Taxas dos DIs sobem com receio sobre a área fiscal e ameaças de Trump à China

Publicado 10.10.2025, 16:49
Atualizado 10.10.2025, 16:56
© Reuters.

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a sexta-feira em alta, em especial entre os contratos com prazos mais longos, com a curva a termo refletindo receios dos investidores com a política fiscal brasileira e as novas ameaças tarifárias do presidente dos EUA, Donald Trump, à China.

Em meio à disparada do dólar para perto dos R$5,50, a taxa do DI para janeiro de 2028 estava em 13,41% no fim da tarde, em alta de 1 ponto-base ante o ajuste de 13,4% da sessão anterior. A taxa para janeiro de 2029 marcava 13,4%, ante o ajuste de 13,343%.

Entre os contratos longos, o contrato para janeiro de 2035 tinha taxa de 13,805%, em alta de 9 pontos-base ante 13,719%.

A sexta-feira foi, na visão de alguns analistas, uma espécie de “tempestade perfeita” para os ativos brasileiros, com notícias negativas vindas tanto do Brasil quanto do exterior.

Internamente, o arquivamento pelo Congresso na quarta-feira da medida provisória 1303, que tratava da taxação de aplicações, seguia dando suporte à curva, em meio a leitura de que o desfecho foi negativo para o esforço do governo de equilibrar as contas. A MP teria impacto fiscal de R$14,8 bilhões em 2025 e de R$36,2 bilhões em 2026, considerando as novas receitas previstas e os cortes de despesas, conforme o Ministério da Fazenda.

Durante a manhã, o mau humor dos investidores se intensificou após reportagem do jornal O Estado de S. Paulo indicar que o pacote de medidas do governo para 2026 poderia somar R$100 bilhões, sem que as receitas estejam garantidas. Na conta entram medidas como a ampliação da isenção do Imposto de Renda, a distribuição de gás de cozinha, a isenção nas contas de energia para uma parcela das famílias e o pagamento de bolsas para estudantes -- todos programas já anunciados anteriormente pelo governo e previstos no projeto orçamentário para o próximo ano.

Ainda que não haja novas medidas, os agentes demonstravam preocupação de que o ano de 2026 seja marcado por ações para impulsionar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com impacto negativo para as contas públicas.

Para piorar o cenário, perto do meio-dia Trump ameaçou aumentar as tarifas comerciais contra a China e cancelar uma reunião planejada com o presidente chinês, Xi Jinping.

Ele acusou a China de manter a economia global refém, depois que o país asiático expandiu drasticamente seus controles de exportação de terras raras, na quinta-feira.

“O mercado brasileiro entrou em pânico pouco antes do (fator) global. Mas depois da notícia de que Trump pensa em aumentar as tarifas da China, a curva abriu e o dólar foi mais para cima”, pontuou a analista Laís Costa, da Empiricus Research. “O Brasil opera China”, acrescentou, em referência ao impacto da fala de Trump sobre os ativos brasileiros.

Neste cenário, na ponta longa da curva -- onde geralmente a atuação dos investidores estrangeiros é maior --, a taxa do DI para janeiro de 2035 marcou a máxima de 13,935% às 14h08, em alta de 22 pontos-base ante o ajuste da véspera. Até o encerramento da sessão regular as taxas desaceleraram os ganhos, mas ainda assim terminaram no positivo na maior parte dos vencimentos.

O movimento era contrário ao dos Treasuries, cujos rendimentos cediam em meio à busca pela segurança dos títulos norte-americanos.

Pela manhã, durante evento de lançamento de um novo modelo de crédito imobiliário, em São Paulo, Lula chegou a criticar a rejeição da MP sobre taxação, reiterando o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal. Os comentários, no entanto, não reduziram o estresse na curva de juros, ampliado à tarde pelas declarações de Trump.

No mesmo evento de São Paulo, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou o compromisso da instituição com a busca da meta contínua de inflação, de 3%. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo espera que no fim de 2026 as condições de política monetária "estejam substancialmente diferentes das atuais".

Perto do fechamento da sessão a curva brasileira precificava em 97% a probabilidade de manutenção da taxa básica Selic em 15% ao ano na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, no início de novembro.

Às 16h38, o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- despencava 10 pontos-base, a 4,051%.

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