Por Fabricio de Castro
(Reuters) -O dólar à vista fechou em alta ante o real pela quinta sessão consecutiva nesta sexta-feira, ainda que duas intervenções do Banco Central no mercado, por meio de leilões de moeda, tenham diminuído a pressão, em um dia marcado pelos receios com o equilíbrio fiscal no Brasil e pelo avanço da moeda norte-americana também no exterior.
O dólar à vista fechou em alta de 0,24%, cotado a 5,6363 reais. A moeda avançou em todos os dias desta semana, acumulando avanço de 2,86% no período. Em agosto, porém, a divisa ainda contabilizou baixa de 0,34%.
A moeda norte-americana abriu a sessão em baixa no Brasil, após o Banco Central ter anunciado na véspera um leilão de até 1,5 bilhão de dólares no mercado à vista de câmbio nesta sexta-feira, das 9h30 às 9h35.
A oferta de dólar à vista buscou atender demanda atípica por moeda de parte do mercado.
Isso ocorreu porque uma nova versão do índice de ações MSCI Global Standard passa a vigorar no fechamento desta sexta-feira, incluindo, no caso do Brasil, papeis de Nubank (BVMF:ROXO34), XP (BVMF:XPBR31), Embraer (BVMF:EMBR3), Stone (NASDAQ:STNE), PagBank e Inter. Como alguns fundos espelham este índice, houve uma demanda adicional por dólares, para compra dessas ações no exterior.
Na operação, o BC vendeu o total de 1,5 bilhão de dólares, mas ainda assim as cotações migraram para o território positivo e renovaram máximas do dia, reagindo a uma série de fatores. Depois de atingir a mínima de 5,5755 reais (-0,84%) às 9h00, na abertura, o dólar à vista marcou a máxima de 5,6936 reais (+1,26%) às 10h05, já após o leilão.
Entre os fatores estavam o avanço do dólar também no exterior e a disparada das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) com prazos mais longos, em meio aos temores do mercado quanto ao equilíbrio fiscal do país e quanto ao controle da inflação.
Profissionais ouvidos pela Reuters pontuaram que a forte adição de prêmios de risco na curva de juros brasileira nesta sexta-feira foi acompanhada pela colocação de mais prêmios também no mercado de câmbio, o que deu força às cotações do dólar.
Além disso, a disputa pela formação da Ptax de fim de mês levava os investidores comprados a impulsionar as cotações pela manhã. Taxa de câmbio calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, investidores comprados (posicionados na alta do dólar) e vendidos (posicionados na queda) tentam direcionar as cotações de acordo com seus interesses.
Um operador citou ainda que, após o leilão de moeda à vista, parte do mercado também passou a “testar” se o BC retornaria ao mercado caso as cotações do dólar disparassem.
O BC acabou retornando ao mercado no início da tarde, ao anunciar um leilão de 30.000 contratos de swap cambial, equivalentes a 1,5 bilhão de dólares, para entre 12h50 e 13h. Na operação -- cujo efeito é equivalente à venda de dólares no mercado futuro -- o BC colocou 15.300 contratos, ou 765 milhões de dólares.
Após a segunda intervenção do BC, o dólar à vista desacelerou os ganhos, mas não o suficiente para retornar ao campo negativo, encerrando a jornada com alta de 0,24%. No mercado futuro, porém, o dólar para outubro -- que passou a ser o mais líquido nesta sexta-feira -- cedia 0,48% perto do fechamento, para 5,6220.
Às 18h15, o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,36%, a 101,720.
(Edição de Isabel Versiani e Alexandre Caverni)