Por Philip Blenkinsop
BRUXELAS (Reuters) - Apenas uma semana depois de saudar a aprovação de um acordo comercial com a Nova Zelândia como um sinal de que as ambições de livre comércio da União Europeia estavam de volta aos trilhos, um obstáculo em um acordo planejado entre a UE e o Mercosul representa um novo empecilho.
A UE e o bloco sul-americano formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai não poderão concluir as negociações de livre comércio nesta semana, como era previsto, com o novo governo argentino precisando aprovar as questões pendentes.
A meta clara da Comissão Europeia era concluir as negociações até o final do ano, um objetivo compartilhado pelo Brasil, que ocupa atualmente a presidência rotativa do grupo.
Essa meta parece cada vez mais improvável, à medida que as atenções de Bruxelas se voltam para a cúpula dos líderes da UE na próxima semana, com foco na Ucrânia. O novo governo argentino também precisará se acomodar.
A futura ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, disse à Reuters que o novo governo deseja fechar um acordo entre a UE e o Mercosul e que as negociações continuarão.
"E esperamos que, um dia, de alguma forma, isso seja feito", afirmou.
O presidente francês, Emmanuel Macron, sugeriu fortemente que o "algum dia" talvez nunca chegue, dizendo aos repórteres na cúpula do clima COP28, em Dubai, no sábado, que ele é contra o acordo.
A França tem sido a principal crítica da UE ao acordo UE-Mercosul, insistindo para que sejam acrescentados compromissos ambientais e relutando em incomodar seus agricultores ao concordar com o aumento das importações de carne bovina.
A Comissão Europeia disse que os negociadores da UE e do Mercosul estavam envolvidos em discussões "intensas e construtivas" e que haviam feito progressos substanciais.
"As negociações continuarão em um espírito construtivo com a ambição de serem concluídas o mais rápido possível", afirmou um porta-voz, sem fazer referência a qualquer prazo.
JANELA
Bruxelas tem falado de uma janela de oportunidade única para salvar o acordo UE-Mercosul, que foi concluído em 2019, mas paralisado pelas exigências da UE de compromissos sobre o desmatamento da Amazônia e as mudanças climáticas.
Os defensores dizem que a UE precisa cada vez mais de acordos comerciais com parceiros confiáveis devido à invasão da Ucrânia pela Rússia e ao desejo do bloco de reduzir sua dependência da China em relação às matérias-primas. Um acordo UE-Mercosul seria o maior do bloco até o momento, removendo 4 bilhões de euros de tarifas de importação sobre seus produtos.
Se as negociações entrarem em um 25º ano em 2024, a janela de oportunidade começará a se fechar com a aproximação das eleições para o Parlamento Europeu. As presidências da UE e do Mercosul por Espanha e Brasil, os maiores defensores do acordo, também terão terminado.
Andre Sapir, membro sênior do think tank Bruegel, de Bruxelas, disse que é possível chegar a um bom acordo, mas havia razões para as negociações entre a UE e o Mercosul terem durado mais de 20 anos. As relações Brasil e Argentina eram difíceis, enquanto na Europa a Alemanha queria vender mais produtos manufaturados e a França estava nervosa com o possível aumento das importações de produtos agrícolas.
"Depois vieram esses elementos adicionais de clima e também de matérias-primas", declarou ele. "Mesmo para os padrões da UE, isso é complicado."
(Reportagem adicional de Michel Rose, em Paris, e Jorgelina do Rosario, em Buenos Aires)