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Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar à vista fechou perto da estabilidade ante o real nesta quinta-feira, com a moeda brasileira registrando um desempenho melhor que a maioria de seus pares, conforme o diferencial de juros ainda grande entre Brasil e Estados Unidos contribuiu para proteger a divisa das pressões domésticas e externas.
O dólar à vista fechou em alta de 0,08%, a R$5,4771.
Às 17h11, na B3 (BVMF:B3SA3), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,05%, a R$5,493 na venda.
Os movimentos da moeda brasileira variaram em uma faixa estreita na sessão, enquanto globalmente o dólar avançava sobre divisas fortes e emergentes na esteira de reajustes na perspectiva para a política monetária do Federal Reserve.
Um dia antes de aguardado discurso do chair do Fed, Jerome Powell, no simpósio econômico de Jackson Hole, promovido pelo banco central dos EUA, os mercados foram surpreendidos com uma pesquisa PMI, da S&P Global, que mostrou que o setor industrial do país retomou o crescimento em agosto.
Com isso, operadores reduziram a 70% a chance de o Fed retomar os cortes na taxa de juros a partir de setembro, segundo dados da LSEG, ante uma probabilidade de 84% no dia anterior. A mudança impulsionou o dólar, que se beneficia de um patamar mais alto para os custos dos empréstimos.
"O cenário da economia norte-americana é bastante complexo e incerto, tem dúvidas importantes, porque a gente ainda não entende muito bem quais são as mudanças que estão acontecendo na economia", disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
"Por isso o discurso de Powell vai ser importante. Em Jackson Hole, ele costuma trazer mensagens importantes sobre a política monetária, e os investidores querem saber como é que ele está enxergando esse balanço de riscos para o país."
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,44%, a 98,660.
No Brasil, a pressão externa do dólar era controlada pelo elevado diferencial de juros entre o país e os EUA, o que favorece o uso da divisa brasileira em estratégias de "carry trade" de investidores estrangeiros.
Enquanto o Fed parece a caminho de cortar os juros, o Banco Central tem indicado que a taxa Selic, agora em 15%, permanecerá elevada por tempo bastante prolongado.
"Mercado vem colocando prêmio de risco no Brasil de forma geral, mas o câmbio não vem sofrendo tanto. Subiu pouco para todos os riscos no radar. O custo de apostar contra é muito alto por conta do diferencial de juros", afirmou Marcelo Bacelar, gestor de portfólio da Azimut Brasil Wealth Management.
Esse cenário permitiu ainda uma proteção do real diante de outro risco local: a percepção de agravamento no impasse comercial entre Brasil e EUA.
Desde a decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), de vetar que cidadãos brasileiros sejam afetados por leis estrangeiras relacionadas a atos cometidos no Brasil, o mercado tem demonstrado receios de uma resposta do lado norte-americano que possa impactar as operações de bancos nacionais.
Os agentes também veem menos espaço para o Brasil negociar a tarifa de 50% imposta pelos EUA. A decisão de Dino indicou, na prática, que o ministro Alexandre de Moraes não poderá sofrer as consequências das sanções econômicas impostas por Washington a ele.
O dólar chegou a disparar ante o real na terça-feira, com o mercado reagindo à decisão de Dino, mas, desde então, não tem acumulado ganhos amplos ante a moeda brasileira.
Na cotação máxima da sessão, o dólar atingiu R$5,4953 (+0,41%), na primeira hora de negociações. A mínima da moeda foi de R$5,4667 (-0,11%), às 10h36.
Pela manhã, o Banco Central vendeu 35.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 1º de setembro de 2025.