Por Andrea Shalal e David Lawder
WASHINGTON (Reuters) - A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, alertou autoridades nesta quinta-feira contra o perigo de uma nova Guerra Fria no momento em que eles intensificam os esforços para proteger suas cadeias de oferta industrial, em meio às tensões geopolíticas entre as grandes potências.
"A questão é: podemos estar mais determinados a aumentar a segurança da oferta, mas não levar o mundo tão longe a ponto de entrarmos em uma segunda Guerra Fria?", disse Georgieva em coletiva de imprensa nas reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial, em Washington. "Eu acredito que é possível."
Georgieva, que cresceu na Bulgária durante a era soviética, disse que vivenciou a Guerra Fria e seu impacto ao eliminar pessoas talentosas da economia mundial, e não quer que isso se repetisse.
Na quarta-feira, os líderes financeiros do G7 se comprometeram a dar aos países de baixa e média rendas um papel maior na diversificação das cadeias de oferta para torná-los mais resilientes e sustentáveis.
Seu comunicado não mencionava a China pelo nome, mas a linguagem de cadeia de oferta se encaixa nos esforços de "contar com amigos" defendidos pela secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, e outros líderes ocidentais para negociar mais com aliados e tornar-se menos dependente da potência manufatureira asiática em baterias, minerais, semicondutores e outros bens estratégicos.
O FMI alertou neste mês que o aumento das tensões geopolíticas e a fragmentação resultante da economia global poderiam aumentar os riscos à estabilidade financeira, potencialmente reduzindo a produção econômica global entre 0,2% e 7%.
Georgieva disse que as autoridades podem ter que aceitar que o desenvolvimento de novas cadeias de ofertas mais separadas envolveria algum custo, mas poderiam manter esses custos baixos continuando a trabalhar juntos por meio de instituições como o FMI.
“A segurança da oferta e o funcionamento confiável das cadeias globais estão assumindo um lugar novo e de maior prioridade nas discussões econômicas”, disse ela, citando o impacto da pandemia de Covid e da guerra na Ucrânia.
"Se não formos mais racionais, as pessoas de todos os lugares ficarão em situação pior. A classe média de cada país pagará um preço", disse Georgieva. "Portanto, um pouco mais de cabeça fria nos levará um longo caminho."
RECUPERAÇÃO DA CHINA
O FMI há muito alerta para os custos elevados, atritos econômicos e perdas de produção do PIB associados à fragmentação da economia global em blocos geopolíticos, com democracias lideradas pelos EUA de um lado e China e outros Estados autocráticos de outro. Isso pode levar a sistemas de tecnologia concorrentes e comércio reduzido.
Um novo documento de trabalho do FMI mostrou que tais tensões crescentes também podem levar a saídas de capital, incluindo investimento direto, com riscos particularmente altos para economias de mercados em desenvolvimento e emergentes.
O FMI prevê uma forte recuperação da China em 2023, devido à abertura pós-Covid, e será responsável por cerca de um terço do crescimento global este ano, disse Georgieva.
O presidente do Banco Mundial, David Malpass, disse que as fortes previsões de crescimento para a China também refletem os "esforços explícitos" do país asiático para reconstruir as cadeias de oferta e ter um processo de abertura mais rápido.