos de 24 horas pelo laboratório do Instituto Adolpho Lutz.
O Ministério da Saúde também está monitora 30 pessoas que estiveram com ele em uma reunião familiar no domingo --entre elas a esposa do paciente--, além de 16 pessoas que se sentaram perto dele na aeronave que o trouxe ao Brasil. Antes de retornar ao país, o homem fez uma escala na França.
Mandetta defendeu a decisão de manter o paciente em isolamento domiciliar, alegando que como ele não apresenta sintomas graves, mantê-lo em ambiente hospitalar colocaria em risco pacientes já debilitados e que necessitam de internação.
No momento, o governo brasileiro monitora 20 casos suspeitos --12 deles de pessoas que vieram da Itália--, um deles de uma pessoa que teve contato com o paciente confirmado.
Na segunda-feira, o governo brasileiro incluiu Itália, Alemanha e França na lista de países de origem de viajantes que podem servir de alerta em caso de sintomas respiratórios. De acordo com o ministro da Saúde, o protocolo para inclusão é mais de cinco casos de transmissão interna de coronavírus.
Mandetta disse ainda que, com a confirmação do caso no Brasil, o segundo no Hemisfério Sul juntamente com um paciente da Argélia, será possível analisar o comportamento do vírus num clima diferente do que vigora no Hemisfério Norte.
"Nós não sabemos ainda como o coronavírus irá se comportar em um país tropical, com temperaturas mais elevadas. Também o nosso inverno na Região Sul está se aproximando, e a Região Sul costuma ter mais casos em epidemias de gripe, então vamos agora estruturar o laboratório no Rio Grande do Sul", disse o ministro.
O novo coronavírus também teve forte impacto nos mercados financeiros brasileiros, que ficaram fechados durante o Carnaval, período em que as bolsas de valores no exterior registraram fortes quedas por causa da epidemia.
O dólar fechou em alta de 1,16% diante do real, vendido a 4,4441 reais. Já o Ibovespa, índice de referência da B3, despencava mais de 7% perto do fechamento do pregão.
PANDEMIA
Mandetta afirmou que a confirmação do caso não altera o status sanitário do Brasil, já que o governo havia declarado emergência de saúde de interesse nacional para realizar os preparativos da quarentena de brasileiros repatriados da China e que foram liberados no fim de semana.
O governo ainda pretende ampliar a comunicação sobre os sintomas e os serviços de saúde no Brasil nos aeroportos e portos, mas não há medidas planejadas de testar viajantes para febre, por exemplo, ou suspender a chegada de voos.
"Não existe eficácia em tentar fechar fronteiras. A medida mais eficaz de controle é termos agilidade", disse o ministro. "Não existe nenhuma tecnologia que possa nos dizer que uma pessoa que estava em um avião está ou não com a doença. O que vamos fazer e aumentar é a comunicação com essas pessoas que estão chegando."
Até agora, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, 34 países já têm casos confirmados de coronavírus, chegando a 80.239, com uma letalidade de 3,4%.
Mandetta afirmou que, como já existem casos confirmados em várias regiões do planeta, a OMS deve estar se preparando para declarar o coronavírus uma pandemia, o que ainda não foi feito.
O ministro reconheceu uma preocupação com o fornecimento de insumos, como máscaras, mas a pasta realizou uma licitação para aquisição de materiais que serão em breve distribuídos pela rede de saúde.
(Reportagem adicional de Eduardo Simões, Luana Maria Benedito e Peter Frontini, em São Paulo; Edição de Maria Pia Palermo)